No dia de hoje, acontece o aniversário daquela que foi a maior crise financeira global. Ocorrida em 24 de outubro de 1929, hoje faz 90 anos de um período extremamente turbulento, popularmente conhecido como “a quinta-feira negra”.
O evento foi o pontapé inicial de um efeito dominó devastador, tanto para o mercado financeiro, quanto para a economia norte-americana, tendo impactado o mundo inteiro.
A bolsa de valores de Nova York entrou num violento crash pouco depois de o índice Dow Jones registrar máxima histórica um mês antes, em setembro de 1929, pegando vários investidores no contrapé. As ordens de vendas maciças na quinta-feira deram origem a uma espiral negativa, incentivando outros acionistas ainda em posição comprada a desmontar suas posições desesperadamente.
O que levou à Grande Depressão?
Contribuiu para a potência do crash de 1929 o fato de vários investidores estarem especulando, na época, com dinheiro emprestado. Estima-se que os empréstimos para operar ações chegou a ultrapassar mais da metade de todo o dinheiro que circulava na economia norte-americana.
Em 1929, 1.548.707 clientes tinham contas nas 29 bolsas de valores americanas. Numa população de 120 milhões de pessoas, quase 30 milhões de famílias tinham uma associação ativa com a bolsa, e um milhão de investidores poderiam ser considerados especuladores.
Breve reflexão:
Tais números são assustadores, principalmente, quando vistos sob a perspectiva da economia brasileira, que, até hoje, possui apenas uma bolsa de valores e somente alcançou 1 milhão de CPFs cadastrados na bolsa em abril de 2019.
Voltando….
Como os preços das ações não paravam de subir, cada vez mais pessoas entravam para o mercado com a intenção de obter dinheiro rápido e fácil. Entre 1924 a 1929, o índice Dow Jones disparou mais de 300%. Histórias como as de cowboys do meio-oeste dos Estados Unidos enriquecendo com ações ao invés de focar no agronegócio circulavam em Wall Street. Tal fato atraía cada vez mais pessoas com baixo (ou nenhum) conhecimento sobre economia/mercado para o movimento de euforia na bolsa de valores.
O fato de muitos investidores estarem alavancados, sem dinheiro para cobrir chamadas de margem, forçou liquidação das posições compradas por parte dos bancos/corretoras, retroalimentando as vendas no mercado. Quanto mais as ações caíam, mais chamadas de margem os investidores levavam, forçando novas liquidações de posição, o que por sua vez pressionava ainda mais as ações para baixo.
Quando o sino tocou na histórica abertura da black thursday, um verdadeiro pandemônio já tomava conta dos arredores de Wall Street. As pessoas não conseguiam entrar na bolsa de valores de Nova York. Investidores quebrados gritavam e berravam pelas ruas, totalmente fora de controle. Testemunhas na época relataram que parecia um hospício.
Muitos norte-americanos estavam com quase todo o patrimônio alocado em ações. Por outro lado, as pessoas que tinham alocado capital em outras classes de ativo pararam de gastar dinheiro, assustadas com o pânico de Wall Street. O efeito da perda de riqueza das famílias expostas em ações, somado à defesa natural daqueles que ainda tinham patrimônio em outros ativos, levou a economia para uma profunda depressão. Houve queda significativa na circulação de capital, quebrando milhares de bancos, indústrias e até pequenas lojas de bairro.
Quais foram as consequências da crise?
A Grande Depressão trouxe inúmeras consequências, tanto para a economia norte-americana, quanto global. Nos Estados Unidos, o desemprego foi de 3,2% para 24,9% em 1933, e 26,7% no ano seguinte, algo em torno de 2 milhões de trabalhadores. Houve, ainda, um momento em que 34 milhões de homens, mulheres e crianças não possuíam renda nenhuma, sendo que essa cifra excluía as famílias rurais, que também sofreram um golpe duríssimo.

As rendas urbanas desabaram, escolas e universidades fecharam ou faliram, e a subnutrição subiu 20%, algo que nunca havia acontecido antes na história dos Estados Unidos.
Já no Brasil, as consequências se deram principalmente em relação ao café, principal produto da economia brasileira à época, que tinha os EUA como maior comprador. Com a crise, a importação deste produto diminuiu muito e o preço do café brasileiro caiu. Para que não houvesse uma desvalorização excessiva, o governo brasileiro comprou e queimou toneladas de café. O objetivo desta medida era diminuir a oferta, a fim de se manter o preço da commoditie.
O New Deal e a intervenção estatal
Apenas em 1933, o então presidente norte-americano, Franklin Delano Roosevelt, lançou um programa chamado New Deal. Por meio deste, foram tomadas uma série de medidas econômicas e sociais, com o objetivo de recuperar a economia norte-americana. Exemplos delas são:
Obras públicas
O governo dos EUA investiu, principalmente, na construção de obras de infraestrutura, hospitais, escolas e outros equipamentos públicos. O principal objetivo destas medidas consistia na geração de empregos, vez que o desemprego beirava os 30%.
Reforma do sistema bancário e monetário
O governo dos EUA, através da modificação e criação de leis, passou a ter poderes de controle e fiscalização sobre o mercado financeiro. O objetivo era evitar fraudes financeiras, especulações e diminuir os riscos de operação dos bancos e demais agentes financeiros.
Controle de preços e produção das empresas
O New Deal promoveu a fiscalização sobre os estoques das empresas, para que estes não aumentassem a ponto de gerar risco operacional, levando-as à falência. Os preços das mercadorias também foram controlados pelo governo, a fim de evitar o aumento da inflação.
Incentivos agrícolas
Foram feitos subsídios, empréstimos e outras medidas voltadas para o aumento da atividade agrícola das grandes propriedades e da agricultura familiar. Além de aumentar a produção de gêneros agrícolas, tais medidas visavam aumentar o número de empregos no campo e estancar o êxodo rural, que estava gerando problemas sociais nos grandes centros urbanos.
Além dessas searas, o governo voltou-se também áreas sociais, com a criação de Previdência Social, seguro desemprego e o seguro para idosos acima de 65 anos. Houve, também, a redução da jornada de trabalho, legitimação dos sindicatos, proibição do trabalho de crianças e aumento de salário para os operários.
A partir destas medidas e com o decorrer do tempo, a situação norte-americana começou a se normalizar. Entretanto, esta não foi a primeira e nem a última vez em que houve um colapso financeiro mundial. Conforme já tratado aqui no blog, a primeira crise financeira ocorreu ainda no século XVII, sendo popularmente conhecida com “Tulipmania”.
Já em 2008, o mundo vivenciou mais uma vez os efeitos de uma crise também iniciada nos Estados Unidos. Todavia, esta se deu principalmente em razão do boom imobiliário, mas este episódio fica para um próximo post!