Duas grandes instalações petrolíferas na Arábia Saudita foram atacadas neste último sábado, provocando a maior disparada do preço do barril de petróleo do tipo Brent desde o início da Guerra do Golfo, em 1991.
O evento tem grande potencial de impacto no mercado, não somente pelo fato de que as duas refinarias sauditas atacadas neste final de semana representam cerca de 5% da produção mundial de petróleo bruto, mas principalmente por criar tensão geopolítica numa das regiões mais delicadas do planeta.
Neste primeiro momento, entretanto, o impacto observado sobre os preços do barril de petróleo é basicamente efeito psicológico proporcionado pela notícia inesperada. Ainda não há como mensurar as conseqüências de médio e longo prazo. A princípio, não se observa risco de desabastecimento de petróleo no mercado global por alguns motivos básicos.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, autorizou a utilização das reservas estratégicas de petróleo, caso necessário. São cerca de 645 milhões de barris de petróleo à disposição dos norte-americanos para situações emergenciais, considerada uma das maiores reservas de petróleo do mundo. As reservas estratégias, criadas em 1970, foram utilizadas apenas em 1991 (Guerra do Golfo), 2005 (Furacão Katrina) e 2011 (guerra civil na Líbia).
A Arábia Saudita também possui reservas estratégicas volumosas e garantiu que o abastecimento dos mercados globais não será prejudicado. Em especial China, Japão, Coreia do Sul e Índia, maiores consumidores de petróleo saudita.
Como efeito comparativo, a Saudi Aramco afirmou que o ataque realizado no sábado reduziu sua produção em 5,7 milhões de barris por dia. A diferença entre a produção afetada diária versus reservas estratégicas de petróleo é mais do que suficiente para impedir escassez da commoditie a curto prazo.
Rússia e outros países da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) podem aumentar a produção de petróleo rapidamente a qualquer momento. Ainda assim, a Opep não tomou nenhuma medida até o momento para acionar os países membros e afirmou ser muito cedo convocar reunião de emergência para solicitar aumento de produção.
Além disso, eventos como o ocorrido no último sábado possuem impacto limitado numa economia global em fase de desaceleração. A perda no ímpeto de crescimento em várias economias desenvolvidas e emergentes implica em menor consumo de energia, principalmente o petróleo.
Se de um lado o abastecimento de petróleo não parece gerar grandes preocupações no mercado, por outro a responsabilização do ataque, bem como eventual retaliação, volta a criar um ambiente de incerteza/hostilidade geopolítica que até então não incomodava tanto os players de mercado.
Imagens de satélites norte-americanos revelaram que a destruição das refinarias sauditas denuncia padrão de ataque de origem iraquiana ou iraniana. Apesar de os rebeldes iemenitas houthi terem assumido a autoria do atentado, não é preciso ser nenhum gênio para desconfiar que, de fato, o ataque pode ter partido do Irã ou Iraque.
Imagem: Gulf News
Observando o mapa acima, pode-se notar que o Iêmen está muito distante do local onde as duas refinarias sauditas foram atacadas. Tecnicamente é mais fácil operacionalizar o ataque do Irã ou Iraque, não somente devido à proximidade geográfica, mas principalmente pelo fato de que as defesas antiaéreas sauditas estão concentradas mais ao sul, onde ataques houthis ocorrem com certa frequência.
A coalizão militar liderada pela Arábia Saudita afirmou nesta última segunda-feira que os resultados preliminares mostram que o ataque foi realizado com armas iranianas. Caso a investigação confirme o envolvimento direto ou indireto do Irã, a hostilidade entre as duas potências do Oriente Médio deve aumentar, causando clima de apreensão no mercado.
Entre outras palavras, existe o temor de que uma instabilidade entre Arábia Saudita e Irã possa fechar o Estreito de Ormuz. Ambos os países patrocinam conflitos no Oriente Médio há alguns anos, com destaque para a região do Iêmen. A Arábia Saudita tem apoio de grandes potências do ocidente, como os Estados Unidos, que cercam a região com uma forte presença militar naval.
O Estreito de Ormuz conecta o Golfo Pérsico com o Oceano Índico, responsável por mais de 30% do escoamento de petróleo do planeta. Um fechamento do Estreito de Ormuz poderia colapsar o mercado de energia no mundo inteiro. Cerca de 17,5 milhões de barris de petróleo passam pela região todos os dias.
O país com maior presença geográfica no Estreito de Ormuz é justamente o Irã. A segunda maior força naval na região também é iraniana, perdendo apenas para a marinha norte-americana presente no local. Em seu ponto mais apertado, o canal possui cerca de 33 quilômetros de largura, sendo que boa parte do trecho de águas internacionais liberado para navegação é de cerca de três quilômetros.
O Estreito de Ormuz foi fechado no final da década de 1980 durante a guerra entre Irã e Iraque, evento traumático responsável pelo terceiro grande choque de petróleo. Desde então, o Irã ameaçou fechar o Estreito de Ormuz em 2011, 2012 e 2016, como forma de retaliar as sanções impostas pelo ocidente.
O bloqueio do Estreito de Ormuz talvez só não ocorreu, de fato, nesta década, por conta da estratégia bem sucedida da marinha norte-americana, que em 1995 decidiu reativar sua Quinta Frota para vigiar as águas do Golfo Pérsico. A supremacia do poder militar da Quinta Frota garante segurança de navegação para todas as embarcações, recebe os pedidos de ajuda de qualquer país e intimida qualquer atuação mais ousada por parte dos iranianos.
O mercado teme que uma eventual retaliação da Arábia Saudita contra o Irã possa provocar o fechamento do Estreito de Ormuz pelos iranianos, como forma de estrangular a economia saudita. Entretanto, a medida seria um tiro no pé para o Irã, já que inevitavelmente sofreria sanções pesadas do ocidente (afetado pelo desabastecimento de petróleo), com grandes chances de seguir o caminho trilhado pela Venezuela.
O desfecho mais provável e menos traumático para os mercados, confirmado o envolvimento do Irã, seria basicamente conter uma retaliação militar saudita, condicionada a um aumento das sanções comerciais do Ocidente contra o Irã. Desta forma, evitaria um conflito bélico entre duas potências do Oriente Médio. Por fim, a Arábia Saudita poderia se beneficiar com aumento de market share, abocanhando justamente a redução da participação do Irã no mercado mundial de petróleo.
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