A pressão vendedora que reapareceu em Wall Street na sexta-feira da semana passada, após um curto período de repique de alta, voltou a limpar posições de players na ponta comprada nesta segunda-feira, com característica de movimento agressivo e perigoso.
O forte tombo nas ações norte-americanas constatado nesta segunda-feira pegou muitos investidores/operadores de surpresa, já que o movimento de recuperação de preços observado no final do mês de outubro parecia forte o suficiente para sustentar os principais índices de Wall Street acima da média móvel simples de 200 períodos diária, considerada por muitos um divisor de águas para tendência de médio prazo.
A referida média voltou a ser atacada pelos ursos no pregão de hoje, o que acabou culminando em mais um rompimento descendente marcado por marubozu de baixa, um candle de força relevante. O movimento confirmou topo descendente no S&P500 aos 2,8k, formatando uma configuração técnica muito perigosa para manutenção de posições compradas de curto prazo.
A mídia especializada em mercado financeiro explica que os players voltaram a shortear ações em Wall Street por conta da queda brusca do barril de petróleo, mas essa é só metade da história da chapeuzinho vermelho.
De fato, o barril do Brent, negociado no Reino Unido, se parece mais com um ativo em princípio de crash. Após registrar 87 dólares no mês passado, o Brent fechou cotado aos 69,28 dólares por barril nesta segunda-feira. O barril do Light, negociado nos Estados Unidos, segue na mesma linha.
Hoje o Light é negociado aos 59,93 dólares por barril, muito abaixo dos 76,41 dólares registrados no mês passado. A expressividade da queda na commodity o coloca tecnicamente em bear market (recuo de mais de 20% sobre a máxima anterior), expressão que provoca pavor no mundo inteiro, até porque muitos ativos de risco acumulam retornos significativos nos últimos 9 anos.
A queda do barril de petróleo pode sinalizar uma desaceleração no ritmo de crescimento global, num momento de tensão comercial entre Estados Unidos e China, além do complexo Brexit em curso na Europa. Definitivamente não é o momento ideal para a economia global demonstrar sinais de fraqueza.
Entretanto, a outra parte da história, que alguns no mercado podem estar tentando esconder (por razões obvias, pois vai contra posicionamentos/cenários macro ainda predominantes no momento), envolve o temor de retomada da inflação.
O tombo do petróleo não repercutiu positivamente sobre a inflação de diversos países. O dado mais marcante, do Índice de Preços ao Produtor dos Estados Unidos (inflação do atacado), subiu 0,6% em outubro, a maior alta dos últimos seis anos.
Nos últimos 12 meses a alta acumulada é de 2,9%, superior aos 2,6% do mês anterior, mantendo-se dentro de uma trajetória ascendente de médio/longo prazo. Não é nem um pouco interessante para o FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos) que o Índice de Preços ao Produtor continue em trajetória ascendente e/ou oscilando na casa dos 3% ao ano, razoavelmente acima da meta de 2% de inflação ao consumidor a ser perseguida.
A inflação observada hoje no atacado, se não for controlada/reduzida, pode se espalhar para o índice de preços ao consumidor no médio prazo, o que poderia forçar uma atuação mais agressiva na estratégia de política monetária (aumentos mais rápidos e intensos na Federal Funds Rate e aceleração da desalavancagem do balanço).
Enquanto se cria uma fantasia de que o FED deveria parar de subir os juros, ou reduzir a intensidade, na verdade, o que risco que se observa no Índice de Preços ao Produtor, a médio/longo prazo, é exatamente o oposto.