O mercado financeiro nacional comemora, muito timidamente, e com razão, o lançamento do primeiro ETF de renda fixa no Brasil. Gerenciado pelo grupo Mirae Asset Global Investments, o ETF tem objetivo de replicar o desempenho do S&P/BM&F Índice de Futuros de Taxa de Juros – DI 3 Anos ER.
Os inegáveis pontos positivos deste primeiro ETF de renda fixa estão na razoável taxa de administração (mínimo de 0,30% ao ano e máximo de 0,40% ao ano), possibilidade de negociação no mercado secundário (pregão da B3) com apenas uma única cota (atualmente negociada em R$ 10,05) e, principalmente, benefício fiscal. Não haverá incidência de come-cotas, como ocorre nos fundos de renda fixa negociados nas prateleiras de bancos e corretoras. Além disso, não haverá aplicação da tabela regressiva. A alíquota de imposto de renda será de 15%, independente do período de investimento no ETF.
Existe grande potencial para o mercado de ETFs de renda fixa crescer no Brasil. Cerca dos 4,3 trilhões de reais pertencentes à indústria de fundos no país, 1,9 trilhão está alocado em fundos da classe de renda fixa. Grande parte deste capital alocado em fundos da classe de renda fixa está sob domínio de gestores que cobram elevada taxa de administração e, ao mesmo tempo, entregam rentabilidade inferior ao CDI.
O código BM&FBovespa deste primeiro ETF de renda fixa é pouco prático e difícil de ser lembrado: FIXA-ETF01L1. Se você quiser observar o book de ofertas, ver o gráfico ou mesmo negociar este ETF, precisará digitar esta “longa senha” para passar pela porta secreta do mercado de renda fixa criada nesta segunda-feira.
Bom seria se este fosse o único ponto negativo deste primeiro ETF. A metodologia do índice de referência não tem nada a ver com a oscilação de preços dos contratos de juros futuros, nem com os preços dos títulos do Tesouro Direto, nem com o mercado de renda fixa pós-fixado. Algo inédito para muitos investidores brasileiros.
Pelo que se observa nas matérias veiculadas nas mídias especializadas em mercado financeiro, entende-se que S&P/BM&F Índice de Futuros de Taxa de Juros – DI 3 Anos ER é uma espécie de réplica da oscilação de preço do contrato de juros futuros com vencimento em 3 anos, o que está completamente errado.
O índice, calculado pela S&P, mede o retorno de uma carteira de contratos de juros futuros corrigida pelo mecanismo de excesso de retorno. De forma bem resumida e grosseira, o excesso de retorno mostra o nível de um índice subtraído pelo custo de financiamento/empréstimo (CDI) que um investidor teria ao investir neste índice.
A novidade neste ETF de renda fixa é justamente fazer a réplica de um índice de renda fixa com metodologia de excesso de retorno, algo inicialmente de difícil entendimento. O índice vai medir o retorno do DI1 de 3 anos a 2 anos e 6 meses corrigido pela Taxa DI-Cetip (CDI). Isso significa que o ETF, que precisa seguir o deslocamento do índice de referência (S&P/BM&F Índice de Futuros de Taxa de Juros – DI 3 Anos ER), vai ter uma dinâmica diferente do pós-fixado, do pré-fixado Tesouro Direto (cai de preço quando a taxa sobe) e do pré-fixado contrato futuro – DI1 (sobe de preço quando a taxa sobe).
Utilizando como exemplo o gráfico do contrato de juros futuros com vencimento em 2021, pode-se observar que no dia 20/04/2018 a taxa foi negociada aos 7,85% ao ano. No dia 14/06/2018 a taxa foi negociada aos 10,50% ao ano. Um investidor que comprou DI1F21 no dia 20/04/2018 e vendeu (liquidou) DI1F21 no dia 14/06/2018 teria embolsado lucro de quase 35% na operação. Um investidor que comprou LTN 2021 no dia 20/04/2018 e vendeu (liquidou) LTN 2021 no dia 14/06/2018 teria assumido prejuízo de quase 35% na operação.
Já no S&P/BM&F Índice de Futuros de Taxa de Juros – DI 3 Anos ER a oscilação no período foi bem diferente, conforme pode-se notar nos gráficos abaixo. Pontuação do índice de referência no dia 20/04/2018:
Pontuação do índice de referência no dia 14/06/2018:
A variação deste ETF de renda fixa teria sido, portanto, de pouco menos de 5% negativo neste mesmo período, justamente por conta da complicada metodologia de cálculo diferenciada.
O primeiro ETF de renda fixa pode não ter sucesso por conta da metodologia que apresenta uma novidade de cálculo que o brasileiro não está acostumado a fazer. Entretanto, o próximo ETF de renda fixa pronto para sair do forno, com apoio do Tesouro Nacional e Banco Mundial, será mais prático e de fácil entendimento.
No primeiro semestre de 2019 o Itaú Asset Managment deverá lançar o ID ETF, com taxa de administração de 0,25% ao ano e objetivo de replicar o índice IMA-B, que por sua vez representa a oscilação de preço de uma carteira composta por NTNBs. Simples, objetivo e barato.