Desde o início do ano passado, o Índice Gerente de Compras global, calculado pelo JP Morgan em parceria com o Instituto Markit, vem demonstrado mês a mês desaceleração no ritmo de expansão da atividade manufatureira global.
Enquanto o mundo acompanhava com cautela os indicadores de desaceleração econômica, alguns líderes políticos tentaram defender suas respectivas economias. Ocorreram intervenções cambiais diretas e indiretas, cortes de compulsório, criação de novas linhas de crédito e as políticas monetárias voltaram a ficar mais dovish.
Nada muito relevante comparado à potência do passado, mas de qualquer forma houve (e ainda há) tentativa de defesa preventiva. Apesar de o foco do noticiário estar sobre a tensão comercial entre China e Estados Unidos, como se fosse um cabo de guerra para saber quem vai cair primeiro, a primeira vítima da guerra comercial é a toda poderosa Alemanha.
A economia mais importante da Europa está afundando em velocidade acelerada, fato, por sinal, pouco comum. A intensidade de contração atual do índice gerente de compras da Alemanha é comparável somente aquela observada no crash do subprime e na crise da dívida da zona do euro.
A atividade industrial alemã alcançou no mês de julho/2019 o nível mais baixo registrado desde meados de 2012, aproximando-se da mínima registrada no pior momento da crise da dívida da zona do euro. A inclinação da curva de desaceleração manufatureira, transformando-se em contração (ao perder o patamar de 50 pontos), é tão agressiva que dispensa diagnósticos mais técnicos.
A situação é grave ao ponto de arrastar a Alemanha para o primeiro ciclo de recessão depois de uma década de crescimento praticamente ininterrupto. O alerta de recessão foi confirmado nesta última segunda-feira pelo Bundesbank (Banco Central da Alemanha), basicamente influenciada pela significativa queda das exportações.
Com a possibilidade de um Brexit desorganizado (sem acordo) e acirramento das disputas comerciais entre diversos países, a Alemanha foi o primeiro país a absorver os choques externos negativos, que pela primeira vez em muitos anos superaram os benefícios da fraqueza do euro.
Correm boatos na Europa de que o governo alemão já se prepara para reforçar a economia com medidas de estímulo fiscal. Isso significa que o país-exemplo de austeridade no mundo está prestes a jogar a toalha. O endividamento da Alemanha caiu de 83% PIB em 2010 para cerca de 60% PIB em 2019, voltando a ficar abaixo até mesmo dos níveis registrados no pré-subprime.
O baixo endividamento, combinado com uma taxa de juros cada vez mais negativa nos títulos da dívida soberana (-0,65% no título com vencimento em 10 anos, nova mínima histórica), criou um cenário quase irresistível para que até mesmo os alemães voltem a afrouxar o fiscal.
Neste último domingo, o próprio ministro das Finanças, Olaf Scholz, apontou que o governo alemão poderia ter gastos extras de 50 bilhões de euros em caso de crise econômica. Desta vez, os alemães estão levando a sério a possibilidade de aumentar o endividamento, cedendo às pressões de diversos outros países europeus, pois há um temor de que a recessão possa ser grave o suficiente para provocar uma disparada da taxa de desemprego.
A possibilidade de os alemães usarem as chaves empoeiradas do cofre tem colaborado para uma corrida cada vez mais acentuada em bonds europeus, o que tem provocado outro efeito colateral de transbordamento de liquidez para outros continentes.
As problemáticas Espanha e Portugal, por exemplo, estão pagando apenas 0,15% e 0,16% no bond com prazo de 10 anos, respectivamente. Na Suiça, a taxa de juros no título de 10 anos furou sem muita cerimônia o patamar de -1% ao ano. Novas mínimas históricas estão se renovando em outros países, como Holanda (-0,53%) e França (-0,36%), revelando que o mercado pode estar tentando se antecipar ao poder de fogo dos alemães.
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