Nem parece que a economia turca entrou rapidamente em colapso durante o mês de agosto de 2018. Na época, circulavam várias matérias na imprensa destacando (i) o perigo do elevado endividamento em moeda estrangeira por parte das empresas locais, (ii) a disparada da inflação para um patamar de dois dígitos (15,39% ao ano), (iii) a incerteza provocada pela turbulência política (reflexo de uma tentativa de golpe em 2016 que acabou deixando o governo mais autoritário), (iv) a mudança de regime parlamentarista para presidencialista (fortalecendo ainda mais a figura de Recep Tayyip Erdogan, reeleito presidente) e (v) até mesmo a disputa diplomática com os Estados Unidos (provocado pela prisão de um pastor americano acusado de espionagem pelos turcos), como fatores responsáveis por arrasar a economia do país.
Nesta segunda-feira, o instituto de estatística local Tuik confirmou aquilo que se temia em agosto de 2018. A Turquia oficialmente entrou em recessão, após 10 longos anos de crescimento ininterrupto do PIB (Produto Interno Bruto).
No quarto trimestre de 2018, a economia turca registrou contração de 3% em ritmo anual e retração de 2,4% em relação ao trimestre anterior, entrando oficialmente em ciclo recessão (caracterizado por dois trimestres seguidos de contração). Durante o terceiro trimestre de 2018, a economia já havia registrado retração de 1,1% sobre o trimestre anterior.
O resultado do terceiro e quarto trimestre de 2018 é bem discrepante do forte crescimento de 7,4% registrado em 2017. A economia turca saiu de um vôo em velocidade de cruzeiro e mergulhou vertiginosamente para uma recessão, o que poderia, no mínimo, ter assustado os investidores/operadores no mercado de capitais local.
Só que não. Desde o espirro de agosto passado, a lira turca vem recuperando gradualmente terreno em relação ao dólar. A taxa de juros do título de 10 anos do governo turco, que chegou alcançar 22% ao ano em 2018, oscila em torno de 15% ao ano atualmente.
Na bolsa de Istambul o cenário é ainda mais surpreendente. Conforme se pode notar no gráfico acima, o principal índice da bolsa de Istambul aparenta apenas um tímido movimento de lateralização desde julho/2018, quando a economia oficialmente iniciou o período de recessão.
Sendo mais específico, entre o início de julho e o encerramento do pregão desta segunda-feira, a bolsa de Istambul acumula valorização, não somente em função da recuperação observada no início de 2019, mas simplesmente porque a bolsa não caiu juntamente com o PIB.
Esta não é a primeira vez e nem será a última em que se observa descolamento entre a trajetória do PIB versus trajetória das ações na bolsa de valores. Movimentos como esse são extremamente interessantes para frisar a soberania do mercado sobre as notícias e/ou dados que circulam na imprensa.
Não existe trajetória pré-definida para os preços dos ativos de risco. Uma avaliação do cenário econômico pode ser pouco útil dentro de um sistema operacional, caso utilizada isoladamente, já que o mercado pode se deslocar como bem entender, influenciado por vários outros fatores, que, em alguns casos, independem da economia local.
Caso o investidor/operador não conseguiu entender porque o mercado turco não foi impactado pelo período de recessão, após 10 anos de crescimento, é bem possível que também esteja perdido com o rumo do mercado de capitais brasileiro.
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