É preciso ter muito cuidado ao ler os tweets de Donald Trump. Nesta última terça-feira (01/10), o presidente dos Estados Unidos utilizou um indicador conveniente para voltar a atacar o chair do FED (Federal Reserve), Jerome Powell.
O mercado entrou na onda de Trump e os ativos de risco registraram desvalorização razoavelmente acentuada comparada aos últimos dias pouco emocionantes no mercado financeiro global.
Uma pesquisa do ISM revelou contração na atividade industrial norte-americana neste último mês de setembro, alcançando o nível mais fraco em uma década. Trump aproveitou o dado para criticar a política monetária do FED, bem como para chamar atenção do mercado para uma eventual queda do dólar.
Trump e o dólar
Trump quer mostrar ao mercado que o dólar se valorizou muito, a contragosto da Casa Branca. O presidente dos Estados Unidos culpa a estratégia de política monetária de seu banqueiro central pelo movimento de valorização significativo do dólar contra várias moedas globais.

De fato, Trump está correto no que se refere ao deslocamento do dólar. A moeda norte-americana acumula longa trajetória de valorização (iniciada em 2018), jogando o índice DXY para cerca de 99 pontos. Em 2018, o índice chegou a oscilar perto de 88 pontos. O DXY é uma espécie de índice que reflete o desempenho do dólar contra uma cesta de moedas globais.
O presidente dos Estados Unidos chegou afirmar nesta última terça-feira que o dólar forte está prejudicando as exportações de produtos norte-americanos, afetando as indústrias locais. O incômodo do presidente com o dólar forte pode ter emitido sinal de alerta aos que utilizaram (e ainda utilizam) o dólar como hedge dos portfólios.
Para reforçar a tese de que o dólar está muito forte (e, talvez, tentar dar um empurrão na moeda para baixo), Trump se agarrou à pesquisa de atividade industrial ISM do mês de setembro. Assim, o presidente consegue justificar o enfraquecimento das industriais norte-americanas por conta da desvantagem cambial no comércio internacional.
Entretanto, a pesquisa do ISM não é a mais indicada para melhor medição do desempenho da atividade manufatureira. Várias empresas gigantes e, principalmente, estatais, participam da pesquisa ISM, que acabam pesando no resultado final. Por outro lado, o indicador PMI, do Instituto Markit, é mais abrangente e expressivo em termos de qualidade dos dados, já que o instituto de pesquisa não entrevista empresas públicas, apenas privadas.
PMI e ISM
Neste mês de setembro, houve grande discrepância entre as pesquisas PMI e ISM. O PMI dos Estados Unidos sequer alcançou nível de contração da atividade industrial. A pesquisa do Instituto Markit revelou aumento no ritmo de expansão da atividade manufatureira norte-americana, saindo de 50,3 pontos registrados em agosto para 51,1 pontos em setembro.

O gráfico ampliado do PMI também revela que, desde o início dos programas de quantitative easing do FED, todas as ocasiões em que a atividade industrial norte-americana se aproximou da região dos 50 pontos (zona neutra, não mostra contração nem expansão da atividade) houve, na sequência, reação de recuperação do ritmo de expansão. Desta vez, por enquanto, não está sendo diferente. As indústrias voltaram acelerar o ritmo de expansão, seguindo o padrão de quase uma década.
A recuperação do ritmo de expansão da atividade industrial pode ser observada neste mês de setembro em quase todas as economias relevantes do planeta. São exceções a Europa, que segue afundando na contração, e Rússia, que começa emitir sinais preocupantes de enfraquecimento. Na China, o PMI saltou de 50,4 pontos em agosto para 51,4 pontos em setembro, mesmo nível alcançado pela Índia.
Entretanto, um dos destaques desta rodada de PMIs globais é justamente o Brasil. Apesar de mal visto pela mídia brasileira e estrangeira, o cenário parece melhorar. Os números de setembro deram sequência aos indicadores dos meses anteriores, revelando recuperação animadora no ritmo de expansão da atividade manufatureira.
Entenda mais sobre o desempenho da indústria brasileira em agosto!

O PMI do Brasil rasgou de 52,5 pontos em agosto para 53,4 pontos neste mês de setembro, registrando forte aceleração no ritmo de expansão das indústrias. A pontuação de setembro alcançou o recorde registrado em novembro de 2017, com as empresas entrevistadas reportando aumento no volume de produção, novas contratações de funcionários e aumento na confiança em relação aos negócios.
Este é mais um importante indicativo de que o setor privado local está reagindo muito bem frente à proposta deste novo governo, com uma agenda de reformas estruturantes dolorosas. Qualquer gesto adicional positivo do poder legislativo e/ou executivo, poderá não somente colaborar para manter o PMI em zona de expansão, como aumentar o potencial de aceleração no ritmo de crescimento.
Para uma assessoria personalizada e gratuita, clique aqui e agende uma reunião! Você receberá uma ligação minha, no dia e horário determinado.