Desde o ano passado o mercado local vem sendo bombardeado por teses macro que defendem nova rodada de reduções da taxa básica de juros, atualmente em 6,50% ao ano. Parte das alegações favoráveis a novos cortes na taxa Selic eram meio sombrias, caíam no mercado de paraquedas.
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Sabe-se lá de onde vieram e como chegaram aqui. A única certeza é que o mercado local foi várias vezes afetado pelo oba oba da tesourada na Selic, já que o contrato de juros futuros da ponta curta, com vencimento em 2020, chegou a ser negociado abaixo dos 6,50% em diversas ocasiões neste ano. Era uma espécie de termômetro revelando que muitos no mercado estavam realmente apostando em novos cortes na taxa Selic.
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do mês de fevereiro/2019 subiu para 0,43%, reduzindo um pouco o ânimo da turma da Selic 5,5%. O mercado, consequentemente, se aquietou e o contrato de juros futuros com vencimento 2020 voltou a colar nos 6,50%.
Agora a farra parece ter acabado de vez. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou nesta semana que o IPCA do mês de março subiu para 0,75%. Como os 0,43% de fevereiro foram encarados como surpresa ou algo inesperado, não há desculpa para os 0,75% do mês de março. São dois meses seguidos de inflação acelerada, muito acima do ritmo de atividade econômica. O espanto começa virar rotina.
Os números mostram que algo está errado (ou sendo negligenciado) no quadro macroeconômico. No acumulado dos últimos 12 meses a inflação já alcançou 4,58%, ultrapassando o centro da meta a ser perseguida neste ano, de 4,25%. Não é só um alerta para o Banco Central tomar cuidado com a meta de inflação (que por sinal, até pouco tempo atrás, arriscou entrar no oba oba da tesourada na Selic, mas felizmente soube conter seu ânimo). É um problema de grandeza maior.
Como pode um pibinho de 1,1% criar inflação de 4,58%? Considerando, ainda, que a fraqueza atual econômica é herdeira de um dos maiores períodos recessivos da história, aliada ao cenário horroroso de elevada taxa de desemprego. Muitas intrigas para poucas respostas lógicas.
É possível imaginar que boa parte do mercado estava (ou ainda está) mais preocupada em especular com os juros futuros do que entender os riscos do cenário macroeconômico. Apesar do oba oba no mercado, qualquer investidor minimamente curioso poderia ter notado (ainda pode) sinal de alerta com uma simples observação.
O IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado) não tem conversado com o IPCA há um bom tempo. Ambos são índices inflacionários, porém com diferentes metodologias de cálculo. Não significa que o IGPM tem de andar colado ou próximo do IPCA, mas distorções muito relevantes entre estes dois índices populares de inflação podem sinalizar problema à vista.
O acumulado do IGPM nos últimos 12 meses está em 8,27%, quase o dobro do acumulado do IPCA. Composto por 60% de IPA, 30% de IPC e 10% de INCC, o IGPM é um indicador de inflação importante para o setor produtivo. Normalmente, os impactos do câmbio chegam primeiro no IGPM, que tende refletir melhor a situação de preços nas indústrias e, posteriormente, são propagados para o IPCA, que reflete melhor a situação de preços aos consumidores.
Ao observar a trajetória do câmbio nos últimos anos, não causa nenhum espanto entender o movimento de aceleração da inflação pelo IGPM no passado, chegando agora no IPCA. Em 2017 o dólar contra real ficou um bom tempo comportado na região dos R$ 3,20. Contudo, no ano seguinte, o dólar acelerou para R$ 4,00 e não voltou mais aos patamares inferiores do passado.
Como somos basicamente uma colônia exportadora de commodities, obviamente qualquer movimento na moeda vai afetar os preços dos produtos industrializados vendidos nas nossas feiras, desde um simples guarda-chuva até uma colheitadeira gigante. Portanto, não há motivo para tanto espanto. A inflação acelerada é mera consequência do atual valor de nossa moeda. Um filme que já assistimos várias vezes no passado, pagando caro pelo ingresso.
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