Não é de hoje que o mercado avalia com muito receio os ativos de risco em várias praças financeiras mundiais, ao mesmo tempo em que deposita confiança nos ativos de risco negociados no Brasil.
Os indicadores continuam sustentando um descolamento positivo atípico desde o final de setembro do ano passado. Enquanto várias bolsas de valores passam por um período de fortes turbulências, o Ibovespa segue dentro de seu ciclo de alta, renovando recorde histórico nesta segunda-feira.
O índice Bovespa, representado pela linha pontilhada no gráfico acima, já acumula uma diferença de desempenho significativa comparado ao ETF MSCI World da iShares, representado pela linha preta no gráfico. O MSCI World é um dos mais famosos ETFs globais do mercado. Desde meados de setembro/2018, o Ibovespa segue em pleno rali, destoando totalmente dos demais mercados desenvolvidos e emergentes.
O descolamento do Brasil não é uma questão puramente política, mas sim de melhora no ambiente de negócios. O Índice Gerente de Compras do Brasil continua operando em região de expansão da atividade industrial, sem apresentar sinal de contração ou perda de ritmo. Após registrar o recorde de alta de oito meses aos 52,7 pontos no mês de novembro/2018, o Índice Gerente de Compras se manteve praticamente estável em dezembro do ano passado, aos 52,6 pontos, sinalizando continuação do movimento de expansão da indústria.
Na outra ponta, a China apresenta sinais preocupantes para 2019. O Índice Gerente de Compras do gigante asiático contraiu pela primeira vez em 19 meses nesta última medição realizada no mês de dezembro/2018 pelo Instituto Markit em parceria com o Caixin. O índice caiu de 50,2 pontos em novembro/2018 para 49,7 pontos em dezembro/2018, revelando contração na atividade industrial.
O Índice Gerente de Compras da China é o primeiro indicador deste ano que sinaliza um ambiente ainda mais desafiador para as autoridades locais tentarem frear o processo de desaceleração do crescimento, que tem ganhado cada vez mais força, tanto por conta de fatores externos (como a disputa comercial com os Estados Unidos, por exemplo), quanto por conta de fatores internos (demanda enfraquecida, excesso de negócios improdutivos, baixa qualidade do crédito, dependência do investimento estatal para gerar impulso ao crescimento, etc).
Com a atividade industrial do motor do mundo em desaceleração, agora em terreno de contração, o Índice Gerente de Compras global, medido pelo Instituto Markit em parceria com o JP Morgan, segue perdendo força, como se estivesse dentro de um escorregador.
O indicador recuou de 52,0 pontos registrados no mês de novembro/2018 para 51,5 pontos em dezembro/2018. Esta é a menor pontuação desde o quarto trimestre de 2016, revelando perda de ímpeto da atividade econômica global.
Traçando um paralelo com a medição do Índice Gerente de Compras do Brasil versus Índice Gerente de Compras global, o mercado não está sendo bonzinho ou dando uma colher de chá aos ativos locais mais valorizados em contrapartida aos ativos estrangeiros mais desvalorizados. O mercado está apenas reagindo aos indicadores e à melhora no ambiente local.
O descolamento, portanto, apesar de atípico, não é uma irracionalidade. Apesar de existir certa confiança/expectativa positiva com a nova gestão, o mercado não está pagando um preço hoje só para ver o resultado que se espera lá na frente, mas sim pagando o preço de hoje que já embute esta mudança no ambiente de negócio.
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