Apesar de demonstrar apreensão com os riscos do cenário interno e externo, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu nesta última quarta-feira manter inalterada a taxa básica de juros em 6,50%.
A decisão era amplamente esperada pelo mercado, que embora esteja exigindo mais prêmio no câmbio e juros futuros, sinalizando há algum tempo perspectiva de deterioração macroeconômica, reconhece as dificuldades de alteração na estratégia de política monetária nas vésperas das eleições presidenciais.
A próxima reunião do Copom ocorrerá nos dias 30 e 31 de outubro, pouco tempo depois da possível realização de um segundo turno presidencial muito polarizado. O Banco Central pode estar postergando o início de um necessário ciclo defensivo de aperto monetário, o que não parece ser uma boa jogada, tanto do ponto de vista das condições de mercado (o receio com as praças emergentes é fato de momento e não uma perspectiva de risco para o futuro), quanto do ponto de vista político (ambiente doméstico com nervos à flor da pele após o desfecho eleitoral).
Este trecho logo abaixo extraído do comunicado divulgado após a reunião de Comitê deixa claro o desconforto da autoridade monetária com os aumentos dos riscos para o cenário base: “…por outro lado, (ii) uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. Esse risco se intensifica no caso de (iii) deterioração do cenário externo para economias emergentes. O Comitê julga que esses últimos riscos se elevaram”.
Na verdade, o Banco Central está um pouco atrasado para reconhecer o impacto da frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas. Desde o momento em que o governo Temer desistiu de avançar com a reforma da previdência, o dólar tem se valorizado contra o real e os contratos de juros futuros voltaram abrir fortemente (proporcionando aumento das taxas futuras), criando uma diferença significativa sobre a taxa básica de juros, numa magnitude nunca antes vista nesta década.
Os prêmios de risco já estão afetados (elevados) quando comparado ao praticado no início deste ano e não há sinalização de reversão. Também não se esperava manutenção da trajetória de desaceleração da inflação, mesmo no horizonte relevante para a política monetária, seja pela retomada do crescimento, seja pelo impacto do dólar sobre as importações. Pelo contrário, a perspectiva é de aceleração da inflação. Além disso, a deterioração do cenário externo está mal explicada no comunicado, pois o foco de tensão global paira apenas sobre economias emergentes altamente endividadas em moeda estrangeira e/ou desajustadas.
Independente disso, o Banco Central sinalizou que a porta está aberta para uma elevação da taxa Selic no horizonte próximo, reforçado por este trecho do comunicado: “O Copom reitera que a conjuntura econômica ainda prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural. Esse estímulo começará a ser removido gradualmente caso o cenário prospectivo para a inflação no horizonte relevante para a política monetária e/ou seu balanço de riscos apresentem piora.”
A projeção atual do mercado para inflação de 2019 não está tão baixa quanto o vagaroso ritmo de crescimento e já se próxima da meta de 4,25% a ser perseguida pelo Banco Central. Quando o impacto do recente fortalecimento do dólar começar a desembarcar na economia brasileira, as projeções dos agentes para a inflação tendem a subir ainda mais. Além da piora nas projeções de inflação, o balaço de risco (preços dos ativos, reformas não aprovadas, entre outros) também se agravou.
Portanto, a piora de cenário traçado pelo Banco Central, que poderia exigir uma resposta de aperto gradual na política monetária, não é um risco para o futuro como aparenta ser no comunicado, mas sim um fato consumado. A taxa Selic, atualmente em 6,50%, pode estar com os dias contados.