Desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), realizada em dezembro do ano passado, uma onda de euforia tem jogado as taxas de juros dos contratos futuros para novas mínimas históricas.
A ponta curta, como no DI com vencimento em 2020, chegou a pagar apenas 6,33% ao ano neste mês de fevereiro, patamar inferior a taxa básica de juros. Esse movimento ocorreu em função de alguns analistas, economistas e players de mercado acreditar que novas quedas poderiam ocorrer na taxa Selic.
Essa crença foi construída por uma interpretação demasiadamente otimista sobre o comunicado do Copom emitido no mês de dezembro, no qual foi retirado o trecho em que o Banco Central sinalizava, anteriormente, possibilidade de elevação da taxa Selic no médio prazo.
O simples fato da retirada deste trecho do comunicado deixou o mercado de juros futuros eufórico e as expectativas de corte na taxa Selic começaram a brotar do chão, sem que o Banco Central houvesse apontado para tal movimento.
Na reunião do Copom encerrada nesta última quarta-feira, o Banco Central utilizou a estratégia de ajustar a euforia do mercado, sendo mais neutro possível no comunicado, ou seja, sem sinalizar novos cortes ou novas elevações na taxa Selic.
Essa comunicação mais neutra observada no comunicado do Copom de fevereiro é importante não somente para afinar o tom do mercado, mas, também, para proporcionar uma passagem de bastão mais imparcial para a próxima gestão. O economista Roberto Campos Neto substituirá Ilan Goldfajn na presidência do Banco Central assim que passar pela sabatina no Senado, que pode ocorrer ainda neste mês de fevereiro.
Neto vai assumir a autoridade monetária em condição climática extremamente favorável e tranquila, colhendo os frutos da gestão anterior, que no fim das contas se mostrou eficaz. Conforme se pode notar no gráfico abaixo, a montanha russa inflacionária desesperadora, registrada desde o choque do subprime em 2008, demonstra, enfim, claramente sinal de estabilização em torno da meta de inflação a ser perseguida pelo Banco Central.
A volatilidade da inflação nos últimos 12 meses é bastante inferior ao histórico dos últimos anos. Além disso, já são cerca de 2 anos que o IPCA se mantém oscilando abaixo do teto da margem de tolerância do sistema de metas de inflação. Por fim, a projeção do Focus para a inflação dos próximos 12 meses (linha vermelha) aponta para uma volatilidade ainda menor, sem risco de rompimento do centro da meta.
Apesar do cenário bastante favorável, o Banco Central evitou emitir qualquer sinalização de corte adicional na taxa Selic, atualmente em 6,50% ao ano, até porque não faz sentido realizar mudanças numa calibragem que tem se mostrado adequada.
Um corte adicional de 0,25 p.p. provocaria pouco efeito prático na economia, mas poderia abrir espaço para os agentes entenderem preocupação limitada da autoridade monetária com a inflação (baixar a guarda), e, consequentemente, subir preços de forma defensiva.
São raros os momentos na nossa história de inflação oscilando tanto tempo ao redor do centro da meta. Está correto o Banco Central ao ressaltar no comunicado que as decisões de política monetária exigem cautela, serenidade e perseverança. O modelo está muito bem ajustado e a inflação atipicamente comportada. Não há razão para mexer, por enquanto, no acerto da equação que foi tão penosa de alcançar.
Para uma assessoria personalizada e gratuita, clique aqui e agende uma reunião! Você receberá uma ligação minha, no dia e horário determinado.