O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu nesta última quarta-feira cortar a Selic em 0,75 p.p., de 3,75% ao ano para 3% ao ano, renovando mínima histórica.
A decisão surpreendeu grande parte do mercado que esperava corte numa magnitude menor, de 0,50 p.p. O ciclo de afrouxamento monetário foi intensificado pelo Banco Central em função dos impactos significativos provocados pela pandemia do coronavírus.
Ciclo de cortes na Selic
O ciclo intenso de afrouxamento monetário não é uma surpresa para o Brasil (sétima redução seguida na taxa básica de juros), nem para o resto do mundo. Todos os banqueiros centrais estão operando na intensidade máxima dovish da história.

Entretanto, estima-se que em algumas praças mais vulneráveis, como a brasileira, o espaço para os estímulos seja bem mais limitado comparado ao de mercados mais organizados ou desenvolvidos.
O Brasil possui problemas estruturais graves, acumulados a alguns anos/décadas.
Como fica a questão fiscal?
A parte fiscal, que estava sendo corrigida nos últimos anos, voltará a ser um problema ainda mais sério no longo prazo, com alguns economistas já apontando para endividamento alcançando 100% PIB.
Soma-se ao fato de o ambiente de negócios continuar muito abaixo do clima mais favorável observado em outras praças emergentes concorrentes, com baixo nível de educação/qualidade da mão de obra, baixa poupança interna, deficiência gritante na área de infra-estrutura, excesso de burocracia, sistema tributário complexo e incerteza política, temos uma vulnerabilidade visível não somente para o olhar do investidor estrangeiro, mas também para o investidor residente preocupado com o valor de sua moeda.
Impactos dos cortes na Selic
A questão mais complexa envolvendo os cortes na taxa Selic é justamente os impactos sobre o poder de compra do Real. Este poder de compra não se relaciona apenas aos brasileiros que pensam em viajar para o exterior ou adquirir produtos importados, mas principalmente para toda nossa cadeia produtiva, já que somos basicamente exportadores de commodities e altamente dependentes de bens de valor agregado.
Disparado, o Real é a moeda que mais se desvalorizou no mundo este ano.
É também a moeda que mais apanhou desde o início da crise do coronavírus. Existem razões que justificam a agressividade do mercado com o Real, como as citadas nos parágrafos anteriores, além de fatores técnicos que fazem parte do dia a dia de players de câmbio. Por conta disso, a expectativa generalizada era de que mesmo com uma retração econômica histórica e brutal, a autoridade monetária não seria tão agressiva nos cortes sobre a taxa Selic.
A comunicação do Banco Central deixou clara a preferência ao cenário econômico e social assustador de curto prazo. Isso não significa que os problemas de longo prazo serão mais difíceis de resolver, quando chegar o momento, mas os riscos inevitavelmente serão maiores.
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Porta aberta para novos cortes
A autoridade monetária também deixou claro que deverá realizar nova rodada de cortes na taxa básica de juros de até 0,75 p.p., já próxima reunião de Comitê, a ser realizada nos dias 16 e 17 de junho, conforme trecho abaixo extraído do comunicado:
“Para a próxima reunião, condicional ao cenário fiscal e à conjuntura econômica, o Comitê considera um último ajuste, não maior do que o atual, para complementar o grau de estímulo necessário como reação às conseqüências econômicas da pandemia da Covid-19.”
O fato de a autoridade monetária cravar novo corte para a próxima reunião (comunicação não tão comum no Brasil) revela uma pré-disposição sem precedentes na história para uma rápida virada de cenário para juro real negativo e juros nominal abaixo de alguns países pares também vulneráveis.
Não há como antecipar a reação do mercado a este novo ambiente macro, porém não surpreenderia observar ânimos exaltados nas mesas de operações das instituições financeiras, com todas as opções disponíveis ao investidor sendo analisadas, já que a virada da chave está ocorrendo em velocidade muito acima daquela observada em outras praças.