O Comitê de Política Monetária do BCE (Banco Central Europeu) decidiu, nesta quinta-feira, manter suas principais taxas de juros inalteradas em zero e -0,4%. A decisão de não comunicar mudança na política monetária para a reunião deste mês é puramente estratégia, já que a autoridade monetária europeia parece desejar aguardar a importante definição do FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos), que se reúne na próxima semana.
Entretanto, daqui pra frente, para os europeus, será apenas uma questão de decisão sobre o calibre do novo bombardeio monetário a ser realizado no sistema financeiro. O BCE adiantou, nesta quinta-feira, que vai aumentar a potência dovish na estratégia de política monetária.
Em comunicado divulgado após a reunião de Comitê, o BCE confirmou que os juros vão ficar no mesmo nível ou em níveis mais baixos até o final do primeiro semestre de 2020. Anteriormente, a autoridade monetária europeia afirmava apenas que os juros vão ficar no mesmo nível até o final do primeiro semestre de 2020.
A inclusão do trecho “ou em níveis mais baixos” na principal frase de forward guidance para os mercados é uma alteração significativa que pode antecipar cortes nas taxas de juros, avançando ainda mais para o fundo do inimaginável mundo dos juros negativos. Desta forma, a indicação sobre o futuro da política monetária está claramente dovish acelerada na Europa.
Além de sinalizar possibilidade de avanço nos juros negativos, o BCE também reabriu suas portas para introduções de mais programas de QE (quantitative easing). O novo programa de compra de ativos vai ser estudado pelos comitês do eurosistema para, possivelmente, ser apresentado ao mercado já na próxima reunião a ser realizada no mês de setembro.
A potencial nova rodada de QE vai correr em paralelo com o programa de financiamento de longo prazo, conhecido como TLTRO III, que irá fornecer crédito quase de graça aos bancos europeus entre setembro de 2019 até março de 2021.
Em suma, o BCE pretende atacar agressivamente em três frentes para estimular a economia e criar pressão inflacionária: (i) mais cortes de juros, (ii) mais QE e (iii) TLTRO III. O fato de todos os canhões da autoridade monetária europeia estarem preparados para bombardear o mercado com mais afrouxamento é também uma forma de atuar para uma transição tranquila de poder, evitando criar volatilidade ou tensão entre investidores e operadores, já que Mario Draghi, atual presidente do BCE, figura fortemente dovish na Europa, vai deixar o cargo em outubro deste ano.
A política monetária excessivamente dovish predominante desde o início desta década, não somente praticada pelo BCE, mas por outros banqueiros centrais mundiais relevantes, segue sustentando o cenário de taxas básicas de juros em mínimas históricas, rendimentos baixos ou negativos dos títulos da dívida soberana de vários países, além de impulsionar a busca por ativos de risco, refletido pela alta nas bolsas de valores do mundo inteiro.
Atualmente, para aplicar no título da dívida soberana do governo alemão, com vencimento em 10 anos, é necessário aceitar um retorno negativo de -0,39% ao ano. Entre outras palavras, o investidor concede empréstimo ao governo alemão, sob a condição de não receber nenhum retorno daqui a 10 anos e ainda perder 0,39% ao ano sobre o capital investido por estar emprestando dinheiro.
Esse é apenas um dos efeitos bizarros criados pela política monetária do BCE na Europa. A dívida da Grécia atualmente gira em torno de 181% do PIB. Obviamente, em condições de temperatura e ambiente normais, é uma quantia impagável. A primeira vista, emprestar dinheiro para a Grécia poderia soar como algo insano, principalmente para os investidores mais antigos no mercado.
Entretanto, a condição atual de mercado é bem diferente daquela observada décadas atrás. Conforme pode-se notar no gráfico acima, a taxa de juros do título da dívida soberana grega com vencimento em 10 anos caiu para 1,94% ao ano, uma nova mínima histórica.
Isso significa que correr o risco de emprestar dinheiro para uma Grécia tecnicamente falida vai gerar um retorno ao investidor de apenas 1,94% ao ano, se o governo honrar com suas obrigações daqui a 10 anos. Caso o investidor queira correr “menos risco” e ainda ganhar algum troco, pode avaliar a segunda opção de emprestar dinheiro para Itália, com endividamento de nada mais nada menos que 132% PIB (também impagável). O título da dívida soberana italiana com vencimento em 10 anos está pagando juros “apetitosos” 1,39% ao ano.
Este cenário absurdo na Europa, sustentado claramente pela política monetária do BCE, é semelhante ao observado em várias outras praças financeiras mundiais, principalmente em países desenvolvidos.
Não por acaso, o Banco Central da Turquia, um dos países emergentes mais problemáticos e vulneráveis do mundo, reduziu nesta quinta-feira drasticamente sua taxa básica de juros em 425 pontos base, de 24% para 19,75%, no maior corte de juros desde que o país passou utilizar a política de metas de inflação, em 2002.
Mesmo com todos os problemas de endividamento excessivo em moeda estrangeira, inflação elevada e moeda local desvalorizada (e, também, não menos importante, altamente volátil), a autoridade monetária turca enxergou espaço para redução significativa na taxa básica de juros, aproveitando-se das condições do sistema financeiro mundial, altamente líquido e excessivamente dovish no forward guidance.
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