Ben Bernanke estará no Brasil para palestrar na Expert, evento realizado pela XP investimentos, nos dias 5 e 6 de Julho, em São Paulo.
Bernanke é um economista norte-americano com PhD pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Lecionou na escola de negócios da Universidade de Stanford no final da década de 1970 a 1985, e, ao mesmo tempo, era docente da Universidade de Nova York.
Ao migrar para Universidade de Princeton (New Jersey), Bernanke foi professor titular e presidente do Departamento de Economia, de 1996 até 2002, ingressando em seguida no Serviço Público durante a gestão do Republicano Bush.
Seu principal reconhecimento no cenário econômico mundial acontece pelos 8 anos (2006 a 2014) em que ocupou a cadeira de Presidente do principal órgão de Política Monetária dos Estados Unidos, o Federal Reserve, Banco Central dos Estados Unidos. Bernanke teve seu mandato durante a maior crise financeira da história depois de 1929, precisando atuar diretamente nas decisões monetárias do ativo mais importante do mercado mundial.
Oriundo de carreira docente e técnica, o economista se especializou no estudo dos desdobramentos da Grande Depressão e suas consequências (Crise de 1929). Além disso, buscou entender de perto os erros do Banco Central japonês, que levaram à deflação e “armadilha da liquidez”, registrada no país durante a “década perdida” de 1990.
Apesar da linha de pesquisa científica, destacou-se durante seu mandato na presidência do FED pela capacidade de construir consensos políticos. Foi escolhido pelo Republicano Bush e reeleito pelo Democrata Obama em um dos momentos mais tensos da economia norte americana. Seus maiores êxitos foram ser pragmático na principal função de um Presidente de Banco Central, sabendo dialogar com os políticos e agentes financeiros, ficando conhecido por sua capacidade de trazer calma aos mercados em momentos de altas volatilidades nos ativos.
Em um paper escrito em 1994, chamado “Na Grande Depressão”, Bernanke afirmava que divergências na condução de políticas macroeconômicas contribuíram para a extensão e profundidade da crise de 29. Essas divergências estavam essencialmente ligadas à política cambial com aumento de juros antes do momento ideal, permitindo uma nova crise caracterizada como “Double Deep”, tornando-a a maior da história.
Bernanke criou uma analogia paralela a essa para justificar a atuação de política monetária na crise do Subprime em 2008, defendendo a manutenção de taxas de juros baixas, afirmando que, caso fossem elevadas antes do ponto ideal, a depressão seria ainda mais catastrófica nos níveis de emprego e desvalorização no preço dos ativos.
Bernanke precisou fazer um papel de líder na discussão com a sociedade sobre a melhor política monetária durante a recuperação da crise. Quando entrevistado em 15 de março de 2009, foi questionado a respeito do futuro próximo da economia norte-americana. Sua resposta foi a seguinte: “Eu acho que agora começam a surgir esses brotos verdes em diferentes mercados que começam a restaurar a confiança, esta dinâmica positiva irá levar a nossa economia à recuperação. ” Você vê brotos verdes? Foi questionado. “Sim, eu vejo brotos verdes”, respondeu.
E ele não estava completamente errado, embora dotado de um raro otimismo dado seu frequente ceticismo, os mercados financeiros começavam a recuperar as gigantes perdas (cerca de 45% de queda do índice Dow Jones e mais de 50% no SP500) acontecidas nos meses anteriores. Conforme o Governo ia agindo na tentativa de impedir a continuidade do aprofundamento da recessão, algumas expectativas dos agentes lentamente iam mudando e a produção industrial mostrava sinais lentos de recuperação. Mas brotos verdes ainda eram raros, principalmente quando se tratava da saúde financeira dos consumidores e empresas, além do principal problema para as famílias americanas e dos residentes do país, o desemprego.
Ao longo das disputas políticas no começo de 2010, novas políticas econômicas de incentivo fiscal não foram aprovadas da Câmara, impedindo a continuidade de muitos dos incentivos, restringindo assim a atuação governamental em grande parte aos, para muitos do mercado, insuficientes instrumentos monetários.
No relatório sobre a situação econômica dos Estados Unidos (Beige Book) previamente à reunião de setembro de 2010, o Federal Reserve assinalava a existência de “amplos sinais de desaceleração econômica, comparada com outros períodos (de recuperação)”, com maior destaque para a continuidade do alto nível de desemprego.
Pouco tempo após, o presidente do FED mostrava sinais que iria atuar novamente com políticas de estimulo à economia, devido ao desemprego persistentemente elevado, um mercado imobiliário fraco e inflação baixa que apontavam a necessidade, para ele, de uma flexibilização adicional da política monetária.
Foi então realizado o chamado QE II – Quantitative Easing, que injetaria mais dinheiro na economia e consistia na compra por parte do FED de ativos de menor liquidez e maior risco de crédito, na tentativa de se retirar ativos potencialmente “tóxicos” dos balanços financeiros dos bancos e instituições financeiras importantes à liquidez do sistema.
Logo após o anúncio de que seria realizada novamente essa política monetária expansionista, iniciou-se um acirrado debate sobre seus fundamentos teóricos. Economistas de correntes contrárias indicaram que ela poderia levar a um quadro de crescimento da inflação e presença de bolha no preço dos ativos. Segundo o economista Meltzer, esse aumento da moeda em circulação provocaria inflação para estimular a economia, algo que Milton Friedman seria incapaz de apoiar.
Prontamente, o presidente do FED, Ben Bernanke, criticou as acusações e proposições afirmando: “Eu acho que nós estamos fazendo tudo que Milton Friedman gostaria que fizéssemos (..) Friedman teria concordado que o FED tem um mandato para promover a estabilidade dos preços e não quer que a inflação seja nem muito alta, nem muito baixa”.
Diante desse cenário, Bernanke passou a defender mais estímulos financeiros para não ameaçar a recente recuperação. Durante as negociações em um debate no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara para aprovação do “Quantitative Easing” Bernanke ganhou por parte da mídia e de alguns políticos o apelido de “Helicopter Ben”, fazendo alusão ao Banqueiro jogando dólares do alto de um Helicóptero para estimular a economia além das medidas monetárias tradicionais.
Segundo ele, embora manter a taxa de juros básica de curto prazo baixa por longo tempo poderia gerar inflação, a economia dos EUA não estava sob esse risco. Pelo contrário, Bernanke disse que o juro estava sendo mantido em nível historicamente baixo, perto de zero, para ajudar a estimular a criação de empregos e o consumo.
Esses comentários foram feitos em resposta a alguns deputados Republicanos que faziam pressão contra a política monetária expansionista, como o deputado Ron Paul, que argumentou que o Fed era responsável pela recente crise financeira ao deixar as taxas de juro muito baixas por muito tempo.
Paul perguntou a Bernanke que danos poderiam surgir de um outro período de taxas de juro ultra baixas e o presidente do Fed continuou dizendo, no entanto, que o juro continuava baixo porque a economia permanece fraca. Segundo ele, “Ser um banco central é uma arte e precisamos equilibrar nosso mandato duplo, de máximo emprego e preços estáveis”.
Bernanke defendeu os pacotes de Flexibilização Monetária pois alertava para o perigo da deflação em uma economia ainda deprimida, fazendo referência a uma teoria do economista Milton Friedman (anterior presidente do FED), segundo a qual as autoridades monetárias podem tirar um país de uma “armadilha de liquidez” conforme havia acontecido no Japão (quando as taxas de juros estão em zero e não podem mais estimular a economia), dando dinheiro diretamente às empresas ou aos consumidores, passando da teoria à prática.
Para os Estados Unidos, essa desvalorização do dólar promoveu um significante saldo nas exportações americanas, além de impedir a instauração de uma dinâmica de deflação, justamente um dos objetivos da flexibilização quantitativa.
Em 27/04/2011, Bernanke, na primeira entrevista coletiva de um presidente do FED da história, ressaltou que as pressões inflacionárias eram “transitórias” e que o banco central continuaria a manter os juros em patamares mínimos “por um longo período”.
Para Bernanke “o estado da economia, e não o Fed, foi o determinante final do nível sustentável de rendimentos reais. Isso ajuda a explicar por que as taxas de juros estão baixas em todo o mundo industrializado, e não apenas nos EUA”.
10 anos depois de seu ingresso no FED, o que vemos desde então, é que suas políticas foram diretamente influentes para a retomada do crescimento econômico Norte Americano depois da segunda maior crise de sua história. Porém, para muitos, esse aporte gigantesco de recursos provenientes de endividamento público pode criar as bases para uma nova Crise Financeira, ainda maior do que 2008.
Hoje, podemos sentir uma dualidade na condução da taxa de juros norte-americana. Se um lado o mercado comemora o ainda crescimento econômico, mas de outro, teme pelo aumento dos juros. O Governo esbarra nas tentativas de desmonte do endividamento e na inversão da política Monetária até então expansiva, pelas consequentes reações ruins por parte do mercado ao potencial corte do “free money” (taxas de juros real negativa).
O fato é que, por enquanto, os dados seguem estáveis, o crescimento consolidado com inflação controlada e o mercado não precificam um risco elevado da expansão da dívida pública no preços dos títulos. Assunto este que aprofundaremos em próximas postagens.
Esperamos que na Expert XP desse final de semana, Ben Bernanke possa comentar as expectativas de momento na condução da política monetária dos Estados Unidos, e sobre a possibilidade levantada por muitos economistas do risco de uma nova crise financeira causada por esse excesso de liquidez e manutenção da taxa de juros baixa por tanto tempo.
Quem sabe ele possa elaborar um paralelo, se é que possível, para os próximos passos da nossa SELIC, rumo a um novo menor patamar histórico. Afinal, como ele mesmo cita: “Agora que sou um civil novamente, posso mais uma vez comentar sobre questões econômicas e financeiras, sem as minhas palavras serem colocadas sob o microscópio por vigias do FED e do Mercado Mundial”.
Em 2009, Ben Bernanke foi apontado pela revista Time como a “Pessoa do Ano”, e em 2011, pela Forbes, como a oitava pessoa mais influente do mundo.
Após terminar seu mandado como Presidente do FED em 2014, foi sucedido por Janet Yellen e recentemente Jerome Powell. Desde então Bernanke passou a escrever seu livro: The Courage to Act: A Memoir of a Crisis and Its Aftermath, que irá comentar e apresentar na Expert XP, e passou a escrever no blog Ben Beranke’s Blog.
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