Conforme relatado em post anterior aqui no Blog, o ex presidente do Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, esteve na Expert XP, maior evento de investimentos do mundo, que aconteceu no final de semana passado, em São Paulo.
Em 2009, Ben Bernanke foi apontado pela revista Time como a “Pessoa do Ano”, e em 2011, pela Forbes, como a oitava pessoa mais influente do mundo.
Ben Bernanke começou sua palestra retomando a lógica usada para viabilizar as principais decisões e acordos do Banco Central durante a Crise de Subprime em 2008. Bernanke afirmou:
“Eu acredito que nós fizemos o que tinha que ser feito (para conter a crise), que não tínhamos outra escolha, mas era preciso explicar. Até hoje eu preciso explicar”.
Ao ser questionado sobre as estratégias para construir consenso entre trabalhadores e mercado, Bernanke relatou que para explicar o salvamento dos bancos que participaram das causas da crise, utilizou da seguinte analogia:
Uma pessoa estava fumando em sua cama, quando deixou cair o cigarro, iniciando um incêndio. O fogo se alastrou rapidamente pela casa toda, e em pouco tempo já havia se espalhado também pelas casas vizinhas, comprometendo todo o bairro. Independente do culpado, nesse momento, cabia aos Bombeiros apagarem o fogo.
Sendo assim, conforme relatado pelo ex presidente, primeiramente o FED precisou “salvar” o sistema financeiro americano, para depois investigar as causas e punir os culpados. Do contrário, a crise seria ainda mais profunda e com consequências muito piores para as empresas e trabalhadores.
Quando questionado sobre o momento atual da política monetária dos Estados Unidos e das perspectivas econômicas, Bernanke os analisou sobre diferentes espectros. Ao adentrar na esfera política, afirmou que os USA vivem um momento diferente do que viviam com Bush ou Obama.
Segundo ele, Donald Trump pode dificultar no curto prazo a continuidade da independência do Banco Central norte americano, pois constantemente publica opiniões e gera ruídos na condução das taxas de juros. Recentemente, chegou ao auge dos atritos quando, em dezembro de 2018, Trump demonstrou irritação com a decisão do Fed de aumentar a taxa básica de juros dos EUA, em 0,25 ponto percentual.
O Presidente dos Estados Unidos afirmou à agência Reuters que Powell (atual presidente do FED) “seria um idiota” se aumentasse as taxas naquele momento. Anteriormente, Trump havia afirmado que o presidente do Fed estava sendo “muito agressivo” em sua política monetária.
Caso Trump realmente tirasse do cargo o presidente do Fed, configurar-se-ia como um ataque como nunca antes visto contra a independência do banco central americano, provavelmente levando a fortes turbulências nos mercados financeiros. Apesar de Trump ter por lei o poder de tomar esta decisão, a percepção do mercado seria de instabilidade na condução da política do principal Banco Central do mundo.
Para Bernanke, a polarização nos discursos políticos, fato que tem se espalhado pelas principais democracias mundiais, deve ser a principal ameaça à estabilidade na condução das políticas monetárias dos Bancos Centrais ao redor do mundo. Em sua opinião:
“Há muitas razões para se estar insatisfeito com a economia, mas é difícil dar respostas quando todo mundo está de um lado ou de outro do espectro, não há ninguém no meio dele”. Não deve ser legal você acordar com um tuíte do presidente dizendo que você é um idiota”.
Bernanke enxerga um aumento da propensão de decisões baseadas em fatores políticos e ideológicos e menos em dados científicos. Algo que podemos constatar nessa direção é o fato de que os atuais Presidentes do Banco Central europeu e americano, são ambos políticos com currículos de ciência Jurídica. Pela primeira vez na história nenhum dos dois são economistas.
Em 2020, acontecerão as eleições presidenciais nos Estados Unidos, e na opinião de Ben Bernanke, serão ainda mais fortes as tentativas de influências políticas nas ações do Banco Central. Isso pode manter as taxas de juros mais baixas por mais um ano, dificultando assim, para o Federal Reserve, continuar sua tentativa de aumento das taxas de juros e “desmonte” da política monetária expansionista, aprofundada na última década.
Adentrando nas especificidades das condições das políticas monetárias e econômicas, Bernanke relata que hoje o sistema financeiro norte americano está muito mais seguro do que 10 anos atrás, quando na crise. A regulamentação e as reformas ajudaram muito no controle das operações e, hoje, a alavancagem dos bancos está muito menor do que na década passada.
Quando questionado sobre qual seria sua opinião sobre o futuro das taxas de juros norte americanas, Bernanke respondeu dividindo suas perspectivas em diferentes óticas. Primeiro, citou que acredita que as taxas de juros continuarão baixas no mundo desenvolvido, mesmo após 11 anos de sólido crescimento da principal economia do Planeta. Um dos fatores que podem dar continuidade a esse baixo nível de juros e “prêmio pela liquidez” é o fato de que hoje algumas das principais empresas do mundo são do ramo de tecnologia.
Podemos compreender que, por essa afirmação, ele quis relembrar as diferentes características dos produtos e configuração dessas empresas. As empresas de tecnologia não costumam demandar elevados volumes de crédito para expandir seus negócios, diferentemente de plantas industriais gigantescas com alto custo operacional como as indústrias automotivas, por exemplo.

Podemos analisar que hoje, das dez empresas mais valiosas dos Estados Unidos, 5 são do setor de tecnologia. Poucos anos atrás esse número era de apenas uma. Um menor custo de produção e expansão de negócios leva as empresas a uma menor necessidade de crédito, somados ao fato de que a competitividade do setor financeiro é altíssima nos Estados Unidos, o crédito está cada vez mais barato, sem aparente inversão dessa tendência.

Outro fator que pode influenciar na manutenção das baixas taxas de juros é indireto, porém também importante. Bernanke citou a alteração na pirâmide etária dos países desenvolvidos como um fator a mais para a menor demanda por crédito.
O ex chairman continua otimista com a economia norte americana. Mesmo após os 11 anos de crescimento contínuo, ele acredita que não exista uma aproximação do que chamou “super crise”. Apesar disso, está consciente de que talvez estejamos próximos a um ciclo de baixa nos mercados financeiros. Em sua visão, será mais uma correção de preços do que alguma crise financeira sistêmica. Ativos que estavam muito inflacionados durante a crise Subprime como os imóveis, para ele estão em níveis normais e sustentáveis de preços.


Segundo Bernanke, o estopim para uma correção nos preços dos ativos pode ser a negociação comercial entre China e Estados Unidos, por seus desdobramentos nos custos de produção e fluxo de capitais entre as economias:
“O sistema financeiro global não tem hoje nada que se pareça com a bolha imobiliária de 2008, ou a bolha das ponto–com de 2000, mas essa tensão geopolítica com a China pode ser muito danosa aos mercados globais“
Ao final da palestra, quando questionado sobre o que mais sentia falta em estar na cadeira de principal agente financeiro do mercado mundial, Bernanke relatou que sua única saudade é ter os mais de 200 economistas com ótima formação que dispunha outrora quando no comando do FED, no auxílio das análises, dados e pesquisar de alta qualidade científica.
Aos que ficaram interessados na temática, Bernanke aprofunda sua visão sobre a recuperação americana pós crise no livro The Courage to Act: A Memoir of a Crisis and Its Aftermath e continuará a emitir suas opiniões sobre economia em seu blog Ben Bernake’s Blog.
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