Um dos maiores temores de vários bankers e hedge funds globais simplesmente desapareceu do mapa nesta virada de ano. O mercado desarmou rapidamente o risco de flattening nas Treasurys norte-americanas, sem causar muito alarde na imprensa.
O mundo inteiro tem pavor do flattening, simplesmente porque todas as recessões ocorridas nos Estados Unidos desde 1975 foram precedidas por inversão na curva de juros futuros, com a taxa da ponta curta (Treasury de 2 anos) superando a taxa da ponta longa (Treasury de 10 anos). Esse movimento é conhecido em Wall Street como flattening.
As taxas de juros futuros norte-americanas são extremamente relevantes para investidores/operadores/gestores de mercado, por serem um ponto crucial no processo de tomada de decisão na alocação de portfólios. Alem de estar presente em vários sistemas de asset allocation, bancos também adotam método semelhante nos modelos de liberação de crédito. Um mercado de flattening pode reduzir o volume de empréstimos concedidos pelos bancos (já que uma recessão pode ocorrer), enquanto um mercado normal pode manter elevado o volume de empréstimos (já que o risco de surgir uma recessão à frente é muito baixo).
O mergulho da taxa de juros da Treasury de 10 anos não é nenhuma novidade nesta virada de ano. O movimento se iniciou em novembro/2018 e não aparenta sinal de inversão na curva, extremamente fechada. Nesta última quinta-feira a Treasury de 10 anos bateu nos 2,56% ao ano, muito abaixo até mesmo do ponto neutro para a FFR (Federal Funds Rate), conforme demonstrado na última reunião do FED, sinalizando manutenção do forte apetite comprador do mercado.
Entretanto, a taxa da Treasury de 2 anos, ponto central do flattening, que até então trabalhava um fechamento relativamente tímido, perdeu o chão no mercado. Assim que a ponta curta perdeu o patamar de 2,80%, o fechamento da curva passou a ser muito agressivo, forçando estopes de quem ainda estava insistindo na venda e chamando compra de quem ainda não tinha pulado em cima da Treasury de 2 anos.
Nesta última quinta-feira, a taxa de juros da Treasury de 2 anos fechou aos 2,39%, muito abaixo da perigosa região de 3% ao ano. A queda significativa da taxa de juros do título do tesouro norte-americano de 2 anos descartou qualquer possibilidade de flatenning a curto/médio prazo.
Um flatenning clássico, ou convincente, precisa ser caracterizado por uma rasgada na taxa da Treasury de 2 anos sobre a taxa da Treasury de 10 anos, ou seja, a Treasury de 2 anos teria que estar em forte ascendência (abertura), como se estivesse atropelando a Treasury de 10 anos. Com este recente mergulho de ponta-cabeça da Treasury de 2 anos, o temor do flatenning desaparece do mercado.
O falso temor criado no ano passado sobre uma possível recessão no Estados Unidos também foi desarmado nesta sexta-feira pelos dados da própria economia. O importante indicador do mercado de trabalho norte-americano veio muito acima das expectativas dos analistas/economistas.
A criação de vagas nos Estados Unidos cresceu no ritmo mais acelerado em 10 meses em dezembro/2018. Foram criados 312 mil novos empregos no último mês do ano passado, muito acima da previsão de 182 mil vagas. Os números de outubro/2018 e novembro/2018 também foram revisados para cima, apontando acréscimo de 58 mil empregos em relação ao anteriormente mencionado no relatório.
Ao todo, em 2018, a economia norte-americana criou 2,6 milhões de novos empregos, relativamente bem superior a criação de 2,2 milhões de vagas em 2017. A taxa de desemprego subiu de 3,7% para 3,9%, já que o fortalecimento do mercado de trabalho atraiu mais americanos a procurar emprego.
A taxa de participação na força de trabalho (proporção de americanos que possuem emprego ou estão procurando por algum) subiu de 62,9% em novembro/2018 para 63,1% em dezembro/2018, recorde dos últimos 5 anos. Esse dado também é positivo, pois revela que as pessoas estão sentindo mais facilidade para encontrar trabalho.
Os números revelam robustez da economia norte-americana, longe de sinalizar uma virada para recessão. O ponto que merece destaque para o FED está no ganho médio por hora trabalhada, que subiu 0,4% (ou 0,11 centavos), para 27,48 dólares/hora. O aumento do salário pode significar pressão inflacionária a longo prazo. Caso isso ocorra, o FED poderá rever para cima sua projeção de juro neutro, atualmente em 2,80%.
Entretanto, a inflação segue surpreendentemente baixa nos Estados Unidos, sem apresentar risco de desancoragem da meta de 2% a ser perseguida pelo FED, ou mesmo sequer perspectiva de aceleração acima do centro da meta. Enquanto a economia continuar sinalizando inflação comportada ao redor da meta, o FED tende a manter o benefício da dúvida, trabalhando com FFR em níveis historicamente baixos.
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