Na última semana, a Evergrande, que faz parte das 500 maiores empresas do planeta em termos de receita, veio ao mercado para informar que há possibilidade de dar um calote de US$ 300 bilhões (cerca de R$ 1,6 trilhão na cotação atual). Em termos comparativos, isso representa mais de 30% de todo o valor de mercado da Bolsa brasileira.
Desde então, o conglomerado, que já foi um dos mais prestigiados do país, passou a ser uma real ameaça à China.
A Evergrande tem se esforçado para levantar fundos para pagar seus muitos credores, fornecedores e investidores. Além disso, os reguladores seguem alertando que seus passivos podem gerar riscos mais amplos para o sistema financeiro do país se não forem estabilizados.
O Banco do Povo, o banco central e o órgão de supervisão bancária da China, convocaram os executivos da Evergrande em agosto e alertaram sobre a necessidade de reduzir riscos de dívida e de priorizar a estabilidade.
A dívida da Evergrande
A Evergrande tem que pagar US$ 83,5 milhões em juros em 23 de setembro. Ela tem outro pagamento de juros de US$ 47,5 milhões com vencimento em 29 de setembro. Ambos os títulos entrarão em default se a Evergrande não liquidar os juros dentro de 30 dias das datas de pagamento programadas.
Assim, em qualquer cenário de inadimplência, a Evergrande precisará reestruturar os títulos. No entanto, os analistas esperam um baixo índice de recuperação para os investidores.
O estresse também tem pressionado o setor imobiliário mais amplo, bem como o yuan, que caiu para uma mínima de três semanas de 6,4831 por dólar. As ações da Sunac, quarta maior incorporadora imobiliária da China, caíram 10,5%, enquanto a Greentown China, apoiada pelo Estado, caiu 6,7%.
Colapso chinês da Evergrande
Analistas já alertam para a possibilidade de um colapso no sistema financeiro chinês, o que eventualmente também geraria problemas nos mercados e nas economias internacionais.
As ações da Evergrande chegaram a cair 19% na segunda-feira, o que derrubou seu valor de mercado para uma mínima histórica por um breve período. A ação fechou em baixa de 10,24%. O índice Hang Seng de Hong Kong caiu mais de 3% na segunda-feira, liderado por imobiliárias, e o preço médio de dívidas com grau especulativo em dólares de emissores chineses teve a maior baixa em cerca de um ano.
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O caso Evegrande e o impacto mundial
A crise financeira da Evergrande coloca a economia mundial em alerta e já está sendo chamado de Lehman Brothers chinês. Lehman Brothers foi o banco que faliu e deu início à crise financeira de 2008. Portanto, o reflexo da crise da gigante chinesa está sendo sentido em todo o mundo, com as Bolsas atingindo altas quedas em seus pregões.
Os índices futuros americanos operam em queda e o índice pan-europeu Stoxx 600 recua mais de 2%.
O reflexo da crise deve atingir toda a economia mundial, mas não com tanta força como a do Lehman, que era um banco de investimentos, com operações com diversas instituições e em vários países.
Para especialistas, a situação pode ser ainda mais caótica para os países emergentes que têm muitos negócios com o país asiático, como é o caso do Brasil, que tem a China e os Estados Unidos como seus principais parceiros comerciais.
E o Brasil?
O Ibovespa opera em forte queda puxado pelas ações de Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3/PETR4), que são diretamente afetadas pela desaceleração econômica na China. A mineradora caiu mais de 3% no pregão desta segunda, após tombar quase 6% ao longo do dia. A baixa no mês é de mais de 15%.
Portanto, o efeito risco da Evergrande atinge siderúrgicas também, devido à diminuição da demanda por commodities metálicas.