A forte onda dovish global, que tem arrastado as taxas de juros dos títulos da dívida soberana significativamente para baixo e influenciado outros banqueiros centrais tomarem decisões mais frouxas, alcançou um importante país emergente nesta sexta-feira.
O CBR (Central Bank of Russian Federation), que por um período prolongado estava trabalhando com uma estratégia de manutenção da taxa básica de juros, decidiu rever sua política nesta sexta-feira, aproveitando-se do momento muito favorável no mercado de juros futuros, fortemente comprador a nível global.
A taxa básica de juros na Rússia cedeu 0,25 p.p., de 7,75% ao ano para 7,50% ao ano. O CBR apresentou uma justificativa semelhante a outros banqueiros centrais que revisaram suas respectivas estratégias desde o final do ano passado. Há receio de perda no ímpeto do ritmo de crescimento, o que abre folga para desaceleração da inflação, além de permitir contra-ataque via política monetária.
O CBR revisou sua estimativa para inflação deste ano de 4,7% a 5,2% para um intervalo de 4,2% a 4,7%. Mesmo com uma inflação próxima da observada no Brasil, o CBR tem sido mais cauteloso por questões de vulnerabilidade geopolítica, operando, consequentemente, com taxa de juros de 1 p.p. acima da taxa básica de juros brasileira.
Na África do Sul, a taxa básica de juros está em 6,75% e na Índia o juro básico já está em 5,75%. Portanto, há certa margem para o CBR voltar a cortar os juros novamente no médio prazo, por sinal, hipótese admitida no comunicado do Comitê emitido após a reunião.
A decisão do CBR é mais um tempero a favor de futuro(s) corte(s) na taxa Selic. As condições para o Banco Central do Brasil aumentar o viés dovish na política monetária, seguindo a onda global, estão cada vez mais favoráveis. Além da pressão do mercado (que já ocorre algum tempo) e do sinal verde de outros banqueiros centrais, a inflação do mês de maio no Brasil foi de apenas 0,13%, provocando recuo no acumulado de 12 meses para 4,65% ao ano. O dólar voltou operar abaixo de R$ 4,00 com certa folga e o ritmo de crescimento segue extremamente fraco.
No gráfico acima, pode-se notar a trajetória do contrato de juros futuros com vencimento em 2021. Os juros futuros da ponta curta estão oscilando em torno de 6%, sendo que o DI para 2021 já tocou em 5,98%, abaixo de um importante ponto psicológico.
Esse movimento revela que o mercado local não aposta em apenas um corte de 0,25 p.p. na taxa Selic, mas sim em dois cortes de 0,25 p.p., o que, se confirmado, derrubaria a taxa Selic para nova mínima histórica, aos 6% ao ano.
Parece um cenário bastante otimista, pois considerando a inflação atual, com uma Selic de 6% teríamos juro real de cerca de 1,5 p.p., algo nunca antes visto na história recente e, talvez, baixo demais para um país altamente endividado como o Brasil. Entretanto, se o Banco Central permitir condições para inflação recuar aos 4% ao ano, uma Selic de 6% permitira juro real de 2 p.p., no mesmo nível observado atualmente (que já é considerado baixo e arriscado do ponto de vista macro).
Na ponta longa, a diferença para a Selic também caiu drasticamente. Hoje, o contrato para vencimento em 2025 paga apenas 7,50%, atualmente revelando uma gordura incomum de 1 p.p., justamente por conta da expectativa de queda da taxa básica de juros no médio prazo.
Praticamente não existe mais prêmio de risco nos juros da ponta curta, sendo que na longa o prêmio está bem achatado (1p.p.), porém alguns investidores ainda enxergam cenário para surfar a espuma da onda nas longas. Embora a inclinação da curva continue favorável para apostas, a relação risco x retorno parece estar um pouco mais perigosa, mesmo para os mais ousados.
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