A virada de ano tende a ser marcada por ausência de novidades no cenário macroeconômico e nas estratégias de política monetária do banqueiros centrais mundiais.
Discurso para 2020
Depois de começar 2019 acelerando políticas de estímulo, autoridades monetárias do mundo inteiro começam a alterar o discurso para uma estratégia de stand-by na passagem de 2019 para 2020.
Apesar dos riscos explícitos para o próximo ano relacionados, principalmente, ao Brexit, trade war e eleições presidenciais importantes, como nos Estados Unidos, é possível notar certo tom de cautela por parte dos banqueiros centrais.
Estratégia, por sinal, bem diferente das ações pró-ativas e preventivas observadas em 2018 e meados de 2019.
As manifestações pelo mundo
As manifestações sociais persistentes que atingem cerca de 20 países não parecem ser motivo de preocupação dos Bancos Centrais, ao menos nesse primeiro momento. Essas não parecem ter as mesmas motivações, os protestos no Irã, por exemplo, não possuem relação com o movimento dos coletes amarelos na França. A violência na Bolívia não tem a mesma motivação de Hong Kong. As reivindicações dos chilenos são bem diferentes dos paquistaneses, apesar de ambos os países estarem enfrentando um caos por conta das manifestações.
Se os mercados continuarem na mesma dinâmica observada nas últimas semanas/meses, praticamente desprezando os protestos que sugiram em vários países, sem apresentar sinais de estresse ou aumento no nível de tensão, muito possivelmente os banqueiros centrais tendem continuar seguindo suas estratégias, sem apresentar alterações ou novas medidas.
A atividade industrial e o crescimento da economia
A ausência de ações preventivas dos banqueiros centrais aos riscos de 2020, neste momento, pode ser justificada pela interrupção na trajetória de desaceleração da atividade industrial, ponto fundamental para as projeções de crescimento econômico.
Conforme pode-se notar no gráfico acima, a atividade industrial global, medida pelo Instituto Markit em parceria com o J.P. Morgan, revela inflexão na curva, que até então estava em trajetória descendente (desaceleração da atividade manufatureira), mas, recentemente, virou para ascendente (aceleração da atividade manufatureira).
A alteração na trajetória ocorreu justamente no ponto de recuperação observado em anos anteriores, o que fortalece o viés dos banqueiros centrais.
Estímulos monetários
Nos Estados Unidos
Depois de o FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos) sinalizar que não pretende realizar novos cortes na FFR (Federal Funds Rate – taxa básica de juros norte-americana), mantendo-a, por enquanto, no intervalo de 1,5% a 1,75% ao ano, autoridades monetárias de outros países começaram a mudar o tom de suas respectivas comunicações com o mercado para indicar uma pausa nas estratégias.
No Brasil
No Brasil, o Banco Central deixou claro em sua última reunião de Comitê que pretende realizar novo corte na taxa básica de juros neste mês de dezembro, mas não sinalizou que realizará o mesmo movimento de corte no próximo encontro a ser realizado em janeiro/2020.
No mercado local, já se especula que a taxa Selic tende a ficar inalterada durante o próximo ano.
No Japão
O presidente do BoJ (Bank of Japan), Haruhiko Kuroda, disse em entrevista concedida à imprensa nesta última sexta-feira que apesar de a política monetária ultrafouxa ainda estar distante de alcançar a meta de inflação, não existe necessidade de expandir ainda mais o atual estímulo monetário a curto prazo.
Kuroda relatou que o BoJ tem preferência para economizar munição neste momento para utilizar caso a economia global seja impactada de forma mais dura em função dos riscos que estão no horizonte de 2020. A avaliação do BoJ é que ainda existe um amplo espaço para novas medidas de afrouxamento monetário a serem utilizadas e que não hesitará em utilizá-las, caso necessário.
Entretanto, neste momento, a autoridade monetária japonesa tem se mostrado confortável com a estratégia do stand-by.
Na China
Apesar do trade war, o presidente do PBoC (Banco Central da China), Yi Gang, disse que seu país deve manter uma política monetária normal pelo maior tempo possível e que não pretende se envolver no território de juros zero ou nulo explorados por algumas economias.
O PBoC reduziu a taxa de compulsório em sete ocasiões desde o início de 2018, como forma de contra-atacar as pressões externas do trade war, estimulando o consumo interno via empréstimos bancários.
Zhang Xuechun, vice-diretora do departamento de pesquisa do PBoC, endossou as declarações do presidente neste final de semana ao afirmar que apesar de possuir espaço para mais flexibilização monetária, o Banco Central não quer desperdiçar cartuchos à vontade neste momento.
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