Nesses últimos meses alguns economistas, analistas e gestores de fundos de investimento vem defendendo firmemente a tese de novo corte na taxa básica de juros brasileira, atualmente em 6,50%.
O pretexto para uma (pequena) nova onda de cortes na taxa Selic é basicamente o mesmo utilizado nos últimos anos: já que o PIB segue patinando, operando muito abaixo do potencial, a economia precisa de uma força adicional do Banco Central. O corte na taxa básica de juros deixaria o crédito mais barato, incentivando o consumo, o surgimento de empresas ou ampliação de negócios existentes.
Entretanto, existem alguns problemas que esse grupo pró-Selic 5,5% (com cada vez mais integrantes, por sinal) não está enxergando (talvez de forma intencional). Pouca coisa mudou em termos de taxas de financiamento nas principais linhas de crédito desde o tombo colossal da Selic de 14,25% em 2016 para 6,50% atualmente. Não por acaso o PIB praticamente não esboçou reação durante este período.
Portanto, não adiantaria cortar meio ponto ou um ponto a mais de Selic se as instituições financeiras resistem manter linhas de crédito no mesmo nível de altitude do Monte Everest. Esse filme nós estamos cansados de assistir e continua em alta no Netflix. Obviamente o problema a ser atacado para o necessário barateamento das linhas de crédito encontra-se em outra frente.
O segundo problema está na baixa guarda da meta de inflação, uma longa e dura batalha conquistada pela gestão anterior do Banco Central. Não podemos dar o luxo de assumir risco de aceleração da inflação sobre o centro da meta, caso contrário os tempos de pibinho poderão deixar saudade. A economia segue muito fraca para suportar um novo ciclo de aperto monetário para correção de um problema de inflação.
Os dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísfica) nesta última terça-feira revelaram que o IPCA acelerou de 0,32% em janeiro/2019 para 0,43% em fevereiro/2019, mesmo com o vacilo no crescimento local, câmbio relativamente estável, cenário de inflação global benigno e desemprego extremamente elevado, aos 12%.
Definitivamente não é um ambiente que deveria, nem de longe, proporcionar condições para aceleração da inflação, mas foi isso que aconteceu. A inflação acumulada dos últimos 12 meses subiu de 3,78% para 3,89%, crescendo cerca de quatro vezes mais rápido do que o PIB.
Os defensores da Selic 5,5% alegam que a meta de inflação a ser perseguida este ano é de 4,25%, portanto, o acumulado dos últimos 12 meses ainda apresentaria margem para corte adicional na taxa básica de juros. Contudo, as decisões de política monetária não causam impacto imediato na economia. Eventuais cortes na taxa Selic em meados de 2019 serão refletidos apenas em 2020, quando a meta a ser perseguida será de 4,00% e não 4,25%.
Isso significa que, considerando o horizonte de médio prazo para o balanço de risco, a inflação sinaliza estar ancorada na meta a ser perseguida em breve e cortes adicionais podem atrapalhar a manutenção deste importante ponto de equilíbrio. Considerando o horizonte de longo prazo para o balanço de risco, não há menor condição/margem de corte adicional na taxa Selic, já que a meta de inflação determinada pelo CMN para 2021 é de 3,75%.
É melhor poupar a garganta com a taxa Selic e utilizar as cordas vocais para alvos bem mais adequados e justificáveis, como o extremamente necessário ajuste fiscal.
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