Os norte-americanos adoram utilizar nomes marcantes para caracterizar situações ou movimentos de mercado. A delicada situação macro global, juntamente com o psicológico abalado por um ano volátil e muito difícil para alocação de ativos (tanto na renda fixa, quanto na renda variável e ativos alternativos), só fez crescer a utilização de jargões bearish em Wall Street, com recente destaque para a temida cruz da morte (death cross).
A média móvel de 200 períodos diária é a linha mais acompanhada pelos investidores, analistas técnicos e gestores do mundo inteiro. A segunda linha mais acompanha é a média móvel de 50 períodos diária. A relevância do cruzamento de ambas as médias para definição de tendência é tamanha ao ponto de os norte-americanos adotarem nomes para os movimentos técnicos.
O fato de o mercado operar abaixo da média móvel simples de 200 períodos diária é um ponto negativo relevante para os investidores/operadores. O alerta bearish aumenta quando se observa cruzamento de cima para baixo da média móvel simples de 50 períodos diária sobre a média móvel simples de 200 períodos diária. Esse corte de médias é conhecido como cruz da morte, nome que dispensa justificativa/comentários.
Conforme pode-se notar no gráfico acima, o S&P500 emitiu uma sinalização de cruz da morte neste mês de dezembro. A linha azul (média móvel simples de 50 períodos) cortou a linha vermelha (média móvel simples de 200 períodos) de cima para baixo, caracterizando o movimento.
Isso não significa que o mercado de ações norte-americano está obrigatoriamente entrando em um ciclo de bear market neste momento, mas na maioria das vezes em que a cruz da morte apareceu no gráfico, houve ciclo de correção. Não por acaso o temor contra um mercado de baixa em Wall Street tem sido crescente, apesar de a economia estar indo bem, na avaliação do FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos).
Uma pesquisa feita pela American Association of Individual Investors revelou que as expectativas de quedas nos preços das ações para os próximos seis meses aumentou drasticamente 18,4 pontos percentuais, saltando para 48,9%. Essa é a leitura mais pessimista desde a pesquisa com investidores feita no dia 11 de abril de 2013.
O aumento do sentimento bearish para 48,9% revela início de um movimento de pânico dos investidores após um longo período de alta no S&P500. Quanto maior a alta acumulada no mercado acionário, mais perigoso fica a aproximação do sentimento bearish na casa dos 50%.
Dados da Lipper confirmam uma corrida para vendas de ações nos Estados Unidos e podem fortalecer a sinalização de cruz da morte no S&P500. A empresa faz rastreamento de fluxo de capital desde 1992. Entre os dias 5 e 12 de dezembro, a Lipper afirma que foram resgatados cerca de 46 bilhões de dólares em fundos de ações e ETFs, a maior saída semanal da história de dados coletados pela empresa. Além disso, o número é quase duas vezes maior do que o fluxo de venda registrado em qualquer outra coleta de dados semanal feito pela empresa.
A princípio não deixa de ser um dado alarmante e incomum, mas deve-se considerar a crescente utilização de ETFs por investidores norte-americanos desde o final da década passada, o que pode explicar parte da grande anormalidade do número apontado no fluxo de vendas, já que o mercado é bullish desde 2009.
Entretanto, esse detalhe não tira o risco de um mercado bearish pela frente. Seja via ações, ETFs ou fundos, fato é que os investidores estão pulando fora da renda variável norte-americana de maneira muito rápida e incomum. Dezembro é um mês historicamente positivo para o mercado de ações, não por acaso existe outro jargão muito conhecido em Wall Street: o rali de natal (nome que também dispensa explicação).
Os nove pregões acumulados deste mês mostram que além de não ter nenhum rali de natal, por enquanto, nos Estados Unidos, os principais índices (Dow Jones, S&P500 e Nasdaq) acumulam, até o momento, o pior começo de dezembro desde 1980.
Outro fator que aumenta o temor com a cruz da morte em Wall Street é o pesado relatório do BIS (Banco de Compensações Internacionais) emitido nesta semana. O BIS é uma espécie de Banco Central dos banqueiros centrais do mundo (ou grupo que reúne os Bancos Centrais) e seus relatórios podem ser um indicador do que é discutido nos encontros trimestrais de portas fechadas.
O BIS alerta que os recentes alvoroços observados em várias praças financeiras mundiais são provavelmente os primeiros de muitos que ainda virão, isso porque os investidores devem se ajustar a um mundo de condições monetárias mais apertadas e ameaças de desaceleração no crescimento.
Claudio Borio, chefe do departamento econômico e monetário do BIS, afirmou que a normalização da política monetária está fadada a ser um desafio. Além da reversão da enorme injeção de liquidez absorvida pelo sistema financeiro global desde 2008, existe a possibilidade de alta da inflação no futuro (talvez efeito colateral tardio), problemas com excesso de dívidas corporativas com ratings mais baixos e fraqueza do setor bancário europeu.
Esses temas não chegam à praça brasileira, pois há alguns meses estamos mantendo um movimento de decoupling (descolamento) positivo em relação não somente aos pares emergentes, mas também aos mercados desenvolvidos, o que pode transmitir uma falsa impressão de que está tudo bem no mercado financeiro global.
Não se sabe até quando a praça brasileira vai conseguir sustentar o decoupling com tantos sinais temerosos externos, mas o fato é que será difícil fugir da gravidade num cenário de ampla crise nas praças financeiras globais. O grupo de mercados relevantes que entraram oficialmente em bear market (20% de queda acumulada desde a máxima histórica recente) está crescendo e já conta com México, China, Coreia do Sul, Itália e Alemanha.
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