Alguns diretores do Comitê de Política Monetária do FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos) posicionaram-se nas últimas entrevistas à imprensa recentemente que estão inclinados a iniciar uma discussão sobre a redução do nível de estímulos à economia norte-americana.
Este discurso é diferente do posicionamento oficial por parte da autoridade monetária até pouco tempo atrás, de que ainda era muito cedo para iniciar qualquer debate sobre mudanças na estratégia de política monetária.
Inflação preocupa o mercado
O fato de a inflação estar surpreendendo em seu processo de aceleração, com o mercado apostando que este processo não será apenas temporário (ou seja, ao contrário do racional do FED), pode estar incentivando alguns membros do Banco Central rever suas estimativas.
A retirada dos estímulos seria um primeiro passo defensivo de política monetária para um cenário de inflação persistentemente acima da meta dos 2% (não esperado atualmente pelo FED).
Entretanto, qualquer discussão para redução nos programas de estímulos no atual momento tende a ser realizada de forma lenta e gradual, para evitar choques no mercado financeiro. O processo paulatino não se refere apenas à desalavancagem efetiva do sistema, mas sim dos próprios debates.
O FED tem trauma do evento conhecido como Taper Tantrum em 2013, onde as taxas de juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos dispararam por erro de comunicação da autoridade monetária.

Na época, Wall Street estava viciada nos programas de QE (quantitative easing), que foram utilizados para eliminar a crise do subprime em 2008, mas acabaram injetando quantias significativas no sistema financeiro, respingando sobre o mercado através da valorização expressiva dos ativos.
Através de uma pergunta feita por um parlamentar no Congresso, Bem Bernanke, presidente do FED em 2013, revelou seus planos para redução do QE, podendo ser iniciado já nas próximas reuniões de Comitê.
A declaração de Bernanke, em meados de 2013, pegou o mercado de surpresa e o pânico se espalhou por várias praças financeiras mundiais, provocando queda expressiva das ações num período curto de tempo e rápido aumento das taxas de juros futuros. O rendimento do título de 10 anos do governo norte-americano saltou de cerca de 1,5% para 3%.
Diante do choque de preços no mercado, o FED recuou nas próximas reuniões de Comitê para acalmar o mercado, começando adotar um discurso de que qualquer mudança na política de estímulos seria feita de forma muito gradual.
Assim, a autoridade monetária norte-americana queimou quase meio ano de comunicações brandas com o mercado, mas aos poucos revelando um passo a mais para chegar na fase de redução gradual dos estímulos. Importante ressaltar que Jerome Powell, atual chair do FED, era um dos membros votantes na época e foi favorável ao processo de redução do QE já na metade de 2013.
Quantitative Easing do FED
Somente em dezembro de 2013, depois de preparar o mercado para o processo, o FED entendeu que poderia iniciar o processo de redução de compras de ativos sem afetar drasticamente os preços dos ativos.
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A redução do Quantitative Easing, no entanto, começou bem pequena. Caiu dos 85 bilhões de títulos comprados mensalmente para 75 bilhões em volume de compras. Os cortes foram aumentando gradualmente com o passar do tempo, até que todo o QE fosse zerado com o mercado já habitado com este cenário.
Atualmente, o FED compra 120 bilhões de dólares em ativos por mês no mercado.
Volume bem maior do que foi utilizado para acabar com a crise do subprime no passado. Portanto, o desafio de preparar os agentes e players de mercado para uma redução no volume de compras de ativos é muito maior agora.
O tema está sendo abordado esporadicamente por breves comentários de alguns membros do FED. Mary Daly, presidente da regional de São Francisco, disse nesta última terça-feira que está otimista com a queda do desemprego e que pode ser discutida futuramente uma redução gradual dos estímulos monetários.
Richard Clarida, vice-chair do FED, também utilizou um discurso semelhante ontem, reconhecendo que pode chegar um momento nas próximas reuniões de Comitê em que o cenário econômico estará pronto para que os membros da autoridade monetária comecem a discutir estratégias para redução do ritmo de compras de ativos.
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