O Comitê de Política Monetária do RBA (Reserve Bank of Australia) decidiu nesta terça-feira reduzir a taxa básica de juros em 0,25 p.p., para 1,25% ao ano, renovando uma nova mínima histórica.
A taxa básica de juros na Austrália estava inalterada desde agosto de 2016, período marcado por crescimento robusto do PIB global, retomada ascendente das taxas de juros dos títulos da dívida soberana e ausência de riscos relevantes no horizonte macroeconômico.
Quase três anos depois, o cenário mudou completamente. O PIB global volta a ser ameaçado com projeções de desaceleração da atividade em várias economias relevantes, tanto desenvolvidas, quanto emergentes. A esperada aceleração da inflação não apareceu, mesmo com aquecimento do mercado de trabalho. Alguns banqueiros centrais se mostram preocupados com os índices de preço operando muito tempo abaixo do centro da meta. As taxas de juros dos títulos da dívida soberana despencaram novamente, voltando a se aproximar dos baixos níveis registrados em 2016 e 2017. Os atritos entre importantes economias globais aumentaram ainda mais recentemente, ameaçando os fluxos comerciais e, consequentemente, o ritmo de crescimento e desenvolvimento de diversos países.
Vários banqueiros centrais mundiais estão utilizando estratégias de política monetária mais defensivas desde o final de 2018, já se antecipando a uma piora no cenário macroeconômico global. A comunicação por parte das autoridades monetárias ocorre, de forma geral, em tom dovish nos quatro cantos do planeta, deixando portas abertas para cortes de juros, compulsórios, políticas de estímulo, etc.
Apesar da grande importância/impacto das ferramentas de política monetária conhecidas como não convencionais (compras de ativos, por exemplo), o mercado ainda se mantém atento aos movimentos nas taxas básicas de juros, mesmo quando estão em níveis muito baixos para os padrões históricos.
Neste ano, até ontem, nenhum grande banqueiro central de país desenvolvido havia cortado os juros. Por conta disso, o movimento desta terça-feira do RBA possui relevância no mercado, pois a Austrália pode estar se antecipando, ou mesmo puxando a fila, sinalizando que outros banqueiros centrais de países desenvolvidos possam fazer o mesmo.
O banco central australiano justificou o corte de juros como forma de compensar os efeitos das tensões no comércio global, especialmente sobre a desaceleração na China, um dos principais parceiros comerciais do país. Além disso, o RBA se mostrou preocupado com os dados de inflação mais fracos do que o esperado, deixando a porta aberta para voltar a cortar novamente sua taxa básica de juros, buscando mais uma nova mínima histórica.
Philip Lowe, presidente do RBA, afirmou em entrevista concedida após a decisão do Comitê, que não é incoerente esperar uma taxa de juros menor no futuro. Alguns players de mercado já projetam três novas rodadas de corte de 0,25 p.p. na taxa básica de juros australiana até meados de 2020.
Índices de preço operando consistentemente abaixo das metas deixaram de ser um conforto psicológico, ou boa margem para manutenção dos programas agressivos de compras de ativos, como considerado nestes últimos longos anos, para se tornar, mais recentemente, num problema para vários banqueiros centrais mundiais, já que inflação baixa por um período de tempo relevante possui alto potencial de afetar permanentemente as expectativas de inflação.
Na Europa, o núcleo de inflação caiu para apenas 1,0%, muito abaixo da meta de 2% a ser perseguida pelo BCE (Banco Central Europeu), o que pode induzir a autoridade monetária estudar novas ferramentas de estímulo, na tentativa de contra-atacar a inflação extremamente baixa e impulsionar o fraco crescimento.
Nos Estados Unidos, o chair do FED (Federal Reserve), Jerome Powell, afirmou em um breve comunicado que o banco central norte-americano vai responder conforme apropriado aos riscos apresentados no cenário macroeconômico para sustentar a expansão da economia, com mercado de trabalho forte e inflação perto da meta de 2%.
Powell não mencionou propositalmente uma referência à atual FFR (Federal Funds Rate), em nível apropriado, nem repetiu a promessa de se manter paciente antes de tomar uma decisão sobre elevação ou corte na FFR, até então referências padrão nos últimos comunicados do FED. A ausência dessas referências no discurso de Powell abre definitivamente a porta para eventual corte de juros nos Estados Unidos.
A taxa de juros da Treasury de 10 anos segue o forte mergulho observado desde o final de 2018, fechando mais de 1 p.p., atualmente em 2,13%, alcançando a mínima registrada no mês de setembro do ano passado, perto do patamar psicológico de 2% ao ano. Os juros futuros começaram a se distanciar, até mesmo, do atual nível da FFR (entre 2,25% a 2,50%), mostrando aposta firme do mercado sobre futuros cortes na taxa básica de juros.
A decisão do RBA não apenas reforça o viés dovish global, como também auxilia endossar a aposta ousada do mercado de que 2019 pode ser o início de mais uma era (curta, média ou longa) de cortes nas taxas de juros e/ou estímulos monetários.
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