A fase de desaceleração do crescimento da atividade manufatureira global, iniciada no final de 2017, atingiu neste mês de junho de 2019 um novo patamar preocupante, evoluindo para um estágio de contração a nível mundial.
Essas constatações podem ser observadas no mais recente relatório de Índice Gerente de Compras Global calculado pelo Instituto Markit em parceria com o J.P. Morgan. A performance global da atividade industrial segue enfraquecendo sem esboçar nenhum sinal de alívio ou repique de alta.
O Índice Gerente de Compras global alcançou 49,4 pontos no mês de junho/2019, entrando para a zona gráfica que registra contração da atividade manufatureira pela primeira vez nos últimos seis anos e meio.
A perda de ímpeto da atividade industrial lembra o tombo observado em 2011, ainda sob os reflexos da crise estourada na década passada. A diferença é que, por enquanto, não houve sequer uma tentativa de recuperação. Conforme pode-se notar no gráfico abaixo, a contração atual é mera consequência da trajetória retilínea descendente.
Este cenário mais do que justifica a guinada dovish praticada por diversos banqueiros centrais mundiais ao longo de todo esse ano. A economia global está em sinal de alerta novamente e os bancos centrais estão fazendo o possível para impedir uma deterioração ainda maior, já que as ferramentas clássicas de combate estão limitadas (por conta das taxas de juros baixas demais).
Por outro lado, o ambiente nas praças financeiras de países desenvolvidos e emergentes não parece refletir nem de perto a deterioração da atividade global. Os mercados seguem em clima positivo, apoiados na tese de bad news is a good news.
Viciado nas maravilhas proporcionadas pelas primeiras rodadas de quantitative easing após o crash do subprime, desde então, em todos os momentos que os bancos centrais flexibilizaram a política monetária de forma não convencional (ou simplesmente ameaçaram fazer isso), os investidores têm reagido de forma muito positiva, compradores em ativos de risco em praças desenvolvidas e emergentes.
Desde 2008, quando o mundo experimentou em várias ocasiões os remédios das políticas de quantitative easing, o risco econômico não parece mais ser considerado uma preocupação relevante, pois sempre quando houve fumaça os banqueiros centrais responderam preventivamente para evitar um incêndio.
Por conta disso, o retorno da atividade industrial para o terreno de contração passou praticamente despercebido pelos investidores/operadores. Aqueles que acompanham dados econômicos de perto podem até estar estranhando o fato de não ter ocorrido, sequer, um espirrozinho no mercado, mas essa tem sido a dinâmica dos últimos 10 anos, com diferenças de grau de intensidade em alguns momentos.
A atividade econômica não deixou de ser importante, até porque muitas assets continuam investindo pesado em macroeconomia. É preciso estar ciente do cenário atual para não ser pego de surpresa por um cisne negro ou algo do tipo. Por enquanto, a atuação dos banqueiros centrais continua sendo o principal driver para o mercado, viciado nas políticas monetárias flexíveis que seguem dando sustentação aos ativos de risco, mas não significa que essa condição será perpétua.
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