Em decisão amplamente esperada pelo mercado, o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil decidiu manter inalterada a taxa básica de juros aos 6,50% ao ano. As expectativas que estavam sendo criadas nos últimos meses em relação a eventuais novas rodadas de cortes na taxa Selic já tinham sido eliminadas pelas comunicações anteriores da autoridade monetária, bem como dos membros votantes do Comitê.
Entretanto, uma decisão sobre alterações na estratégia de política monetária não parece estar definitivamente fora do radar do Banco Central. As projeções da autoridade monetária apontam para inflação de 4,3% em 2019 e 4,0% em 2020 (ambas praticamente em cima da meta de inflação a ser perseguida nestes dois anos), num cenário em que considera Selic estável aos 6,50% ao ano e câmbio constante de R$ 3,95 durante todo o horizonte de estudo.
Embora as estimativas apontem para uma inflação ancorada na meta, sem existir, portanto, margem para cortes na taxa básica de juros, o Banco Central se mostrou preocupado com a desaceleração da atividade econômica no comunicado emitido ontem após a reunião de Comitê, o que pode ser um primeiro sinal de que mudanças na estratégia de política monetária podem surgir no segundo semestre deste ano.
No comunicado, a autoridade monetária descartou qualquer possibilidade de alteração na taxa básica de juros nos próximos meses ao afirmar que “o Comitê julga importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, livre dos efeitos remanescentes dos diversos choques a que foi submetida no ano passado e, em especial, com redução do grau de incerteza a que a economia brasileira continua exposta. O Copom considera que esta avaliação demanda tempo e não deverá ser concluída a curto prazo.”
Por outro lado, ao mesmo tempo, o Banco Central revelou que estará avaliando o comportamento da economia brasileira nestes próximos meses. Isso significa que, concluída a apreciação dos dados, a autoridade monetária terá um diagnóstico mais confiável que poderá permitir mudanças (ou não) na estratégia de política monetária.
Logo no início do texto do comunicado, o Banco Central deixou pistas com o seu desapontamento em relação ao ritmo da atividade econômica doméstica, ressaltando que “indicadores recentes da atividade econômica sugerem que o arrefecimento observado no final de 2018 teve continuidade no início de 2019”. Além disso, o cenário externo permanece desafiador, em função dos “riscos associados a uma desaceleração da economia global”.
Apesar de o Banco Central descartar mudanças a curto prazo, com o ritmo de crescimento interno abaixo do esperado, somado aos riscos de desaceleração no exterior, pode-se constatar uma leve inclinação para iniciação de um novo ciclo de cortes na taxa Selic.
A projeção de inflação ancorada na meta em 2019 e 2020 não parece apresentar risco de rompimento ascendente, segundo estimativas do Banco Central. Esse balanço de riscos aparentemente favorável para a inflação abre margem para a autoridade monetária focar em futuras ações de estímulo ao crescimento através de novos (e pequenos) cortes na taxa Selic.
A inflação acumulada nos últimos 12 meses em 4,58%, levemente acima da meta de inflação de 4,25% a ser perseguida em 2019, pode estar apenas atrasando o timing para futuros cortes na taxa básica de juros.
A autoridade monetária projeta desaceleração da inflação no segundo semestre deste ano, voltando ao redor dos 4,25%. Caso o deslocamento da inflação ocorra conforme esperado pelo Banco Central, alinhada com a manutenção de um PIB (Produto Interno Bruto) fraco, poderá surgir uma janela macro para afrouxamento monetário sem causar surpresa ou ameaçar a confiabilidade dos agentes no sistema de metas de inflação, mantendo as expectativas ancoradas.
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