O dólar contra real alcançou a máxima histórica nesta última quarta-feira (27) pelo terceiro pregão consecutivo, causando grande agitação no mercado local. A tensão começou aumentar ainda na semana passada, quando a moeda havia se aproximado do recorde de R$ 4,20, considerado um importante patamar de resistência no mercado.
Comportamento do mercado
Players que abriram posição vendida próximo da zona de resistência em R$ 4,20, com objetivo natural de especulação na moeda, se viram forçados a zerar posição (comprando dólar) com a recente arrancada nos últimos dias, o que provocou aumento ainda maior da pressão para a moeda continuar subindo.
Deste modo, a rasgada acima de R$ 4,20 pode ter pegado muitos no mercado de surpresa. A agenda de reformas estruturantes está surpreendendo positivamente, o CDS do Brasil (Credit Default Swap) segue oscilando próximo da mínima dos últimos anos. A inflação está controlada e abaixo do centro da meta, a economia está em processo de aceleração da retomada do crescimento e o custo de capital (Selic/CDI) cedeu significativamente de forma sustentada.
Expectativa vs Risco
A assimetria de risco para montagem de posição vendida em dólar contra real a R$ 4,20, pegando ainda um ponto de sobrecompra técnico de curto prazo, parecia convidativa. Entretanto, a virada para baixo ainda não ocorreu no mercado por conta do surgimento de alguns drivers que até então estavam fora do radar, o que pode ter provocado estopagem de posições vendidas abertas recentemente.
Sendo assim, o principal ponto da quebra da expectativa de virada à curto prazo está justamente no fortalecimento do dólar no âmbito global nestes últimos dias. Conforme Donald Trump havia demonstrado o seu descontentamento com o dólar forte, cerca de dois meses atrás, o que provocou reação de players do mercado, vendendo dólar contra cesta de moedas globais. Saiba mais clicando aqui!
Comparativo entre Dólar e Real
O dólar entrou em movimento de correção, mas voltou a reagir para cima neste mês de novembro. Atualmente, o dólar contra a cesta de moedas globais já recuperou boa parte das perdas registradas nos meses anteriores, operando na máxima do mês. No gráfico abaixo, é possível observar a oscilação do dólar contra cesta de moedas globais (linha pontilhada) juntamente com a oscilação do dólar contra real (linha preta).
O real, assim como as demais moedas globais, passou por uma nova onda de desvalorização. Entretanto, a diferença é que, no Brasil, este movimento ocorreu com um pouco mais de intensidade, mas nada a ponto de retirar mérito do upside ou que sinalize irracionalidade do mercado.
A fala de Paulo Guedes e o impacto no mercado
A perda do real, um pouco mais acentuada aos pares, pode ser explicada pela especificidade técnica do trade local e, também, pelo fato de o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter demonstrado conforto com o patamar de câmbio.
Durante coletiva de imprensa concedida na embaixada brasileira em Washington, Paulo Guedes afirmou que o câmbio de equilíbrio do Brasil agora está mais depreciado devido ao juro baixo.
Apesar de a declaração do ministro estar correta, por possuir fundamento macroeconômico, o mercado acabou não aprovando o discurso talvez pelo fato de o Banco Central estar, do outro lado, entrando no game com seus leilões de dólar, o que pode estar causando uma mensagem difusa por parte do governo. Afinal de contas, é para deixar o dólar subir, ou não? Ninguém ainda entendeu.
Dólar vs Real no Longo Prazo
Estendendo um pouco mais o mesmo gráfico comparativo de desempenho do dólar contra cesta de moedas globais (linha pontilhada) versus dólar contra real (linha preta), pode-se notar claramente que, apesar de alguns GAPs de curto prazo, ambos tem operado com track record muito parecido.
O dólar contra cesta de moedas globais renovou o pico de 2018 em outubro deste ano, enquanto o dólar contra real renovou o pico de 2018 (antiga máxima histórica) agora neste mês de novembro. Em ambos os casos, o upside mais relevante ocorreu no início de 2018.
Portanto, o deslocamento do câmbio local não justifica tamanha gritaria observada na imprensa brasileira. Causo houvesse algum descolamento relevante, haveria motivo para preocupações.
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