Não faz nem 30 dias desde a última reunião do Comitê de Política Monetária do FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos) e mal se ouve comentários no mercado financeiro sobre os relevantes impactos provocados pela comunicação da autoridade monetária norte-americana.
Boa parte da imprensa global (incluindo a brasileira) criticou o fato de a meta para a FFR (Federal Funds Rate – taxa básica de juros dos Estados Unidos) ter subido 0,25 p.p., para o intervalo de 2,25% a 2,50%, mesmo considerando o fato de a decisão ser amplamente antecipada pelas comunicações e cronograma de política monetária do FED.
As críticas quanto à decisão do FED não tinham o menor fundamento, porém, na época, os mercados globais estavam sob forte estresse e os jornais escorriam sangue dia após dia. Ao contrário do parecer hawkish negativo observado em dezembro/2018 conforme avaliação da mídia em geral, a decisão da autoridade monetária norte-americana foi mais dovish do que o esperado.
Conforme destacado no artigo postado aqui no Finanças Inteligentes sobre a última decisão do FED, um dos pontos fundamentais ficou marcado pela queda do juro neutro para um patamar um pouco mais baixo do que o projetado anteriormente. A mediana das expectativas para a FFR em 2019 caiu de 3,1% para 2,9%, mostrando que apenas mais dois aumentos de 0,25 p.p. poderão ocorrer neste ano, ao contrário de três. Para 2020 e 2021, a projeção também cedeu de 3,4% para 3,1%, sinalizando que o ciclo de alta na FFR será um pouco menor do que o esperado, se encerrando na passagem de 2019 para 2020, com a taxa básica de juros ancorada temporariamente em 3% ao ano.
A projeção de longo prazo (após 2021) para a FFR ficou ainda mais baixa, aumentando o viés dovish da política monetária, caindo para apenas 2,8%. Este é um forte indicativo de que o juro neutro nos Estados Unidos (patamar que mantém a economia em crescimento sem criar pressão inflacionária) foi revisado para abaixo da temida red line dos 3% ao ano.
Desde 2012, quando os juros futuros começaram apresentar sinais de reversão na curva de longo prazo (de fechada para aberta), todas as ocasiões em que a taxa de juros do título do Tesouro norte-americano com prazo de 10 anos se aproximou dos 3% ao ano, o mercado se estressou ou entrou em pânico temporariamente.
Com a nova expectativa de longer run (FFR pós 2021) do FED caindo para 2,8%, criou-se condições para eliminar, ao menos por enquanto, o temor da red line no mercado da dívida soberana. Era algo para animar Wall Street, mas o movimento não aconteceu imediatamente após a decisão do FED por uma falha na comunicação da entrevista concedida pelo novato Jerome Powell. Essa falha também foi explicada no mesmo artigo postado neste blog.
Apesar do fuzilamento negativo da imprensa e de vários analistas e economistas, que se prolongou dias após a decisão do FED, alguns players de mercado começaram aos poucos entender a mensagem que a autoridade monetária norte-americana estava querendo transmitir na sua última reunião de Comitê.
Na semana seguinte que sucedeu a reunião do Banco Central dos Estados Unidos, Wall Street iniciou um forte movimento de repique (recuperação ascendente dos preços), arrastando todas as praças financeiras mundiais para cima. O S&P500 já acumula alta de cerca de 10% desde o Natal. Bolsas asiáticas, euroeias e latino-americanas seguem em franca recuperação. O Ibovespa bateu novo recorde não somente pelo efeito mito, contou, também, com uma boa ajuda da melhora do ambiente no exterior.
Isso ocorreu porque o FED adotou a estratégia de passar uma mensagem mais dovish para evitar que uma crise de mercado possa contaminar a economia norte-americana no futuro. O Banco Central conseguiu quebrar a tempo o efeito psicológico provocado pela potencial virada de ciclo no mercado acionário.
Bom lembrar que o S&P500 estava prestes alcançar 20% de queda desde a última máxima, o que, se confirmado durante alguns pregões, viraria a chave para um cenário de bear market. Por enquanto, esse risco está neutralizado, em função da eficácia na estratégia do FED.
Aos jornais encharcados de sangue, restou apenas o silêncio, talvez uma forma tímida de expressar o mea-culpa. Para o mercado, prevalece, mais uma vez, um velho ditado de várias décadas repetido em Wall Street: Don’t fight the FED.
Para uma assessoria personalizada e gratuita, clique aqui e agende uma reunião! Você receberá uma ligação minha, no dia e horário determinado.