Os diagnósticos que circulavam no mercado financeiro a respeito do nível de moderação das potenciais políticas de esquerda do presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, caíram por terra no discurso de posse realizado nesta última terça-feira.
Este pode ser o segundo grande erro de avaliação do mercado com a Argentina neste ano.
Os equívocos do mercado
O primeiro equívoco ocorreu logo depois das pesquisas das eleições primárias, que revelaram grande possibilidade de derrota de Maurício Macri, na época, atual presidente do país. O mercado entrou em choque, pois considerava baixa a possibilidade de derrota de Macri (candidato de direita e com agenda pró-mercado) nas eleições presidenciais.
Após o baque das primárias, o nível de tensão no mercado reduziu consideravelmente ao longo das semanas seguintes, pois se esperava que Fernández pudesse adotar uma agenda mais ao centro e não tanto à esquerda. A diferença de votos era tão grande que já se especulava sobre os movimentos do líder peronista na Casa Rosada.
Entretanto, o discurso de posse de Alberto Fernández revelou uma entonação bem mais à esquerda do que se esperava no mercado. Em plena cerimônia, o novo presidente da Argentina disse que seu país está em default virtual. Definitivamente não é uma mensagem positiva e/ou de aproximação com os credores da dívida soberana.
O discuro de Alberto Fernández em relação a economia argentina
Fernández ressaltou que o pagamento da dívida só será sustentável caso a Argentina volte a crescer, o que pode dar a entender que o país, primeiro, buscará medidas para retomar o crescimento econômico e, posteriormente, vai procurar formas de pagar a dívida.
Sendo assim, o pacote de retomada do crescimento comumente utilizado pelos argentinos nos últimos anos/décadas são as velhas políticas heterodoxas, com uma boa dose de intervencionismo, que, por sinal, se mostraram enormemente ineficientes, a exemplo dos machucados ainda recentes provocados pela era Kirchner.
O novo ministro da Economia Argentina
A nomeação de Martín Guzmán para ministro da Economia da Argentina reforça a percepção de um viés político mais à esquerda do que ao centro.
Guzmán é considerado especialista na área de reestruturação de dívidas. Já circulam especulações de que a principal tarefa do ministro da Economia será a de negociar uma reestruturação da dívida com os credores (palavra bonita para substituir default).
O restante do time argentino
Para completar o time heterodoxo no primeiro escalão da equipe econômica, Fernández nomeou Miguel Angel Pesce para presidir o Banco Central da Argentina. Este nome causa arrepio no mercado. Pesce já presidiu interinamente o Banco Central em 2010, na gestão Kirchner, e também atuou como vice-presidente da autoridade monetária durante um longo período de tragédia econômica (2004-2015).
O novo presidente do Banco Central da Argentina já adiantou que a abordagem atual ortodoxa de combate à inflação está errada. Pesce quer uma redução significativa das taxas de juros e, para reduzir os preços em alta, vai propor um pacto social.
Será mais uma tentativa frustrada?
Na linguagem dos argentinos, pacto social para combater a inflação significa descer os juros na marra, proporcionar aumento de renda/salário e fazer um acordo para que os agentes não subam seus preços.
Parece não haver quantidade suficiente de experimentos frustrados para entender macroeconomia na Argentina.
Um dos filmes mais velhos e repetidos das últimas décadas, grande responsável por afundar o país na pobreza, poderá retornar nos próximos anos. Boa sorte aos argentinos.
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