Em tempos de Brexit tumultuado, guerra comercial entre Estados Unidos versus China e trocas de farpas na OMC (Organização Mundial do Comércio), qualquer comentário na direção contrária, relacionado, principalmente, a acordo(s) comercial(is), parece loucura ou miragem no deserto.
O protecionismo global dificilmente fica de fora da imprensa por mais do que uma semana. Volta e meia surgem matérias aterrorizantes sobre o tema. Curioso é que justamente na era em que a globalização está sendo enterrada por parte da mídia e opinião pública, surgiu o maior acordo comercial do planeta.
Na sexta-feira passada, dia 01/02/2019, Japão e UE (União Europeia) iniciaram formalmente a APE (Acordo de Parceria Econômica), criando a maior zona de livre comércio do mundo, englobando 635 milhões de pessoas, 36,9% do comércio global e 27,8% do PIB (Produto Interno Bruto) do planeta. O acordo é significativo e abrangente, pois foram eliminadas praticamente todas as tarifas aduaneiras impostas sobre produtos de ambas as partes.
Apesar dos discursos marcantes, além da própria relevância deste acordo comercial, a repercussão na imprensa local e global foi quase nula. Apenas jornais japoneses e europeus cobriram o fato de forma justificadamente entusiasmada.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, fez um discurso firme celebrando o início da APE, ressaltando não somente as vantagens econômico-financeiras deste acordo comercial para europeus e japoneses, mas, também, induziu um excelente ponto de reflexão ao afirmar que o comércio é muito mais do que cotas e tarifas, é algo que consiste em valores e princípios.
Obviamente alguns setores serão beneficiados e outros prejudicados em cada lado. Vinhos e queijos europeus, por exemplo, terão aumento de market share no Japão, afetando produções locais de menor qualidade ou custo mais elevado. Peixes e automóveis japoneses terão aumento de market share na Europa, afetando produções locais de menor qualidade ou custo mais elevado.
Nenhuma das partes se mostrou preocupada em defender interesses de determinada indústria ou segmento, já que praticamente todas as tarifas aduaneiras foram eliminadas. Tanto a UE, quanto o Japão, apostam nos benefícios da globalização, onde, na amplitude macro, as perdas são inferiores aos ganhos para os dois lados.
Não se deve descartar a hipótese de que o início formal do EPA pode impulsionar uma onda de reflexões na Casa Branca. Há alguns meses Estados Unidos e China tentam alcançar consenso para interrupção da guerra comercial.
Já faz algumas semanas que Donald Trump não solta um tweet inclinado ao protecionismo, o que pode ser um sinal de que uma mudança de rota está em curso. Também já faz algum tempo que não surgem reclamações por parte de empresários norte-americanos. Pode até ser que o discurso de Trump continue o mesmo (por estratégia política), mas é possível que acabe no velho ditado do cão que ladra não morde.
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