Membros do Fomc (Comitê de Política Monetária do Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos) decidiram nesta quarta-feira manter a FFR (Federal Funds Rate – taxa básica de juros norte-americana) inalterada entre o intervalo de 0% a 0,25%.
Decisão esperada pelo mercado
A decisão era amplamente esperada pelo mercado, porém as projeções da autoridade monetária, bem como comunicado divulgado após a importante reunião de Comitê quebraram algumas expectativas de aceleração da inflação no médio/longo prazo, o que justificaria aumento da FFR.
O pressentimento de retorno da inflação nos Estados Unidos demonstrado por alguns grandes players de mercado provocou uma forte abertura da curva do título do Tesouro norte-americano de 10 anos, que chegou a bater 1,66% ao ano neste último pregão. Cerca de 12 meses atrás, a taxa de juros da Treasury de 10 anos circulava em torno de 0,60% ao ano.
Alguns analistas/economistas esperavam uma postura menos dovish do FED quando à política monetária, como forme de acalmar o mercado de juros futuros e antecipar defesa para um eventual cenário de aceleração da inflação.
Os drivers que alimentam o temor de uma inflação elevada nos Estados Unidos são constituídos basicamente pelo novo e muito expressivo pacote de estímulos aprovado pelo Congresso no valor de 1,9 trilhão de dólares, bem como avanço das vacinas contra o coronavírus, abrindo espaço para forte retomada do crescimento neste ano.
Revisão do FED para o PIB americano
O próprio FED revisou de forma considerável sua expectativa de crescimento da economia norte-americana este ano, de 4,2% para 6,50%. A mediana das projeções para o PIB de 2022 subiu de 3,2% para 3,3% e para 2022 recuou de 2,4% para 2,2%.
Apesar do forte crescimento estimado para 2021, a mediana de projeções dos membros do Fomc para a taxa de desemprego recuou pouco, de 5% para 4,5%. Para 2022, espera-se desemprego de 3,9% (um pouco menor do que a projeção anterior de 4,2%). Em 2023, a expectativa para a taxa de desemprego recuou de 3,7% para 3,5%.
Projeções para inflação
Com relação a inflação, a mediana das projeções para este ano subiu de 1,8% para 2,4%. Entretanto, para o ano seguinte, a expectativa é que a inflação voltará recuar para a meta de 2%, mantendo-se muito próximo deste patamar no longo prazo.
Já dentro do núcleo de inflação, índice preferido da autoridade monetária norte-americana, a mediana das projeções aponta aumento razoavelmente tímido de 1,8% para 2,2% em 2021. Para os próximos anos, as estimativas para o núcleo de inflação também voltam a se ancorar na meta de 2%.
Mudança na estratégia no último ano
Importante ressaltar que no ano passado o FED alterou sua estratégia para as metas de inflação, passando a ser mais tolerante com os números de curto prazo, para focar os movimentos com a FFR observando o horizonte de médio/longo prazo.
Portanto, o cenário atual de inflação levemente acima da meta de 2% em 2021 não justifica uma mudança na estratégia de curto prazo com a FFR, até porque a autoridade monetária espera recuo da inflação já no próximo ano.

Por conta disso, as projeções do FED apontam que não existe expectativa de elevação da FFR até pelo menos 2023. Por outro lado, num horizonte bem mais longo (coluna longer run), a expectativa é de normalização da FFR em torno de 2,5%, conforme pode-se constatar no gráfico de pontos do FED acima.