O Comitê de Política Monetária do FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos) decidiu nesta última quarta-feira elevar a FFR (Federal Funds Rate – taxa básica de juros) em 0,25 p.p., para o intervalo entre 2% a 2,25% ao ano. O mercado, cautelosamente preparado pela autoridade monetária, reagiu bem a decisão.
Sem surpresas, o FED está seguindo um caminho traçado há mais de três anos, antes mesmo de iniciar o ciclo de aumento na FFR. O destaque da reunião desta última quarta-feira ficou por conta da retirada do trecho do comunicado que mencionava o viés da política monetária.
Até ontem, o FED considerava que a política monetária operava em terreno expansionista. A partir de agora, a autoridade monetária considera que a política monetária deixou de ser expansionista, mas não mencionou no texto uma mudança para política restritiva. Entretanto, é algo que está no script para começar acontecer a partir de 2019.
O gráfico de pontos abaixo mostra a mediana de projeção para a FFR de cada um dos membros do Banco Central dos Estados Unidos. Pode-se notar que mediana está em ascendência para os próximos 3 anos. Em 2019 a FFR tende a se deslocar para 3,1% ao ano. Em 2020, a FFR tende alcançar máxima histórica desde a crise do sub-prime, aos 3,4% ao ano. Este patamar tende a se manter em 2021.
Entretanto, a projeção de longer run para a FFR recua para 3% ao ano, atualmente considerada a taxa de juro neutra (na qual o nível de juros mantém a inflação ancorada, não provocando estímulo e nem restrição ao crescimento econômico).
O fato de os membros do Comitê projetar taxa de juros neutra de 3% ao ano no longo prazo, porém, ao mesmo tempo, estimar um patamar superior ao ponto neutro em 2019, 2020 e 2021 (0,4 p.p. acima do juro neutro na máxima deste período) pode demonstrar um desejo por gordura na FFR.
Isso significa que o FED está muito confortável com o ritmo de crescimento da economia para os próximos anos, ao ponto de trabalhar uma política monetária levemente restritiva. A lógica em buscar gordura na FFR para os próximos anos é bastante simples: acumular bala/cartucho para ser utilizado/queimado no futuro.
A economia norte-americana acumula longa trajetória de crescimento sem passar por período de recessão. É improvável que o PIB continue em trajetória de crescimento ininterrupto durante toda a próxima década, apesar de não ser algo impossível. Independente do motivo, em algum momento poderá surgir uma pausa no crescimento norte-americano.
Quando este momento chegar, o FED terá bala/cartucho para utilizar/queimar, o que, entre outras palavras, significa cortar a FFR sem necessariamente provocar efeito colateral de aceleração da inflação, justamente porque existe gordura na taxa.
O fato de o FED sinalizar busca por uma FFR acima do patamar neutro para os próximos 3 anos não assustou o mercado, mas alguns banqueiros centrais de países emergentes agiram com precaução em resposta ao movimento do FED (Filipinas e Indonésia subiram suas respectivas taxas básicas de juros nesta quinta-feira).
A reação dos preços dos ativos de risco nas praças financeiras globais, a princípio, transmitiu sentimento positivo/serene nesta quinta-feira. Por mais que o cenário de longo prazo apresenta-se desafiador, a FFR tende a se manter abaixo do patamar de juro neutro até meados de 2019, o que pode gerar certo alívio temporário ou servir de pretexto para o mercado comprar mais tempo na tentativa de sustentar o ciclo da bonança.