A euforia compradora que tomou conta das treasuries (títulos do tesouro norte-americano) cerca de um ano atrás parece ter chegado ao fim. Desde o mês de setembro não se observa mais a intensidade atípica do movimento comprador em treasuries.
A curva, até então muito fechada, começou a ficar flat na virada do mês de agosto para setembro e, posteriormente, emitiu o primeiro sinal de abertura.
Resposta do mercado
Houve tentativa de manter a curva fechada em meados do mês de setembro, possivelmente por parte de alguns players que ainda estavam segurando posições antigas na ponta compradora. Mesmo assim, o mercado revidou logo em seguida com uma nova saraivada de venda de treasuries, emitindo um sinal mais claro de que o fechamento da curva chegou ao fim, ao menos por enquanto.
Panorama atual
Atualmente a Treasury de 10 anos (referência global) é negociada aos 1,94% ao ano, relativamente superior a taxa praticada no final do mês de agosto e início do mês de setembro, aos 1,47%, apresentando uma nova dinâmica para o mercado de juros futuros, o que pode ter forçado movimentos de stops e/ou zeragens de posições compradas.

Players ganham dinheiro especulando em ponta comprada somente quando a curva da Treasury está fechada (taxas de juros em trajetória descendente).
Quando a curva abre (taxas de juros em trajetória ascendente), as treasuries desvalorizam, trazendo prejuízo às posições compradas. Não por acaso, quando a curva abre, os hedge funds tendem virar a mão, shorteando treasuries.
Mudança de dinâmica das treasuries
É um movimento relevante para o mercado financeiro, pois sua inclinação costuma causar impacto em outros segmentos do mercado e, também, afetar curvas de juros futuros de países desenvolvidos e emergentes.
O término da euforia
Aconteceu na mesma região de esgotamento de taxa observada no passado, no último movimento de fechamento de curva, iniciando em 2015. Na época, a onda compradora começou quando a Treasury de 10 anos estava pagando 2,50% e terminou quando o título bateu em 1,37%. Nesta última onda, o movimento começou em 3,23% e parou somente quando chegou em 1,50%, próximo do suporte histórico.

Cautela no discurso
A reaproximação da Treasury de 10 anos aos 2% ao ano pode ter sido influenciada pela estratégia de política monetária do FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos). Desde o mês de setembro, os diretores do FED tem adotado um discurso mais cauteloso com relação aos futuros cortes na FFR (Federal Funds Rate – taxa básica de juros norte-americana).
A redução de 0,25 p.p., para o intervalo de 1,5% a 1,75%, estava na mesa, conforme sinalizado anteriormente pela própria autoridade monetária norte-americana. Entretanto, eventuais novos cortes de 0,25 p.p. (o que poderia jogar a FFR para o intervalo de 1,25% a 1,5%, ou menos para o intervalo de 1% a 1,25% ao ano) estavam fora das discussões entre os membros votantes do Comitê de Política Monetária do FED.
Na última reunião de Comitê a cautela foi confirmada, com a autoridade monetária norte-americana ressaltando no comunicado oficial que não pretende cortar novamente a FFR por enquanto, exceto se houver grande alteração no cenário macroeconômico. Para saber mais, clique aqui!
Com a comunicação menos dovish do FED, o mercado, viciado em políticas monetárias muito frouxas, reagiu imediatamente, impactando as taxas dos títulos da dívida soberana norte-americana.
Como ficou a situação pelo mundo
O movimento de abertura na curva de juros futuros afetou, também, títulos do tesouro do Reino Unido (atualmente pagando 0,80% ao ano, frente aos 0,40% registrados em setembro), títulos do tesouro Japonês (atualmente pagando -0,05% ao ano, frente aos -0,29% registrados em setembro), títulos do tesouro Alemão (atualmente pagando -0,25%, frente aos -0,72 registrados em setembro), títulos da Índia (atualmente pagando 6,56% contra 6,33% de meses atrás), títulos do México (atualmente pagando 6,89% contra 6,71% registrado no mês passado), títulos da África do Sul (atualmente pagando 8,5% contra 8,09% registrado no mês de setembro), entre vários outros países.
E o Brasil
Até mesmo o nosso país, que passa por uma nova rodada de cortes significativos na taxa Selic, sofreu impacto com a mudança na inclinação global das curvas de juros futuros. A taxa de juros do título do governo brasileiro com vencimento em 10 anos subiu de 6,37% para 6,73% ao ano, o que pode ter pegado alguns investidores/operadores focados apenas no noticiário macro interno de surpresa.
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