Na medida em que o clima de euforia no mercado vai se reduzindo com a lateralização das principais bolsas de valores mundiais, após um início de ano espetacular, o ponto de interrogação começa a incomodar alguns analistas, traders e hedge funds. Será que houve exagero no rali da virada 2018/2019?
Os velhos e conhecidos riscos macroeconômicos podem estar voltando aos modelos de alocação de recursos. É possível acertar algum deles de olhos fechados: (i) desaceleração do crescimento na China, (ii) redução no ritmo de crescimento na Europa (com direito a recente alerta do BCE), (iii) Brexit tumultuado, (iv) políticas monetárias voltando e ficar preventivamente mais dovish (inclusive a do FED), (v) esgotamento dos efeitos imediatos e positivos do pacote de reforma tributária nos Estados Unidos, (vi) alertas do FMI sobre o crescimento global, (vii) receio com a redução da taxa de crescimento dos lucros das empresas.
O sinal de que alguns desses riscos retornaram às estratégias operacionais de investidores ou ao cenário base de algumas assets está na última disparada do dólar, o que acabou levantando a fumaça no mercado para o mundo inteiro enxergar.
Conforme pode-se notar no gráfico acima, o dólar contra cesta de principais moedas globais está em forte disparada desde o final do mês de janeiro/2019, já se aproximando da máxima registrada no ano passado.
O dólar continua sendo muito utilizado como porto seguro em momentos de apreensão ou detecção de risco nas demais classes de ativos. A recente valorização do dólar mostra uma corrida por proteção contra um cenário ainda não concretizado.
Da mesma forma que o FED pode estar fazendo um movimento preventivo em sua estratégia de política monetária ao consumar uma guinada incomum de 180 graus para uma rota bem mais dovish do que o projetado no ano passado, o mercado também pode estar buscando proteção por precaução. Sabe-se lá o que o FED enxergou (e não revelou) para o médio prazo.
Um dos riscos macroeconômicos citados no início deste artigo é fato praticamente consolidado. Até o momento, a média de crescimento do lucro líquido do quarto trimestre de 2018 (já divulgada por 66% das empresas que participam da composição do S&P500) alcançou 13,3%, o que, se confirmada, será o primeiro trimestre em que o índice não registra aumento de 20% no lucro líquido desde 2018 segundo a FactSet Research.
Mike Wilson, um renomado estrategista-chefe de renda variável do Morgan Stanley, realizou nesta segunda-feira um call de recessão de lucros no S&P500. O estrategista acredita que as chances de uma contração nos lucros das empresas estão aumentando mais rápido do que o esperado anteriormente.
O levantamento de expectativa de lucros do Morgan Stanley aponta para um crescimento médio dos lucros no S&P500 de apenas 9,5% no quarto trimestre de 2018 e retração de 1% no primeiro trimestre de 2019.
Além disso, o banco também alerta que a inflexão (retomada ascendente dos lucros), esperada para o final de 2019 e início de 2020, além de ser lenta, está longe de alcançar os patamares registrados em 2018.
A expectativa de inflexão também é considerada frágil pelo estrategista-chefe do Morgan Stanley, já que, normalmente, tal movimento sofre impulso de uma compensação no crescimento (desaceleração para aceleração) ou cortes de impostos, duas forças que estão totalmente fora do jogo neste momento.
Por fim, Wilson alertou aos seus investidores para se prepararem para novas revisões para baixo nos lucros das empresas e maior volatilidade no mercado, o que significa que a inflexão no gráfico acima pode ser ainda menor.
Os calls do estrategista-chefe do Morgan Stanley possuem relativo peso no mercado em função de sua boa reputação (considerado perfil moderado) nos corredores de Wall Street. Além disso, outros analistas/bankers já haviam realizado revisões mais pessimistas nos últimos dias/semanas e, com o reforço do Morgan Stanley, é possível entender porque apareceu a fumaça no dólar.
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