Questionar se a bolsa de valores brasileira está barata, é algo realizado por todo investidor no momento da tomada de decisão em suas alocações. Para trazermos dados que referenciem uma resposta fundamentada, precisamos ter um referencial de comparação: barata/cara em relação a algo, ou barata/cara para alguém.
Ao longo das últimas semanas trouxemos diversos indicadores relacionados a esses assuntos, convido você a ler os posts anteriores clicando aqui!
O estudo atualizado que estamos apresentando hoje, já foi disponibilizado a nossos clientes nas últimas semanas, auxiliando alguns investidores e trazendo bons resultados.
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Mas afinal, a Bolsa de Valores brasileira (Ibovespa) está abaixo do preço justo?
Em real: Não, está no preço, diante das recentes altas das cotações;
Em dólar: Sim, está historicamente abaixo do preço .
Esta pode ser uma afirmação polêmica frente a uma questão tão complexa e questionada por todo o mercado financeiro. Nosso artigo não é uma recomendação de compra ou venda, até porque a legislação brasileira no mercado de capitais não nos permite sombreamento de profissões. O intuito é instigar o investidor a raciocinar com diferentes indicadores. Nosso leitor sabe que não acreditamos em respostas simples para perguntas complexas, portanto, segue abaixo uma lista de informações para enriquecer… o debate de ideias.
Podemos pensar nessa questão de maneiras diferentes, de acordo com o referencial e o perfil do investidor. Hoje apresentaremos alguns indicadores em Real (investidor nacional), amanhã em Dólar (investidor estrangeiro):
1 – Preço/Lucro da Bolsa de Valores Brasileira

O P/L (preço da cotação dividido pelo lucro por ação) é o indicador fundamentalista mais utilizado no mercado acionário. Simplificadamente, o múltiplo P/L referencia o número de anos necessários para o investidor obter o retorno de seu investimento em uma ação (empresa), por intermédio apenas dos dividendos repassados ao acionista (hipoteticamente tendo 100% de distribuição dos lucros).
Análise de regressão linear (econometria)
O Preço/Lucro médio da bolsa brasileira nos últimos 10 anos é de 11.3 tendo um desvio padrão médio em banda de 9.8 a 12.7.
Durante essa crise, a bolsa de valores brasileira chegou a bater 8 anos/lucro, historicamente descontado em relação à média e desvio padrão. Desde o “fundo do poço” até o preço atual, dada rápida recuperação em nosso mercado, temos uma nova relação a 13,19 já acima da média história e acima também da banda do desvio padrão.

Este indicador varia não só pelo preço da ação, mas em mesma proporção ao lucro gerado pelas empresas. Quando tivermos mais resultados trimestrais das empresas diante da crise atual, caso permaneçamos no preço atual de cotação, devemos ter o indicador P/L ainda mais alto, dada provável diminuição do denominador (Lucro). Olhando desse ponto de vista, diferente de semanas anteriores da atual crise, não estamos mais tão baratos, de acordo com o P/L, no preço do Ibovespa em real.
Isso quer dizer que nossa Bolsa está cara e devemos “stopar” nossos Investimentos?
Não necessariamente, segue o porquê.
O preço da bolsa é influenciado por diversos indicadores e comportamento dos Investidores, desde fatores tangíveis (Taxa de juros, Risco País, Commodities, Lucro das Empresas…) como fatores intangíveis (Cenário Político, condução da Política Econômica, Expectativa dos Investidores…)
Alguns desses fatores são mais importantes do que outros, podendo elevar o P/L médio da bolsa por anos, e mesmo assim ser um movimento “saudável” ou seja, com fundamentos. Alguém que aloca seus recursos sem olhar o Mercado de Capitais por diferentes espectros, geralmente fica fora dos momentos oportunos e rentáveis na construção de patrimônio.
Podemos utilizar como exemplo 2 cenários reais, completamente distintos, que vivemos em nossa bolsa ao longo dos últimos 8 anos:
2 – Ciclos Político/Econômicos e a Taxa de Juros

Peço que olhem com atenção o gráfico acima:
– Nos candles (tracinhos verdes e vermelhos) temos a variação da bolsa de valores brasileira semanal desde 2012;
– Na linha laranja temos a Taxa de Juros paga pelos Bonds (títulos do Governo) de 10 anos, representando a nossa SELIC;
A primeira relação que podemos perceber (nosso leitor já está acostumado) é que temos uma variação inversamente proporcional entre a Taxa de Juros e o Ibovespa. Um é espelho do outro, em momentos de picos na Taxas de Juros, vemos fundos no Ibovespa, em momentos de picos no Ibovespa vemos fundo nas taxas de juros.
O que isso quer dizer? Resumindo em uma frase: momentos de maior aversão ao risco elevam os juros e o CDS para cima, ao mesmo tempo em que os investidores mais pessimistas vendem suas ações.
Deste ponto de vista, vivenciamos 2 ciclos bem diferentes, na relação P/L, nos últimos 8 anos:

2012 a 2015
tivemos um cenário de inflação aumentando, juros futuros subindo, e crescente instabilidade política. Resultando em uma SELIC maior, com muitos investidores migrando para retornos mais atrativos na renda fixa e com maior aversão ao risco.
Isso fez com que nossa bolsa negociasse mais “descontada” em relação ao lucro das empresas, em uma média abaixo do histórico (caracterizando como oportunidade de compra no indicador P/L) e mesmo assim, por 4 anos os investidores amarguraram mais perda do que prejuízos em seus investimentos.
Para os holders, os anos seguintes demonstrariam a importância do longo prazo nos investimentos em renda variável.

2016 até 2020
Cenário inverso ao anterior, impeachment alternando o cenário político, novo Governo mais liberal na economia, inflação mais controlada e juros futuros caindo.
Isto fez com que os investidores melhorassem suas expectativas futuras para renda variável, com menor aversão ao risco, gradativamente migrando parte do seu capital da renda fixa para a renda variável; elevando o preço das ações e consequentemente seu valor na relação Preço/Lucro.
Até antes da crise a média de P/L da bolsa brasileira ficou em torno de 16,5 neste período, dada perspectiva de aumento de lucro futuro das empresas e manutenção das baixas taxas de juros.
Essa análise nos mostra que é importante estudo de indicadores como o P/L no auxílio à tomada de decisão na alocação de capital, porém, um indicador isolado não reflete totalmente o cenário.
O fato de estarmos antes da crise acima da média histórica, não necessariamente refletia preços absurdos, na verdade evidenciava uma perspectiva bastante positiva já precificada por parte dos investidores; tanto na manutenção das baixas taxas de juros (fluxo renda fixa x variável) como em relação ao lucro das empresas dada perspectiva de desempenho econômico. Todo esse cenário otimista inverteu-se rapidamente após a crise, conforme abordado no início do artigo.
3 – Preço atual da Bolsa Brasileira e expectativa dos Investidores (em real):
Gráfico diário da bolsa de valores brasileira e ciclos de variação em 2020

Conforme apresentamos desde meados de março, o investidor está precificando um cenário diferente dos ciclos comparados anteriormente, podemos pensar com um “mix” dos dois. Não temos um consenso de expectativa das principais variáveis explicativas do comportamento do Ibovespa:
Taxas de Juros
Mercado precifica de maneira positiva. A recente recuperação dos preços e consequente aumento na relação P/L parece estar muito mais ligada à liquidez e manutenção de taxas de juros historicamente baixas (atraindo capital migrante da renda fixa) do que qualquer outro indicador;
CDS, Covid-19 e Cenário Político
Mercado precifica de maneira negativa. A pandemia, somada a radicalização de algumas atitudes de Governantes e os recentes atritos entre os poderes políticos, faz com que diversos investidores ainda permaneçam com aversão a risco em seus investimentos. Isso fica refletido no ainda alto Risco País, que mesmo diante dos juros historicamente baixos, ainda permanece acima de episódios como Joesley Day e Greve dos Caminhoneiros.

Manutenção da política econômica liberal e continuidade das reformas
Mercado precifica parte de maneira positiva e parte com cautela. O mercado ainda é receoso enquanto a orientação econômica do Presidente, dadas afirmações de anos anteriores.
Diante disto, a continuidade do Ministro Paulo Guedes no Governo (representando continuidade da agenda liberal) parece ser unânime no impacto positivo no preço de mercado atualmente, surpresas neste quadro poderiam corrigir significativamente a bolsa brasileira em curto prazo. Do lado da continuidade das reformas, cenário ainda bem incerto, dependendo das relações e da aproximação do poder Executivo com a Câmara e os partidos de centro.
Cenário econômico e lucro das empresas
Expectativa historicamente mais importante (junto dos juros) e que mais inverteu diante do cenário de crise atual. Mercado hoje parece precificar o que alertávamos no início da crise, a recuperação do lucro das empresas listadas em bolsa tende a ser mais rápida do que da economia real (PIB, emprego, pequenas empresas…). Ao mesmo tempo as grandes empresas brasileiras tendem a ganhar market share em momentos de crise, dada resiliência maior do que as demais empresas da economia real.
Alguns são os fatores para isso acontecer: Acesso a juros mais baratos, refinanciamento de dívidas, demissão em massa e férias coletiva, maior acesso a pacotes de ajuda Governamental, vantagens tributárias, ganhos de escala e robustez de caixa para aguentar a queda de receita.
4 – Diferentes Investidores, diferentes cenários na bolsa de valores brasileira
Temos ausência de um cenário de consenso nas variáveis apresentadas anteriormente (acima da média), e também temos ausência de consenso entre os Perfis de Investidores em nossa bolsa. Desde que iniciei a atuação no mercado de investimentos, quase 14 anos atrás, não me recordo de ter visto tamanha divergência entre os Investidores Nacionais e Estrangeiros.
Ações brasileiras em Dólar (branco) X Ibovespa (verde) em Reais desde Impeachment:

O volume, e a quantidade, de investidores Pessoas Físicas no Brasil têm batido recorde atrás de recorde, se fôssemos contabilizar apenas os investidores PF a bolsa brasileira não teria caído nem 1% durante a atual crise. Desde o início do ano o saldo dos investidores é positivo (comprado). O mesmo acontece para os Fundos de Investimentos Nacionais (Institucional):

Mas e como anda essa atualização no mês de maio?
Conforme apresentaremos abaixo. Da mesma forma, chamando atenção recorde mensal histórico de participação no volume total de operações das Pessoas Físicas acumulado em 24% do total.

Mas afinal o que faz com que os Investidores Nacionais fiquem tão otimistas com a alocação em bolsa no Brasil? Abordamos isso detalhadamente em um conteúdo anterior aqui no blog, e em alguns dos dados apresentados hoje.
Podemos resumir a maioria das respostas no gráfico abaixo: SELIC historicamente baixa obrigando o Investidor a sair da zona de conforto e buscar alternativas mais ativas em seus investimentos:

Repare a evolução exponencial no número de investidores PF no Brasil diante do acentuado ciclo de queda na taxa de juros:

5 – E os Investidores Estrangeiros na bolsa de valores brasileira?
No próximo artigo, focaremos exclusivamente na análise do comportamento do principal investidor da bolsa de valores brasileira (em % do total do volume). Mostraremos quais dados historicamente se relacionam e qual nível de preço estamos negociando hoje no Ibovespa Dolarizado.
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