Artigo de hoje é o segundo de uma série de estudos, que abordam uma estimativa do preço de nosso mercado atualmente. No anterior trouxemos diversos indicadores que fundamentaram nossa percepção da Bolsa de Valores Brasileira em Reais, você pode acessar clicando aqui!
Hoje focaremos no estudo do Ibovespa Dolarizado (Bolsa brasileira cotada em dólares) e no comportamento do Investidor Estrangeiro, o maior participante em % de volume de recursos em nosso mercado.
Iremos repetir a pergunta, e resposta, do post anterior para iniciarmos a abordagem de hoje:
A Bolsa de Valores brasileira (Ibovespa) está abaixo do preço justo?
Em real: Não, está no preço justo, diante das recentes altas;
Em dólar: Sim, está historicamente abaixo do preço médio;
Esta pode ser uma afirmação polêmica frente a uma questão tão complexa e questionada por todo o mercado financeiro. Nosso artigo não é uma recomendação de compra ou venda, até porque a legislação brasileira no mercado de capitais não nos permite sombreamento de profissões. O intuito é instigar o investidor a raciocinar com diferentes indicadores. Nosso leitor sabe que não acreditamos em respostas simples para perguntas complexas, portanto, segue abaixo uma lista de informações para enriquecer… o debate de ideias.
1 – O que é o Ibovespa Dolarizado e como encontra-se essa relação?
Bolsa de Valores Brasileira/Ibovespa em real (verde) X Bolsa de Valores Brasileira/Ibovespa em dólar (branco), variação desde impeachment:

Ibovespa Dolarizado é o Índice da Bolsa brasileira cotado em dólar, que é como os Investidores Estrangeiros interpretam o mercado brasileiro. Ao investir em outra nação você precisa fazer o cálculo da variação cambial para obter a rentabilidade real do investimento. Alguns investidores nacionais que buscam a gestão e proteção completa de patrimônio (dada instabilidade de nossa moeda), também optam por diversificarem suas carteiras alocando em ativos indexados ao dólar, o que eu acho muito importante.
Como lidamos com duas variáveis em um ativo, o cenário para investimento requer o dobro de atenção, ao comprar um produto como Ibovespa Dolarizado, estamos sujeitos a variação da Bolsa + variação do Dólar em proporções iguais. Portando mesmo a bolsa esteja estável, posso ter rentabilidade positiva ou negativa de acordo com o comportamento da moeda estrangeira.
Diante da crise atual, tivemos como consequência uma forte alta da moeda norte americana frente ao real + quedas em nosso mercado de ações, essa relação encontra-se historicamente em um dos momentos mais descontados, e oportunos, da história.
2 – Como posso investir em ações brasileiras cotadas em dólar ou no Ibovespa Dolarizado?
Você pode investir com a facilidade de clicar em um botão, para isso basta entrar em contato comigo, clique aqui!
3 – O papel das Commodities na influência do Ibovespa Dolarizado:
Uma relação importante para monitorarmos é a do Ibovespa Dolarizado X preço de Commodities nos mercados internacionais. Na semana retrasada encaminhamos a nossos clientes essa relação, ressaltando a importância histórica da cesta de commodities para a bolsa brasileira e a oportunidade de investimento. Assim estavam as cotações naquele momento:
Bolsa de Valores Brasileira/Ibovespa em dólar (branco) X Commodities Dow Jones (branco), variação desde 2015:

Historicamente a bolsa brasileira tem mais volatilidade do que as Commodities Globais, o que é natural pois estes são ativos mais ligados a economia real e negociados mundialmente, portanto mais diversificados entre os mercados. Mas existe uma forte correlação histórica entre Commodities e Bolsa Brasileira.
O que significam essas áreas vermelhas circuladas anteriormente no gráfico?
São 3 momentos atípicos no mercado brasileiro: primeiro Impeachment da Dilma, segundo Greve dos Caminhoneiros + potencial candidatura do Lula a primeiro turno, terceiro a crise atual ocasionada pelo Covid19 + instabilidade política entre os poderes (saída Moro + vídeo Ministerial).
O que eles têm em comum? Nos 3 cenários a bolsa brasileira cotada em dólar “descolou” para abaixo da média em relação as commodities, e em grande parte não só por motivos econômicos, mas também políticos que vão refletir na seguinte lógica:
Crise Econômica + Instabilidade política >Aumenta Risco País > Aumentam Taxa de Juros Futuro > Aumenta aversão ao risco > Aumenta corrida por dólar > Diminuem recursos em Bolsa > derrubam o preço das ações.
Tudo isso acontece no mundo todo, mas o que faz a bolsa brasileira cair mais do que as commodities internacionais, é o fator político e de maior instabilidade (acima da média) de nossa economia.
Hoje estamos vivendo exatamente um desses momentos, o que aconteceu anteriormente? Podemos ver no gráfico, que a bolsa brasileira corrigiu para a média de variação das commodities.
Por que existe relação entre a bolsa de valores brasileira e commodities?
– Primeiro pela característica de nossa economia, e de algumas das maiores empresas nacionais listadas em bolsa: Setor de exploração de recursos naturais e de baixo nível de tecnologia e industrialização da manufatura. Somos exportadores de Minério de Ferro, Grãos, Petróleo… justamente as commodities. Portanto, o preço desses ativos negociados internacionalmente influencia o lucro das empresas brasileiras.
– Segundo, porque o principal investidor em volume de recursos financeiros, na bolsa brasileira (historicamente cerca de 50% de todo fluxo) são os Estrangeiros. Os estrangeiros ainda “enxergam” a bolsa brasileira como Commodities + Bancos (sendo estes mais relevantes no índice a partir de 2012). Portanto, grande parte do volume de recursos que migram para os investimentos no mercado de capitais do Brasil, dependem de um bom desempenho no preço das commodities internacionais.
4 – Oportunidades: o que aconteceu desde nossa publicação do estudo anterior?
O Ibovespa Dolarizado subiu mais de 30%, corrigindo parte do movimento para a correlação histórica com as commodities, apresentada anteriormente:
Bolsa de Valores Brasileira/Ibovespa em dólar (branco) X Commodities Dow Jones (branco)

Fonte: Investing. Elaboração própria.
Neste momento temos alguns clientes felizes. Embora estivéssemos muito otimistas diante da oportunidade estudada, não projetamos essa velocidade (15 dias) na valorização…
Por que isso ocorreu tão rápido?
Por um conjunto de fatores que formaram o cenário perfeito para o produto (Dólar caindo / Bolsa subindo):
– Rally (subida rápida) internacional nos ativos de risco, estimulado pela liquidez recorde nos mercados diante dos pacotes “trilionários” dos Banco Centrais, e queda nas taxas de juros das principais economias do mundo;
– Menor aversão ao risco (menos demanda por dólar) diante da reabertura gradual das economias e dados econômicos vindo acima das expectativas, indicando que o “fundo do poço” nas economias mundiais pode ter ficado para trás;
– Diminuição do risco político no Brasil, Presidente abrindo negociações com os partidos de centro e afastando pelo menos por enquanto, os atritos com a câmara e senado. Ao mesmo tempo tivemos a divulgação do vídeo da reunião Ministerial (mercado interpretou como sem provas suficientes para instauração de um processo de Impeachment neste momento).
5 – Isso quer dizer que o “gringo” voltou?
Ainda não, mas diminuiu o saldo de vendas, o que já é muito importante dado nosso contexto atual de taxas de juros historicamente baixas:

Conforme trouxemos no artigo anterior (link), temos uma relação histórica na bolsa brasileira em relação a diferença no comportamento dos investidores:


Na prática, quem está fazendo a bolsa subir nessa recuperação são os Investidores Nacionais, sendo o principal motivo a taxa de juros baixa e consequente migração recorde do capital da renda fixa para a renda variável.

Nos últimos dias, o fato dos investidores estrangeiros terem diminuído as saídas de recursos (ficando positivo no saldo em alguns dias) fez com que não tivéssemos grandes vendas na bolsa brasileira. Isso fez nosso mercado disparar, tanto em real, como principalmente no Ibovespa Dolarizado pela diminuição na demanda por dólar.
6 – Daqui para frente, quais são as perspectivas futuras para a bolsa de valores?
No curto prazo seria normal termos uma correção (queda) técnica de preços em função das fortes altas em curto espaço de tempo. Graficamente temos alguns indicadores indicando valores sobre comprados (caros). Diante disso alguns investidores profissionais, principalmente “traders”, acabam colocando lucro no bolso ao vender suas ações. Mas isso não impede de realizarmos uma carteira equilibrada e com ótimas perspectivas.
O fato de termos “surfado” esse movimento que acabou sendo certeiro, não quer dizer que as oportunidades acabaram. Pelo contrário, quando olhamos o cenário mais amplo para este produto, podemos perceber que historicamente ainda temos um cenário de oportunidades no médio e longo prazo.
Gráfico: Ibovespa Dolarizado desde 1963:

Nosso cliente está acostumado com o gráfico acima, utilizamos ele em nossos estudos desde 2007.
Histórico
Este é um gráfico do Ibovespa Dolarizado desde 1963 demonstrando diversos dados interessantes, podemos aprofundar seu estudo em um segundo momento. Para resumir a informação temos os ciclos de alta e baixa em nosso mercado acionário ao longo dos anos. Os dois últimos ciclos (um vermelho e um azul) não foram coloridos pelo Enfoque, empresa que faz o gráfico, foi um preenchimento meu, baseado em nossa percepção.
Nessa grande tendência de alta de longo prazo em nossa bolsa cotada em dólar, parece que estamos vivendo um momento que costuma acontecer poucas vezes, estando em um cenário típico de baixa (ocasionado pela crise internacional) mas no meio de um ciclo com perspectiva de ser um cenário altista para os mercados.
Ibovespa em Reais (Verde) X Commodities (laranja) X Ibovespa Dolarizado (branco)

7 – Quando voltarão os Investidores Estrangeiros para a Bolsa de Valores brasileira?
Outro indicador, muito relevante que nos mostra que estamos definitivamente vivendo um momento atípico, é o histórico de saldo do investidor estrangeiro, na bolsa brasileira:
Fluxo oficial Bolsa de Valores Brasileira: Saldo acumulado Estrangeiros (linha verde) X Ibovespa (linha preta).

Desde a eleição do Bolsonaro, o Investidor Estrangeiro tem saído no acumulado de posições líquidas do Brasil, ou seja, vendendo os ativos em bolsa. Por que isso acontece? São três motivos os principais:
1 – Porque eles já estavam fortemente comprados em saldo (e estoque) nos 9 anos anteriores enquanto nossa bolsa estava com preço baixo (conforme gráfico abaixo). Diante, aproveitaram a alta do Ibovespa puxada pelos investidores nacionais, para colocar lucro no bolso. E colocaram muito…
2 – Segundo porque, como mostramos anteriormente, os “gringos” enxergam a bolsa brasileira como Commodities sendo a principal variável explicativa. Vivemos um ciclo de baixa nas commodities nos últimos anos, fazendo com que o Brasil se tornasse menos atrativo para seus investimentos, com outros países sendo melhores opções.
3 – Terceiro, risco político. O mercado é pragmático, Bolsonaro era uma incerteza, para o investidor estrangeiro. O risco/retorno fica mais difícil de ser calculado quando você tem uma variável intangível (política) em seu portfólio. O mesmo aconteceu com o Lula em 2002, depois o mercado interpretou de maneira positiva a condução da política econômica (principalmente nos primeiros 6 anos de Governo), numa condução baseada no tripé econômico e muito mais liberal do que o proposto na época de campanha. Fato parecido acontece com Bolsonaro, a condução da pasta econômica pelo Paulo Guedes acabou tranquilizando os mercados (basta ver juros futuros e Risco País) mas não suficiente para anular os 2 primeiros pontos, muito relevantes ao investidor estrangeiro.
Qual situação do Investidor Estrangeiro no fluxo acumulado anualmente em nossa Bolsa?

Até então, 2020 tem sido o pior ano da história da bolsa brasileira, quando contamos o acumulado do saldo entre compras e vendas por parte do Investidor Estrangeiro.
Diante disso alguns podem enxergar um cenário pessimista, porém estamos analisando o Ibov Dolarizado, e se interpretamos todos os dados apresentados aqui anteriormente, o cenário pode ser diferente.
Usando o histórico de correção para uma média, podemos estar em um cenário a ser invertido. Se comparamos 2008 com 2020 veremos uma diferença absurda no acumulado de vendas por parte dos investidores estrangeiros. Hoje, com 1/3 do ano fechado, temos mais de 8 vezes o saldo de venda quando comparado a pior crise internacional da história desde 1929.
Como vimos no post anterior, o cenário para o mercado de capitais brasileiro é promissor enquanto continuarmos com as baixas taxas de juros, por conta da migração da renda fixa para variável nos Investidores Nacionais. No cenário atual, não somos mais tão dependentes da volta do investidor estrangeiro para continuidade de subida no mercado nacional, qualquer alteração na diminuição neste saldo de venda até o final do ano, já seria muito positivo para o mercado acionário do Brasil.
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Como gostamos de lembrar, conforme gráfico acima, no mercado financeiro sempre temos alternativas, diferente da economia real. Liquidez ao clicar de um botão, diversos produtos (algumas centenas) e estratégias que podem ser alteradas para cada situação, gerando proteção e rentabilidade, independente do cenário econômico.
Conte conosco para auxiliarmos nos seus investimentos e processo decisório, um abraço e até o próximo artigo.
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