No artigo de hoje abordaremos a recente alta nos ativos de risco ao redor do mundo, a dicotomia com a crise econômica atual, e o papel da Liquidez nas subidas dos mercados recentemente.
1 – Lucros Empresariais (laranja) X Preço das Ações (azul)

500 maiores empresas dos Estados Unidos: Conforme gráfico acima, estamos em um dos raríssimos momentos em que os lucros das empresas estão historicamente baixos, porém, o preço das ações em alta.
O que explica o movimento? Mercado funciona da seguinte maneira:
Curto Prazo: Fluxo de investidores, liquidez de recursos e escolha de alocação do capital. Traduzindo: Diante do recorde de expansão monetária (dinheiro Governamental injetado no mercado financeiro) os Investidores estão com alto nível de poupança conforme apresentado em artigo anterior. Os recursos continuam a migrar para a renda variável dada rentabilidade real negativa nas taxas de juros da renda fixa e falta de opção de alocação na economia real.
Longo Prazo: Expectativa de crescimento do lucro das empresas.
Ou seja, os investidores estão precificando nesse momento que o pior da crise passou, e que a velocidade de recuperação dos lucros das empresas será acima do esperado no início da pandemia.
O atual movimento é saudável? Só saberemos diante dos lucros apresentados daqui pra frente pelas empresas, certamente o movimento está “esticado” e acima da média histórica, portanto, os lucros precisam retomar altos patamares para justificar o movimento no médio/longo prazo (é isso que o mercado aposta hoje). Do ponto de vista de liquidez e abundância de recursos financeiros, não temos nada que mostre uma inversão da atual tendência (embora deva acontecer alguma correção técnica de curto prazo).
2 – O efeito da Liquidez no preço das Ações
Na live que realizamos em outubro do ano passado, que você pode conferir clicando aqui trouxemos diversos dados que alertavam para o descolamento do preço das ações em relação ao lucro das empresas.
Em setembro já demonstrávamos preocupação com uma potencial crise nos mercados diante do nível de alavancagem, mas reforçamos que a liquidez mundial continuava a fundamentar o movimento de alta, dada correlação entre Liquidez e Preço dos ativos:

Afirmamos que no momento em que tivéssemos uma restrição de crédito ocasionada por um fator externo ao mercado, teríamos forte correção nos preços.
Foi exatamente o que aconteceu diante do início da crise atual.
Porém, o tamanho e a velocidade dos pacotes de estímulo financeiro aportado pelos Governos ao redor do mundo, inundou os mercados novamente com excesso de liquidez, retomando a subida dos preços, como podemos ver no gráfico abaixo:

O movimento atual de recuperação dos mercados portanto, está muito mais fundamentado no excesso de Liquidez, do que propriamente no lucro das empresas. No longo prazo sabemos que o os preços tendem a corrigir para a média de lucro das empresas, mas isso pode demorar algum tempo, hoje os investidores apostam que seja tempo suficiente para as empresas voltarem a lucrar fortemente.
Principalmente diante dos 16 trilhões de dólares adicionados no mercado, desde o início da atual crise econômica.
3 – Preço em relação ao PIB

Famoso indicador utilizado pelo Warren Buffet, o preço das 5 mil maiores empresas dos Estados Unidos, negociadas em bolsa, está em seu recorde histórico quando comparados ao PIB.
Isso reforça o que demonstramos no artigo de hoje até então, os preços das ações estão descolados (caros) em relação a economia real.
O pico anterior desse indicador foi logo antes da crise da bolha.com em 2001, que resultou posteriormente em fortes quedas nas bolsas mundiais. O indicador hoje está muito acima da Grande Depressão de 2008, reforçando a importância do papel do excesso de Liquidez para segurar os preços nos mercados mundiais.
4 – Enquanto tem bambu, tem flecha

Em azul podemos ver a trajetória de aumento do estoque de dinheiro injetado no mercado financeiro norte americano, com destaque para a subida estratosférica na crise atual.
Em vermelho podemos ver a velocidade de uso por consumo ou investimento desse dinheiro, ou seja, o quão está sendo demandado/utilizado o capital está sendo na economia real. Esse é um dos principais indicativos de inflação e que podem pressionar as taxas de juros para cima, porém, o que vemos mesmo diante da situação atual?
Recurso sendo pouco utilizado, inflação caindo, e continuidade das taxas de juros reais negativas. Resultado? Mais transferência de recursos para os mercados dando continuidade na alta das bolsas Norte Americanas.
5 – E no Brasil? O que fundamenta a continuidade do desempenho da bolsa?

Nos últimos mês, tivemos uma disparada no principal indicador fundamentalista de nossa bolsa, o P/L (gráfico acima), caso você queira entender melhor esse indicador e sua situação atual, acesse nosso artigo que aprofundou essa análise. Clique aqui!
O que o indicador nos mostra, é que os preços dos ativos aumentaram bastante acima do nível de lucro das empresas, porém, ainda está dentro de uma média dos últimos 3 anos, até porque os preços caíram de maneira desproporcional.
Qual principal fator explica a recuperação acentuada em nossos mercados?
A queda desproporcional diante da crise atual, tivemos pânico demasiado na correção, resultado em euforia demasiada na recuperação. Temos claramente um efeito FOMO na bolsa brasileira, Fear Of Missing Out, ou seja, medo de ficar fora da recuperação dos mercados. O que irá dar continuidade nesse movimento?
Abordaremos esse assunto específico em nosso próximo artigo, um abraço.
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