É bem possível que a simples combinação de dólar cotado a R$ 4,10, com o Ibovespa nos 90.000 pontos, possa ter formado um banquete irresistível, mesmo que para operações compradas de curto prazo, aos investidores estrangeiros de olho no Brasil.
Ainda não é possível verificar com exatidão o balanço do fluxo de capitais no mercado financeiro nestes últimos dois dias, mas as condições dos ativos de risco, combinadas com as características do movimento, cheira a entrada de capital estrangeiro de longe.
Entrar no Brasil trocando dólar a R$ 4,10 para comprar Ibovespa nos 90.000 pontos não parece mal negócio do ponto de vista do investidor estrangeiro. No fechamento de sexta-feira passada, o dólar contra real estava em zona de sobrecompra e o Ibovespa em zona de sobrevenda.
Era possível imaginar potencial de ganho de curto prazo nas duas pontas (conversão da moeda e abertura de posição no mercado local). A agressividade no movimento observado nestes dois últimos dias é uma característica típica de fluxo de capital estrangeiro. Somente nesta terça-feira, por exemplo, o giro financeiro na B3 somou 17,3 bilhões de reais.
O dólar já está perto de R$ 4,00 e o Ibovespa próximo dos 95.000 pontos. Independente da detecção da origem do rastro, fato é que o mercado local virou a mão fortemente para compra, ao menos a curto prazo.
O trigger para virada rápida no mercado pode ter partido do próprio ambiente político, responsável pela derrubada nos preços dos ativos de risco nas semanas anteriores. Os atritos entre o poder executivo e legislativo não foram eliminados e seguem relevantes, com a notícia de que Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, rompeu com o líder do governo na Casa, Vitor Hugo.
Entretanto, mesmo com a falta de harmonia entre os poderes, o fato de o Congresso partir para um maior protagonismo não desagradou o mercado, muito pelo contrário. Até então, o governo, e sua base, basicamente só apareciam no twitter. Articulação que é bom, nada.
Na ausência de um articulador no Congresso, os líderes do Centrão (grupo informal da Câmara composto por DEM, PP, PR, PRB, MDB, SD e PSD) estão ocupando o vácuo político e assumindo cada vez mais importância nas pautas que precisam ser votadas. Inicialmente, esse movimento é bem visto pelo mercado, já que o Centrão se mostrou comprometido com a agenda de reformas estruturantes.
Para o mercado, pouco importa quem vai levar o mérito da aprovação de medidas extremamente relevantes para a economia do país, o importante é que as mudanças sejam feitas.
Além disso, o simples fato de alguns grupos terem se mobilizado para convocar protestos contra o Congresso pode ter estimulado uma resposta dos parlamentares, que agora já estão se mobilizando para votar rapidamente MPs importantes com risco de caducar, o que sem dúvida cria motivo para esvaziamento em eventuais manifestações.
Também pode ser observado como positivo o fato de alguns parlamentares tentarem desfazer a imagem de que tentam barganhar espaço no governo em troca de votos. A articulação para votação das MPs pode acabar enfraquecendo essa tese, além de provar que política se faz dentro da Casa e não em redes sociais.
O mercado está ciente da força e do perigo de o Centrão partir para o enfrentamento contra o governo, o que pode colocar Bolsonaro numa situação de refém. No entanto, enquanto os parlamentares estiverem alinhados com a agenda de reformas estruturantes, possivelmente obterão aval do Sr. Mercado, como receberam nestes últimos dois dias.
Fazer o que precisa ser feito, independente de quem quer que seja. Menos twitter e mais Congresso. It’s not so bad.
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