Feliz está o investidor/operador comprado em praças especulativas ou abaixo do nível mínimo de grau de investimento. O caso brasileiro, um dos mais conhecidos pelos investidores locais, é um bom reflexo de como o mercado reagiu diante dos momentos de tensão macroeconômica.
No dia 09 de setembro de 2015 a agência de classificação de risco Standard & Poor’s tirou o grau de investimento do Brasil, alegando motivos mais do que conhecidos, nos rebaixando de BBB- (último degrau do grau de investimento) para BB+ (primeiro degrau do grau especulativo).
Na época havia enorme temor, propagado pela imprensa, principalmente, de que um novo rebaixamento para grau especulativo de uma segunda agência de classificação de risco poderia jogar o Brasil para uma fase muito difícil. Comentava-se que os estrangeiros deveriam ser forçados a retirar dinheiro rapidamente do nosso país, as empresas poderiam ter mais dificuldade de captar recursos, o mercado de capitais seria um ambiente inóspito, entre tantas outras calamidades.
O rebaixamento para grau especulativo ocorreu, de fato, no dia 16 de dezembro de 2015, quando a agência de classificação de risco Fitch cortou o nosso rating de BBB- para BB+, na mesma linha da Standard & Poor’s. A tragédia amplamente anunciada pela mídia estava pronta para acontecer, faltou apenas combinar com o Sr. Mercado.
O gráfico acima revela o desempenho do Ibovespa exatamente um dia após o anúncio de rebaixamento pela segunda agência de classificação de risco. Ou seja, mostra o desempenho do índice de ações do mercado brasileiro do dia 17 de dezembro de 2015 até o fechamento desta última segunda-feira.
A imagem acima dispensa qualquer comentário adicional, mas é importante para frisar a importância de o investidor estar mais atento ao Sr. Mercado (bem como sua estratégia operacional) e menos ligado no bombardeamento de informações por parte da mídia.
Desde a sacramentada perda do grau de investimento pela Fitch, o Brasil sofreu mais seis novos rebaixamentos pelas três principais agências de classificação de risco (Fitch, Moody’s e Standard & Poor’s). Curiosamente, quanto mais o Brasil afundava no grau especulativo, conhecido como zona do lixo (junk), mais o mercado de ações subia.
O Brasil, atualmente Ba2 pela Moody’s, BB- pela Fitch e BB- pela Standard & Poor’s, não é o único caso de lixo que vale ouro no mercado. Argentina e Turquia, dois países que protagonizaram duras crises em meados do ano passado, forçando intervenções de governos e banqueiros centrais, também estão em pleno rali.
A bolsa da Turquia se segurou na mínima registrada no mês de julho/2018, ao redor dos 89.000 pontos. O principal índice de ações de Istambul é negociado atualmente aos 98.454 pontos, em forte alta desde a virada do ano. O dólar contra lira turca é negociado na casa de 5,31, bem distante dos 7,00 alcançados no ápice da crise. A taxa de juros de 10 anos do título da dívida soberana do governo turco caiu de quase 22% ao ano registrados em 2018 para cerca de 15% ao ano.
O mercado é fortemente bullish com a Turquia, enquanto o silêncio predomina nos noticiários. Apesar de poucas novidades no front macroeconômico, não se fala mais sobre os perigos de um rating B+ atribuído pela Standard & Poor’s aos turcos.
Os lanternas argentinos classificados como B não tem do que reclamar. Mesmo com o mergulho para recessão, inflação de quase 50% ao ano e desemprego de 9%, a bolsa de Buenos Aires volta alcançar sua máxima histórica, próxima dos 35.500 pontos. Em 2016, o Merval (principal índice de ações do mercado argentino) era negociado na casa dos 10.000 pontos.
Conforme se pode notar no gráfico acima, a crise do ano passado deixou o mercado apenas volátil a curto prazo, com muito sobe e desce, mas sequer chegou ameaçar a trajetória ascendente de longo prazo do índice Merval.
Apesar de fugir do consenso ou daquilo que se propagava no passado, o Sr. Mercado foi e continua sendo comprador de lixo.
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