O Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros inalterada em 6,50% ao ano. A decisão era amplamente esperada pelo mercado e o ponto de destaque desta última reunião do Copom no governo Temer era o tom do comunicado. A atual formação do Comitê, com Ilan Goldfajn na presidência, permanecerá inalterada para a próxima reunião a ser realizada nos dias 5 e 6 de fevereiro, já sob o governo de Jair Bolsonaro.
Estimava-se que o momento de transição na presidência do Banco Central (Ilan Goldafn deve sair no ano que vem e ceder o comando da autoridade monetária para Roberto Campos Neto, indicado por Bolsonaro), poderia impor um tom neutro no comunicado ou nulidade na sinalização do futuro da política monetária. Mas não foi isso que ocorreu na reunião de Comitê encerrada nesta última quarta-feira.
O Banco Central demonstrou claramente desconforto com a inflação abaixo do centro da meta, abrindo espaço para manutenção da taxa Selic aos 6,50% no horizonte relevante para a política monetária, ao contrário do que os agentes do mercado estão prevendo através das coletas de informações do Boletim Focus (taxa Selic de 7,50% em 2019 e 8% em 2020).
A inflação abaixo do centro da meta (com relativa distância) representa uma melhora no balanço de riscos não prevista pelos modelos econômicos até então. A partir de agora, o Banco Central entende que aumentou o risco de que a ociosidade elevada da economia possa empurrar a inflação para uma trajetória abaixo do esperado, ou seja, o risco de a inflação ficar mais baixa do que se previa está mais alto.
Além disso, os integrantes do Comitê enxergam que o risco de frustração sobre a continuidade das reformas e ajustes à economia caiu. Isto é, a autoridade monetária está mais convicta de que medidas favoráveis à melhora do cenário macroeconômico poderão surgir no próximo governo.
Dentre estes dois pontos de destaque no balanço de riscos, a manutenção de uma inflação baixa no horizonte relevante para a política monetária é um fator surpresa positivo, já que a composição da equipe econômica do novo governo é amplamente conhecida, dentro do esperado, com viés pró-mercado.
As projeções do Boletim Focus apontam para uma inflação de 3,7% em 2018, 3,9% em 2019 e apenas 3,6% em 2020. Cabe ressaltar que as projeções extraídas do relatório Focus consideram taxa Selic de 6,5% em 2018, 7,50% em 2019 e 8% em 2020, aliada ao câmbio estável na região dos R$ 3,80.
Por outro lado, nas projeções do Copom, onde a taxa de juros é constante em 6,50% ao ano e taxa de câmbio constante a R$ 3,85 durante todo o horizonte do modelo, as projeções para a inflação situam-se em torno de 3,7% em 2018, 4% em 2019 e 4% 2020. Importante lembrar que a meta de inflação a ser perseguida em 2019 é de 4,25%. Já a meta a ser perseguida em 2020 é de 4%.
Portanto, no atual modelo do Banco Central, não há necessidade para elevação da taxa Selic em 2019 e 2020, pois a inflação estaria abaixo da meta a ser perseguida no próximo ano e exatamente em cima da meta a ser perseguida em 2020.
Uma elevação da taxa Selic para 8%, conforme projeção do mercado, jogaria a inflação abaixo do centro da meta, mesmo considerando horizonte de longo prazo (até 2020). Diante de um cenário tão favorável para inflação no futuro, sem risco de rompimento ascendente do centro da meta, não faz muito sentido a autoridade monetária adotar medidas preventivas de aumento da taxa básica de juros.
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