O Mercado de Capitais é muito dinâmico, tudo acontece muito rápido.
Sendo assim, preparamos um resumo do Cenário do Mercado de Capitais no momento, com a evolução e os impactos da pandemia do Coronavírus, confiança do empresário industrial brasileiro, CDS, S&P500 e mais!
1 – Atualização do Índice de Confiança do Empresário Industrial brasileiro

No artigo de ontem pudemos ver o desempenho em recorde negativo da indústria norte americana. Hoje observaremos a “foto” do último dado atualizado pela CNI, sobre a pesquisa de confiança do empresário industrial brasileiro, que costuma antecipar as intenções de investimentos.
O indicador é o mais baixo da série histórica, ultrapassando a queda registrada durante impeachment da Dilma. A crise econômica causada pelos efeitos da COVID19, e crise política causada pelas trocas ministeriais e recentes acusações contra o Bolsonaro, alteraram drasticamente as expectativas da indústria de transformação brasileira.


Como observamos nos dados acima, tanto a condição atual quanto as expectativas futuras estão em menor nível registrado.
Diferente dos dados dos EUA apresentados no artigo anterior, isso é uma pesquisa do sentimento do empresário industrial e não uma medição do nível e volume de produção industrial, o dado recente atualizado ainda não foi publicado pela CNI, mas existe a possibilidade de uma forte correção.
Diferente do nível de produção, as expectativas podem mudar rapidamente para cima à medida que os efeitos da doença forem passando, e com uma maior confiança de resolução do cenário político.
Assim que forem publicados os dados de produção industrial brasileira atualizados, apresentaremos aqui mostrando sua relação com nosso mercado de capitais.
2 – Evolução COVID-19, Brasil e mundo

No gráfico acima temos a curva brasileira (média móvel de 7) de crescimento de novos casos de COVID-19.
Embora sejamos um dos países com maior subnotificação do mundo (dada quantidade de testes por milhões de habitantes) mesmo assim estamos registrando o maior crescimento dentre todos grandes países do mundo.
Recentemente ultrapassamos a Rússia (mesmo com grande quantidade de testes) que era a primeira grande nação em curva ainda ascendente.
Podemos ver que mais do que o número absoluto de casos (ou mortes, conforme gráfico abaixo) o que preocupa, as autoridades e órgãos de saúde no Brasil, é a trajetória da curva. Diferente de quase todas nações ocidentais, nossa curva de novos casos e novas mortes, ainda está em crescimento, tanto no valor absoluto quanto em logarítmico.

Qual impacto disso em nossos investimentos?
Os dados mundiais atualizados nos mostram 2 lados:
Internacionalmente temos boas notícias, as curvas de crescimento tanto de números de casos quanto de mortes, está em declínio em praticamente todos países da Europa e EUA. Na lógica do mercado de capitais, em olhar para expectativa e não dado atual, mesmo que o número de mortos e casos continuem crescendo, o que importa é a trajetória de crescimento ser menor, isso mostra melhores perspectivas a frente.
O foco nesses países tem sido a reabertura gradual das economias e a intensificação do alerta para os cuidados de higiene, prevenindo uma segunda onda e consequente nova quarentena.
O que o mercado de capitais tem precificado?
Europa e EUA
Acredito que os investidores estejam apostando na não propagação de nova onda, pois traria um segundo e pior impacto econômico (não precificado) em cima de uma economia já abalada.
A discussão dos estímulos fiscais e seus possíveis resultados acontece hoje em cima do quadro de boas expectativas futuras atuais, e não numa inversão das curvas de crescimento.
E no Brasil?

Em nosso país, neste momento, estamos enfrentando uma situação diferente, e isso tem se refletido nos mercados de capitais. Nos últimos dias temos consumido bastante dados e análises das maiores casas nacionais e internacionais que atuam no Brasil para ajudar a interpretarmos os acontecimentos recentes, siga aqui alguns dos principais pontos abordados:
- Riscos da continuidade ascendente da curva: Primeira diferença evidente foi a abordada anteriormente, a trajetória de nossa curva, e consequente projeção de tempo de quarentena necessário diante dos efeitos, pode ser mais longa do que nas economias europeias e norte americanas;
- Diferente realidade entre estados: o Brasil é um país de proporções continentais, analisar o problema de forma superficial camufla as diferentes realidades em nosso país. Estado como Santa Catarina, onde escrevo esse artigo, foi o primeiro a entrar e primeiro a sair da quarentena. O problema é que o Estado de economia mais rica e relevante do país, São Paulo, também é o mais populoso e com maior número de casos, com sua curva ainda ascendente;
- Velocidade e aceitação das medidas de saúde pelo Governo e Sociedade: Países como Alemanha, Itália, Espanha, França, Japão, China, Canadá, Estados Unidos, Inglaterra… estão com suas curvas descendentes mesmo depois de terem enfrentados picos iniciais de propagação. O Brasil não teve pico inicial pela distância geográfica e quantidade de infectados no início da pandemia, porém, o fato de o Governo e parte da sociedade estarem em desalinhamento enquanto as medidas tomadas por demais países para contenção do vírus, permite com que a evolução continue a crescer ao longo do tempo;
- Escândalos de corrupção: A necessidade de velocidade na ação Governamental, para compra de aparelhos e ampliação do atendimento da rede de saúde, fez com que muitos estados decretassem calamidade pública ou estado de emergência. O problema é que gestores públicos corruptos (quase redundante no Brasil) aparentemente estão aproveitando disso para lucrar ilicitamente. Diversos casos de corrupção começam a aparecer como resultado de compras superfaturadas realizadas sem licitação, com empresas desconhecidas. Fatos como esse geram ainda mais atrito político deixando mais incerto um entendimento entre estados, municípios, órgãos de saúde, governo federal e sociedade civil.
Como resultado disso tudo, fica evidente a ausência de um Plano de Saúde claro e seguimos com trocas ministeriais. Aparentemente não existe um entendimento entre ministério da Economia, Saúde e Governos Estaduais, gerando um risco adicional aos mercados financeiros.
Devemos lembrar que mais de 50% dos investidores em nosso mercado de capitais são estrangeiros, e eles continuam a retirar semanalmente bilhões de recursos de nosso mercado acionário (56 bilhões desde início da pandemia). A falta de uma comunicação clara tem feito a mídia e o mercado internacional tratarem o Brasil com preocupação e sem clareza de perspectivas, o que pode continuar atrasando a volta dos recursos internacionais para ações de empresas brasileiras.
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3 – Quais resultados práticos dessa situação no Mercado de Capitais?
Vamos analisar essa situação de risco adicional em nosso mercado do ponto de vista de 2 indicadores fundamentais no Mercado de Capitais: CDS e Bolsa de Valores.
Nessa respectiva ordem pois utilizando-se dos conceitos de Econometria (estatística aplicada em dados e teoria econômica), um é variável explicativa (CDS) e outro é variável dependente (Bolsa de Valores).
A) CDS (Credit Default Swap) – Risco Brasil:
O CDS é um conjunto de índices que permitem avaliar a estabilidade política e econômica do país e, assim, indicar o nível de risco (quando mais alto maior) enfrentado por investidores estrangeiros que desejam colocar seu capital aqui. Esse conceito informa o quão é seguro, ou não, investir na economia brasileira.
Historicamente o CDS se comporta inversamente proporcional ao Ibovespa (gráfico abaixo) o motivo é óbvio, quanto maior o risco de se investir no país, menos recursos entram na renda variável, o mesmo acontece em um cenário oposto.

Analisando a curva do CDS de 2017 para cá, podemos ver que estamos no maior pico, acima inclusive das eleições de 2018. Isso impacta diretamente nossos investimentos, inclusive atrasando a recuperação atual em nosso mercado acionário por menos entrada de recurso estrangeiro.

B) Ibovespa:
No gráfico abaixo temos 3 importantes índices de ações:

Verde: S&P500 – principal índice das Bolsas dos Estados Unidos, 500 maiores empresas;
Laranja: STOX 600 – 600 principais empresas das 18 maiores economias da Europa;
Branco: Ibovespa – 75 maiores empresas brasileiras;
Embora o caminho da trajetória seja parecido, fica evidente a diferença de amplitude na queda e velocidade de recuperação entre os índices. Nós estamos negociando ainda a patamares bem mais descontados em relação ao pico atingido em janeiro, e esse descolamento se intensificou a partir da segunda metade de abril, com o aumento da instabilidade política, e consequentemente, aumento do CDS.
Este quadro mostra a importância em termos um portfólio bem diversificado, empresas de investimento como a que atuo, disponibilizam ao cliente que ele tenha a opção de montar posição nos melhores ativos brasileiros, mas também as melhores opções identificadas globalmente.
Logicamente a característica das empresas, que compõem os índices, faz toda a diferença na velocidade de recuperação dos preços. Inclusive em post de semana passada destacamos a importância e peso atual das empresas de tecnologia no S&P500.
Porém, quando analisamos o comportamento do Investidor Estrangeiro (correlação inversa ao CDS) podemos identificar que nosso mercado teria caído ainda mais e não estaria com recuperação alguma, dadas acumuladas vendas durante toda a atual crise.
Mas não vamos nos prolongar, este será um dos assuntos da nossa próxima conversa.
