O ambiente de relativa tranquilidade e baixa volatilidade observado nas principais praças financeiras mundiais ao longo deste mês de julho está prestes a acabar. Vários drivers com potencial de impacto relevante sobre o fluxo global surgirão numa única semana.
Em momentos atípicos como este, investidores e operadores poderão ter dificuldade para analisar todos os dados relevantes num curto espaço de tempo, fato com potencial de criação de aumento de volatilidade aos preços dos ativos.
O índice gerente de compras do Instituto Markit, que mede o desempenho da atividade industrial de todas as economias relevantes do planeta, será divulgado nesta semana em todos os países. Os números da China e Estados Unidos serão analisados com maior atenção pelos players, não somente para mensurar os impactos de uma disputa comercial ainda incipiente, mas principalmente para acrescentar dados aos modelos de projeções macro, já que ambas as economias tem demonstrado sinais de desaceleração no crescimento, com a China em posição de maior fragilidade.
Os investidores também deverão avaliar com delicadeza cada palavra da comunicação do BoE (Bank of England), a ser divulgada nesta semana após a reunião de Comitê. Na semana anterior, o BCE (Banco Central Europeu) mostrou ao mercado os seus canhões para um novo bombardeio monetário.
BCE prepara seus canhões para novo bombardeio monetário
Os britânicos não possuem margem de gordura para operar em descompasso com os europeus na política monetária e podem ser empurrados para um afrouxamento maior na estratégia, ou ao menos mantê-la muito frouxa por período prolongado, até porque a inflação local continua ancorada na meta de 2% e Boris Johnson, novo primeiro-ministro britânico, tem demonstrado sinais de enfrentamento contra os europeus, o que pode culminar num Brexit sem acordo.
O Comitê de Política Monetária do BoJ (Bank of Japan) também se reúne nesta semana e o mercado cruza os dedos para não haver alteração na estratégia atualmente ultra frouxa. A autoridade monetária japonesa estipulou alguns anos atrás meta de rendimento zero para a taxa de juros do título da dívida soberana de 10 anos, como forma de acalmar o mercado e evitar potencial surgimento de pressão vendedora no segmento.
Entretanto, o rendimento do título da dívida japonesa de 10 anos está razoavelmente abaixo da meta zero, aos -0,15% ao ano. Teoricamente o BoJ deveria reduzir o peso dovish em sua comunicação, para evitar que os juros afundem ainda mais, distanciando-se da meta zero. Na prática, o BoJ tende fazer vista grossa ao evento, já que o ambiente global favorece a estratégia ultra frouxa de política monetária, a inflação local segue muito distante do alcance da meta e o mercado tem demonstrado apatia com os juros negativos.
Por fim, o principal banqueiro central do planeta deve cravar nesta semana o primeiro ciclo de corte de juros em 10 anos. O movimento, se confirmado, será apenas uma sequência da guinada na estratégia de política monetária realizada em dezembro de 2018.
Desde então, o FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos) tem se posicionado menos hawkish e cada vez mais dovish, primeiramente retirando do radar a possibilidade de novas elevações na FFR (Federal Funds Rate – taxa básica de juros norte-americana), posteriormente sinalizando cronograma para interrupção do processo de desalavancagem do balanço (continuará operando com balanço muito acima da média histórica) e, mais recentemente, abrindo as portas para cortes na FFR.
Inadequadamente observa-se discussões na mídia local sobre corte de 0,25 p.p. ou 0,50 p.p. na FFR. Não há motivo para essa dúvida. Basta checar a ferramenta FedWatch do CME Group logo abaixo:
Atualmente a FFR opera no intervalo de 2,25% a 2,50% ao ano. A expectativa de redução da FFR para o intervalo de 2,00% a 2,25% ao ano é de 78,6%, significativamente acima das apostas de redução da FFR para o intervalo de 1,75% a 2,00% na próxima reunião a ser realizada no dia 31 de julho de 2019.
Em nenhum momento as apostas de redução da FFR para o intervalo de 1,75% a 2,00% chegaram a superar as expectativas de redução da FFR para o intervalo de 2,00% a 2,25%, sequer se aproximaram de 50%. O pico de expectativa de corte de 0,50 p.p. ocorreu há um mês, com 32,3% de chance, o que ainda era muito baixo.
Um primeiro corte de 0,25 p.p. parece mais apropriado para iniciar o ciclo. Um corte de 0,50 p.p. poderia criar sensação de que a economia norte-americana está num estágio mais sombrio do que o observado nos últimos meses, o que ajudaria provocar efeito contrário no mercado. Ao invés de animar os investidores, um corte de juros mais pesado no início do ciclo poderá criar temor no mercado sobre uma potencial recessão ou queda mais acentuada na atividade.
Além disso, é sempre mais difícil para os banqueiros centrais diminuir a potência dovish do que aumentá-la. Isso significa que, ao iniciar o ciclo com corte de 0,50 p.p., o FED criará expectativa de que novos cortes agressivos na FFR poderão surgir ao longo dos próximos meses, fato que, se não concretizado, poderá desapontar o mercado e criar tensão no ambiente de negócios. Por outro lado, manter o vício do mercado por afrouxamento monetário em doses controladas evita criar exageros de curto prazo e facilita o gerenciamento do forward guidance ao longo do tempo.
Desejamos uma semana de bons negócios a todos. Contem conosco sempre que precisar.
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