O descolamento negativo do Ibovespa contra as principais praças financeiras mundiais nesta segunda-feira abriu sinal de alerta para uma potencial mudança de humor no Brasil. A suspensão do aumento tarifário dos Estados Unidos contra a China, em função do avanço nas negociações entre ambas as partes, deixou o ambiente mais positivo no mercado financeiro mundial, exceto no Brasil.
Várias figuras do alto escalão do governo parecem estar escondidas desde a divulgação do texto da reforma da previdência. O sumiço não é normal. Na verdade, esperava-se justamente o oposto, uma tropa de choque articulando conjuntamente na mídia e no Congresso para reforçar a mensagem e importância da reforma apresentada na semana passada.
Aproveitando-se, talvez, do vácuo na articulação do governo, o presidente da Câmara Rodrigo Maia se tornou o centro das atenções sobre a reforma da previdência e começa mostrar seu poder ao mercado. Maia já avisou a Bolsonaro que será muito difícil tramitar a PEC da previdência na Câmara sem antes o governo enviar o projeto de lei sobre a reforma previdenciária dos militares.
Além disso, o presidente da Câmara avisou que o BPC (Benefício de Prestação Continuada), que está incluído no texto da reforma da previdência, tem baixa relevância fiscal e pode representar um risco à aprovação da PEC no Congresso. A mensagem parece clara no sentido de que Paulo Guedes vai ter que ceder e retirar o BPC da reforma da previdência.
Rodrigo Maia também fez ressalvas sobre a proposta de regime de capitalização puro, avaliando que dificilmente seria aprovado no Congresso, e sugeriu um sistema híbrido (com uma parte de repartição e depois, para quem ganha mais, uma capitalização).
Esperava-se desidratação da reforma da previdência, mas não tão rápida (antes mesmo de o governo explicar melhor sobre cada ponto da proposta) e partindo, primeiramente, do próprio presidente da Câmara dos Deputados. Não por acaso, sinais de desconfiança puderam ser constatados no pregão desta segunda-feira.
Não parece haver um líder do governo experiente e com amplo trânsito nas bancadas. Este é um ponto fundamental para alcançar os 308 votos necessários para aprovar a reforma. Rodrigo Maia, como presidente da Câmara, deveria ser apenas o árbitro do jogo, mas está se tornando ponto fundamental na tramitação da reforma da previdência. Consequentemente, o governo Bolsonaro tende a ficar mais dependente de Rodrigo Maia, o que gera certa apreensão.
Quando Maia decidiu fazer a reforma da previdência passar novamente pelas comissões, não estava apenas driblando um possível risco jurídico (por estar aproveitando a reforma do ex-presidente Michel Temer), mas, também, garantindo palanque aos seus apoiadores, já que a tramitação da reforma será acompanhada de perto em cadeia nacional.
Comenta-se, inclusive, que esse foi um dos acordos realizados por Maia para se reeleger à presidência da Câmara, com apoio até mesmo da oposição. Com tantos deputados apoiando Rodrigo Maia (eleito com 334 votos, maioria absoluta), fica difícil imaginar que não haverá o famoso toma lá, dá cá, o que, somado ao recente protagonismo na reforma da previdência, o governo pode acabar sendo forçado a rever algumas de suas estratégias ou ceder em vários pontos.
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