A evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da taxa Selic no nível vigente. O Comitê julga importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, livre dos efeitos remanescentes dos diversos choques a que foi submetida no passado e, em especial, com redução do grau de incerteza a que a economia brasileira continua exposta. O Copom considera que esta avaliação demanda tempo e não deverá ser concluída a curto prazo.
Nem parece que o parágrafo acima foi extraído do comunicado emitido pelo Banco Central após a reunião de Comitê de Política Monetária realizada cerca de três semanas atrás, marcada pela manutenção da taxa básica de juros em 6,50% ao ano.
Também não parece que pouco menos de duas semanas atrás o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, emitiu uma declaração afirmando que não se pode trocar inflação sob controle por crescimento econômico, quando questionado por repórteres sobre a possibilidade de novos cortes na taxa básica de juros para estimular a economia.
Mesmo com uma clara sinalização de manutenção da taxa básica de juros por parte da autoridade monetária, o mercado voltou a criar expectativa de novos cortes. Alguns números que estão circulando pelas mesas de operações são, inclusive, muito ousados considerando a circunstância atual, apontando para uma taxa Selic de apenas 5,5% ao ano no futuro.
Se por um lado não existe uma razão forte e unânime no mercado a favor do início de um novo ciclo de afrouxamento monetário, por outro diversas justificativas estão ressurgindo para alimentar a tese pró-afrouxamento.
Alguns afirmam que o simples anúncio do pacto entre os Três Poderes em prol da volta do crescimento é suficiente para melhorar o balanço de riscos para a inflação, abrindo espaço para cortes na taxa Selic. Outros defendem que a possibilidade de aprovação da reforma da previdência é elevada, o que já seria motivo para o Banco Central voltar cortar a taxa básica de juros. Também existem aqueles que insistem enxergar necessidade de corte na taxa Selic como forma de combater o fraco crescimento, mesmo com o Roberto Campos ressaltando que isso pode provocar apenas um vôo de galinha, filme mais do que repetido no passado.
As teses são confusas, mas, talvez, nenhuma delas seja a principal razão do forte movimento de queda nas taxas de juros futuros nestes últimos dias. As curvas estão fechadas no mundo inteiro, conforme ressaltado no post O Strike do FED, e nestes últimos dias a agressividade do movimento aumentou.
A taxa de juros do título do tesouro norte-americano mergulhou novamente nesta terça-feira, alcançando 2,26% ao ano, distanciando-se das mínimas registradas em 2018 e 2019. O mercado é comprador de taxa no mundo inteiro e a intensidade deste movimento aumentou ainda mais.
Entretanto, no Brasil, este movimento é observado como uma aposta em novo corte na taxa Selic e não por mero reflexo do fluxo global. Mesmo na imprensa especializada, basicamente só se houve falar em drivers internos responsáveis pela queda dos juros futuros, o que não deixa de ser uma forma de fazer pressão para que, de fato, a taxa básica de juros realmente seja cortada no futuro.
Nenhum banqueiro central deseja que o mercado se desloque na direção contrária da estratégia de política monetária. No entanto, por enquanto, é exatamente isso que ocorre no Brasil. Conforme pode-se notar no gráfico acima, o contrato de juros futuros com vencimento em 2020 está pagando 6,30% ao ano, renovando mínima histórica, inferior a taxa Selic atual.
Corrigir o rumo do mercado pode custar caro, quando procrastinado, e criar volatilidade nos preços dos ativos. Mesmo que não esteja aparentemente no desejo da autoridade monetária neste momento, estudar um cortezinho a mais de 0,25 p.p. na taxa Selic pode parecer tentador, só para não azedar o clima no mercado e, também, por tabela, otras cositas más.
Afinal, o que representa 0,25 p.p. a mais ou a menos de juros neste país? Se a sua resposta for nada, está de acordo com o que se propaga por aí, porém errada. É verdade que não mudou muita coisa na economia desde quando a taxa Selic começou a ser cortada dos 14,25% para 6,50%. Mas um fator essencial do ponto de vista fiscal mudou, a sua LFT (Tesouro Selic) está entregando um retorno bem menor comparado ao que você estava acostumado a receber do governo no passado não muito distante.
Para um bom entendedor, meia palavra basta. A folga fiscal mais fácil de ser produzida já começou faz tempo, caro investidor.
Para uma assessoria personalizada e gratuita, clique aqui e agende uma reunião! Você receberá uma ligação minha, no dia e horário determinado.