A terça-feira foi marcada por mais um dia de pânico em Wall Street. As frequências de picos de volatilidade aumentaram drasticamente no mercado financeiro norte-americano desde o mês de outubro, estendendo-se para o mês de dezembro com força ainda maior.
A briga pela média móvel simples de 200 períodos diária no S&P500 segue implacável desde a primeira tentativa de rompimento descendente registrada em outubro. Fortes candles de alta e de baixa revezam ao redor da média, sinalizando intensa disputa entre players de mercado na ponta comprada contra players na ponta vendida.
O primeiro round do mês de dezembro começou com reação da força compradora, superando na última segunda-feira a referida média móvel. Porém, nesta terça-feira, o mercado levou um cruzado dos ursos em contra-ataque surpresa. Uma pancada derrubou o S&P500 para os 2.700 pontos, voltando a deixar o índice acionário abaixo da importante média móvel simples de 200 períodos diária.
Com o movimento de hoje, pode-se notar uma rara formação de topo triplo ao redor da média móvel mais acompanhada do mundo, mantendo a tensão em Wall Street para os próximos dias/semanas.
O movimento observado no mercado de ações pode ser mera consequência do fechamento agressivo na taxa da Treasury de 10 anos (título do tesouro norte-americano com vencimento para 10 anos) e dos comentários em torno de um possível flattening, onde a taxa de juros da Treasury de 2 anos superaria a taxa de juros da Treasury de 10 anos.
É fácil entender porque o mercado teme tanto o flattening. Todas as recessões ocorridas desde 1975 foram precedidas por inversão na curva de juros futuros, com a ponta curta (Treasury de 2 anos) superando a ponta longa (Treasury de 10 anos). Portanto, as taxas são acompanhadas de perto pelo mercado, estão presentes em vários sistemas de asset allocation por parte das gestoras de recursos e até mesmo nos modelos de liberação de crédito de bancos comerciais (afinal de contas, nenhum banco vai liberar crédito facilmente em momento de crise ou pré-crise).
Importante destacar que o simples fato de a Treasury de 2 anos pagar mais do que a Treasury de 10 anos pode acionar um alarme para vários agentes do mercado financeiro, mas não significa, necessariamente, recessão à vista. O movimento exige estudo e o caso atual apresenta uma peculiaridade. Conforme pode-se notar no gráfico abaixo, a taxa da Treasury de 2 anos, espinha dorsal do flattening, não está em trajetória ascendente, mas sim lateralizada, com uma leve correção desde o pico registrado em novembro.
Não significa que os atuais 2,80% pagos na Treasury de 2 anos estão em nível adequado (de fato, deixaria o governo e o FED mais confortável caso estivesse ao redor de 2%), mas a inclinação atual não apresenta continuação do movimento de rali observado entre o final de 2017 até meados de 2018. O rali perdeu força, formou pico e se transformou numa congestão de curto prazo.
A interrupção na trajetória ascendente da Treasury de 2 anos mostra que o mercado está confortável no patamar atual, não exigindo mais prêmio em relação ao praticado nos meses anteriores. Seria negativo caso o mercado estivesse cobrando mais prêmio da Treasury de 2 anos, o que poderia caracterizar um flattening clássico.
Outro ponto a ser considerado está no agressivo fechamento da curva da Treasury de 10 anos. Nesta terça-feira, a taxa de juros do título soberano norte-americano de 10 anos fechou o pregão pagando 2,91% ao ano, muito abaixo do pico registrado em 3,24%, sinalizando forte onda compradora.
Alguns fatores explicam o surgimento do grande apetite do mercado pela Treasury de 10 anos: (i) receio com a desaceleração do crescimento global, empurrando investidores para segurança da Treasury; (ii) FED pressionado por Trump e alguns analistas a não subir “tão rápido” a federal funds rate; (iii) entendimento de que o nível neutro de juros está se aproximando nos Estados Unidos, o que poderia sinalizar fim do ciclo de aperto monetário em 2020; (iv) forte reversão nas apostas sobre a inclinação da curva, estopando posições vendidas de longa data.
Independente do motivo, fato é que o mercado está comprador em Treasury, porém com mais peso na ponta longa, talvez pela perspectiva de aproximação do juro neutro. Com os investidores mais confortáveis sobre a trajetória de longo prazo da federal funds rate, houve redução das incertezas e abertura de janela para comprar juros futuros de ponta longa, ao invés da curta, onde o risco é bem menor.
Com o fim dos programas de quantitative easing, o dinheiro parou de brotar do chão do mercado e, agora, precisa sair de algum lugar para chegar em outro. A onda de sell-off no S&P500 pode ser mero reflexo da inversão na trajetória da taxa da Treasury de 10 anos, antes aberta, agora fechada. Ou seja, players podem estar liquidando suas posições (ou parte delas) em ações para comprar títulos da dívida soberana norte-americana.
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