Apesar de não existir, neste momento, ameaça de recessão, o crescimento econômico global pode estar perdendo a pujança do passado recente. As novas e importantes projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional) para o PIB não são animadoras.
A instituição anunciou redução de 3,9% para 3,7% na sua projeção de crescimento da economia global, tanto para 2018, quanto para 2019. O motivo da revisão negativa começa pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, onde os impactos começarão a ser mais nítidos a partir do ano que vem.
O PIB dos Estados Unidos tende alcançar 2,9% este ano, mas deve recuar para 2,5% em 2019. Na China, o PIB deve alcançar 6,6% este ano, ritmo muito abaixo dos velhos tempos de 10% ao ano, por sinal uma das principais válvulas de impulso ao crescimento de grandes economias exportadoras de commodities, como a nossa. Em 2019 os chineses devem crescer 6,2%, registrando mais um pequeno e preocupante mergulho.
Além da disputa comercial entre Estados Unidos e China, afetam o crescimento global desempenhos abaixo do esperado alcançados por economias como Japão e Reino Unido. Especialmente sobre os mercados emergentes desarrumados (como Turquia, Argentina, Indonésia, México, África do Sul e, sim, Brasil) existe pressão negativa adicional por conta das crescentes taxas de juros em títulos de renda fixa de baixo risco.
Na Turquia, por exemplo, o PIB vai praticamente zerar este ano (projeção de 0,4%), muito abaixo do crescimento de 3,5% alcançado em 2017. Na Argentina, importante parceiro comercial do Brasil, o caso é ainda mais dramático. Após registrar crescimento de 2,9% no ano passado, a economia argentina deve fechar este ano com recessão de 2,6%.
Outra situação delicada na Argentina está com o crescente endividamento do BCRA (autoridade monetária local). Numa tentativa desesperadora de conter a inflação e frear a fuga de capitais, o Banco Central da Argentina está pagando pouco mais de 70% ao ano aos investidores que compram Leliqs (títulos da dívida de curto prazo).
A cada nova venda de Leliqs, os passivos do BCRA aumentam substancialmente e os economistas locais já começam a se incomodar com o custo da dívida contraída pelo BCRA e sua capacidade de honrar com os compromissos no futuro. Se a estratégia do BCRA não funcionar nos próximos meses (ou seja, se a taxa câmbio continuar subindo e o humor no mercado continuar ruim), uma bolha de Leliqs impagáveis poderá estourar a médio e longo prazo na Argentina.
A imprensa brasileira evita entrar muito a fundo sobre o desesperador cenário macroeconômico argentino no momento atual, até porque estamos em período eleitoral e não faz sentido desviar o foco de nossos problemas estruturais graves (apesar de pouco debatido na campanha). De qualquer forma, além de solucionar os nossos sérios problemas, principalmente da ordem fiscal, temos de torcer por um desfecho menos traumático possível na Argentina.
O Brasil não soube pegar devidamente a carona do fortalecimento da economia global. Enquanto o PIB mundial crescia ao ritmo de 4% ao ano, patinávamos para sair de um longo período recessivo. Agora, com revisões negativas no global, resolvemos surfar a mesma onda.
Continuamos expert em cenários de desaceleração. Nesta série não perdemos nenhuma onda. A projeção do PIB brasileiro para este ano recuou para miseráveis 1,4%, razoavelmente inferior a última projeção do FMI de 1,8% para 2018. A projeção para 2019 está em 2,4%, também inferior ao levantamento anterior. Considerando o nosso longo histórico de frustrações negativas de crescimento, temos de comemorar muito se o FMI acertar a projeção para 2019.