A temida fase de normalização da política monetária norte-americana está oficialmente com data pré-determinada para acabar. O processo de redução do balanço do FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos) e aumentos da FFR (Federal Funds Rate – taxa básica de juros norte-americana), que até o final de 2018 era projetado para durar por vários anos, estendendo-se para a próxima década, foi totalmente revisto.
A partir de agora o FED não pretende elevar a FFR e, mais surpreende, definiu uma data para acabar com a estratégia de desalavancagem financeira. Foi discutido na reunião de Comitê desta terça e quarta-feira o nível adequado para o balanço da autoridade monetária e participação nos títulos, o que levou a uma forte revisão da estratégia a ser executada daqui pra frente.
O Banco Central dos Estados Unidos se mostrou preocupado com a atual fase de transição da política monetária e decidiu desacelerar o ritmo de queda do balanço nos próximos meses até interrompê-lo totalmente em setembro/2019.
A partir do mês de maio o FED vai resgatar (permitir o vencimento) apenas 15 bilhões de dólares em títulos do Tesouro dos Estados Unidos, bem inferior ao ritmo atual de 30 bilhões de dólares/mês. Entre o mês de maio a agosto, o FED vai continuar reduzindo o ritmo de resgates até que SOMA (System Open Market Account) se estabilize em setembro.
Isso significa que o balanço da autoridade monetária vai continuar extremamente elevado (muito acima das expectativas do ano passado) e seu tamanho não vai mais contrair a partir de setembro/2019, pelo contrário. A partir de outubro de 2019, os juros a serem recebidos dos títulos em posse do FED serão reinvestidos em títulos do Tesouro dos Estados Unidos, até um limite máximo de 20 bilhões de dólares por mês.
Em outras palavras, o FED não somente estará interrompendo a redução de seu balanço, acreditando que a política monetária está devidamente normalizada para as condições do balanço de risco atual, como voltará aumentar seu balanço através das novas compras de títulos do Tesouro a serem realizadas a partir do mês de outubro deste ano.
Conforme pode-se notar no gráfico acima, o balanço da autoridade monetária norte-americana acaba de perder a marca psicológica dos 4 trilhões de dólares, atualmente em 3,971 trilhões. Com a nova estratégia traçada na reunião desta terça e quarta-feira, é possível que o balanço do FED pare de cair e alcance ponto de equilíbrio na faixa de 3,8 trilhões de dólares, ainda muito acima do nível observado no pré-subprime, aos 900 milhões de dólares em títulos.
Alinhado à interrupção do processo de desalavancagem do balanço, a FFR tende a se manter estável durante todo este ano. A mediana das novas projeções dos membros do FED mostram que a expectativa para a FFR no final de 2019 caiu de 2,9% para 2,4%. Para 2020, as projeções apontam FFR em 2,6%, uma pequena expectativa de elevação técnica que talvez não vá ocorrer, já que a última projeção para FFR em 2020 era de 3,1%.
O gráfico de pontos que mostra cada projeção dos membros do FED revela claramente uma ancoragem das expectativas para a taxa básica de juros ao redor de 2,5% ao ano, nível praticado atualmente.
A interrupção do processo de redução do balanço, bem como expectativa de manutenção da FFR, sinaliza forte mudança na estratégia do FED, colocando um fim precoce ao processo de normalização das condições monetárias.
O movimento é positivo para os ativos de risco, seja em países emergentes ou desenvolvidos, pois manterá o sistema financeiro global extremamente líquido, reduzindo riscos de fugas de capital ou grandes estresses em praças financeiras. Consequentemente, a taxa de juros da Treasury de 10 anos já demonstra uma curvatura bem diferente dos últimos anos, operando fortemente fechada, com queda de 0,71 beats (de 3,25% ao ano para 2,54% negociados atualmente).
Entretanto, a reação imediata do mercado foi de pequeno temor em função da forte guinada na estratégia de política monetária do FED. O movimento surpreendeu, e muito. O cavalo-de-pau certamente não ocorreu por acaso e está justificado por algum temor, seja com desaceleração do PIB global, acirramento das disputas comerciais, Brexit, excesso de dívida corporativa (efeito colateral dos juros baixos) ou mesmo com o aumento do risco de recessão no futuro. Pesquisas apontam que os empresários norte-americanos estão começando entrar em modo defensivo, estratégia normalmente observada em períodos de retração econômica. Porém, o mercado ainda não recebeu sinal concreto de recessão à vista na economia norte-americana.
A mudança pode deixar os investidores/operadores mais agitados no curto prazo. Por outro lado, caso os eventuais riscos sondados por alguns analistas/economistas, que estão deixando o FED, BCE, BoJ e Banco Popular em modo bem mais dovish não se materializem, o clima no mercado pode voltar a ficar positivo, já que as estratégias dos banqueiros centrais aumentam as chances de proporcionar sustentação aos preços dos ativos de risco.
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