O que era para ser mais um rotineiro reajuste nos preços dos combustíveis, conforme política de paridade com os preços no mercado internacional, se tornou mais uma novela dramática para a Petrobras, ainda machucada pelas intervenções inadequadas do governo Dilma.
Tudo começou na tarde desta última quinta-feira, quando a Petrobras havia anunciado que aumentaria, a partir do dia seguinte (sexta-feira, dia 12/04/2019), em 5,74% o preço médio do diesel vendido nas refinarias. Com isso, o valor médio do litro do diesel passaria dos atuais R$ 2,1432 para R$ 2,2662.
Contudo, na noite da quinta-feira do dia 11/04/2019, a Petrobras desistiu de aumentar o preço do diesel nas refinarias. O recuo da empresa ocorreu após uma ligação do presidente da República Jair Bolsonaro com Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras. Sabe-se lá qual foi o teor da conversa telefônica, mas se especula, com a devida razão, aos quatro cantos do país, que Bolsonaro determinou o cancelamento do reajuste no preço do diesel.
O mercado reagiu muito mal ao evento, penalizando fortemente as ações da companhia na última sexta-feira. Houve uma espécie de trégua nesta segunda-feira, em função da reunião do presidente da Petrobras com Bento Albuquerque (Minas e Energia), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Paulo Guedes (Economia), Joaquim Levy (BNDES), Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo) e Floriano Peixoto (Secretaria-Geral).
O mercado esperava que, no meio de tantas figuras de peso relevante, iria surgir uma espécie de bombeiro para apagar o incêndio destes últimos dias. Mesmo sem nenhuma medida concreta, uma simples mensagem de transparência ou ordem na casa poderia acalmar o mercado. Mas não foi o que aconteceu, ao menos por enquanto.
O próprio presidente da Petrobras concedeu algumas declarações controversas. A começar, Cabello Branco disse que no encontro desta segunda-feira não se discutiu o preço do combustível. Parece difícil acreditar, já que voltou a se discutir preço dos combustíveis até com populares na padaria da esquina. Tantos ministros de peso reunidos e não houve discussão sobre o assunto que toma conta do noticiário político e econômico?
Pressionado por repórteres a respeito do que se pode esperar sobre os preços dos combustíveis, se o aumento poderia ser reativado, ou não, Castello Branco disse que é uma decisão empresarial, que a Petrobras é livre e que precisamos ter paciência. As respostas não responderam as perguntas, além de estranhas, pois decisões foram tomadas na última quinta-feira.
Essa postura sinaliza possibilidade de indefinição sobre o tema. Se o presidente da Petrobras não é capaz de responder perguntas deste tipo, é possível imaginar que o governo está interferindo na gestão. Nenhuma outra autoridade/ministro deu entrevistas após a reunião desta segunda-feira.
O próprio comunicado emitido pela Petrobras na noite de quinta-feira, quando voltou atrás na decisão, é controverso. A empresa afirmou que “em consonância com sua estratégia para os reajustes dos preços do diesel divulgada em 25/03/2019, revisitou sua posição de hedge e avaliou ao longo do dia, com o fechamento do mercado, que há margem para espaçar mais alguns dias o reajuste no diesel.”
Em 26/03/2019 a Petrobras avisou que os preços do diesel serão reajustados, a partir daquela data, por períodos não inferiores a 15 dias. Com isso, a empresa abandonou o formato usado desde 03/07/2017 que previa reajustes com maior periodicidade, inclusive diariamente, caso necessário.
O último reajuste havia ocorrido no dia 22/03/2019, quando o barril de petróleo do tipo Brent era negociado ao redor de 68,00 dólares, conforme pode-se notar no círculo azul do gráfico abaixo:
Atualmente, o barril do Brent é negociado aos 71,18 dólares. O dólar contra real está praticamente no mesmo patamar comparado ao do último reajuste. A diferença de preço do barril entre 22/03/2019 (data do último reajuste) para os preços atuais é bem parecida com o aumento de preço anunciado na última quinta-feira. Logo, por parte do mercado, não há motivo para segurar o reajuste.
Toda essa história já virou uma novela muito mal contada. Voltam a surgir burburinhos no mercado sobre intervenção estatal na Petrobras, gerando clima de desconfiança não somente para os acionistas da empresa, mas também para toda a economia. Alguém precisa aparecer logo para esclarecer toda essa confusão e colocar ordem na casa, caso contrário o ambiente no mercado tende a se manter hostil.
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