A histórica segunda-feira do dia 20 de abril de 2020 será mais um caso para entrar na lista de violentos crashs ocorridos no mercado financeiro global, em função da queda brusca do Petróleo.
Todo ativo negociado no mercado corre o risco de, algum dia, colapsar. Isso não ocorre somente com ações ou títulos da dívida pública e privada, mas também com moedas, imóveis, ouro, prata e até flores.
O primeiro crash da história
Aconteceu a partir da intensa especulação com as tulipas. Apesar disso, os crashs mais comuns ocorrem com as ações de empresas abertas negociadas em bolsas de valores, justamente por conta da atração maior de volume e quantidade de investidores/especuladores (fator essencial para criação de irracionalidade de preços), além do fato de que algumas empresas possuem ciclos de vida relativamente curtos.
Durante toda a história, o barril de petróleo possuía a imagem de certa blindagem contra crashs, até porque os maiores produtores globais da commodity estão localizados em zonas de instabilidade geopolítica. Até então, os eventos traumáticos de petróleo ocorriam com choques ascendentes de preço.
Crash do petróleo
O mercado quebrou mais um paradigma, mostrando novamente sua soberania.
Pela primeira vez na história, o E futuro de vencimento mais próximo do barril de petróleo WTI (tipo light, negociado nos Estados Unidos) entrou num violento crash. A força vendedora foi tão forte que o contrato não respeitou o preço zero e chegou a ser negociado em terreno negativo.
O contrato WTI negativo para o mês de maio simplesmente significa que os vendedores dos contratos futuros da commodity estavam pagando para que os investidores/players fiquem com esses contratos e assumam com os custos de logística e armazenamento dos barris de petróleo.
Estratégia errada dos produtores de petróleo?
O crash no contrato futuro do WTI exacerbou a situação insana observada nos meses anteriores.
Mesmo diante de uma queda expressiva da demanda pela commodity desde o surto do coronavírus, grandes players produtores mantiveram o ritmo de extração com objetivo de esmagar concorrentes de custo mais alto e aumentar market share através do excesso de oferta.
A tática de ganhar mercado vendendo no prejuízo para esmagar alguns concorrentes não é tão incomum nos tempos modernos de juros reais negativos. Existe muita liquidez fluindo nos mercados de ações e de crédito, o que permite as empresas operar com caixas robustos (captação muito fácil e barata) e aumentar o risco do business.
Acordo ineficiente
O acordo de corte de produção de 9,7 milhões de bpd (barris por dia) firmado alguns dias atrás pelo grupo conhecido como Opep+ chegou tarde demais para frear a irracionalidade no segmento de petróleo e gás.
Além do delay no timing, muitos traders de petróleo afirmam que os cortes são insuficientes para se adequar a queda de cerca de 30% na demanda.
Consequentemente, o armazenamento de petróleo subiu significativamente nos últimos meses. A Agência de Informação de Energia dos Estados Unidos havia reportado recentemente que os estoques haviam alcançado 55 milhões de barris, ante uma capacidade máxima estimada de 76 milhões de barris.
Como ficam os contratos de petróleo agora?
Todos os contratos futuros de petróleo WTI que não são encerrados na data de vencimento pelo pregão na bolsa de valores precisam ser liquidados a partir da entrega física dos barris no núcleo logístico de Cushing, no estado americano de Oklahoma. Como os contratos futuros de petróleo possuem grande número de especuladores sem condições de operar entrega física, houve o colapso nos preços.
Poucos especialistas em petróleo apareceram para comprar os contratos futuros barganhados no pregão, justamente por conta da perspectiva de esgotamento da capacidade máxima de estocagem dos barris. Constituíram-se, assim, todos os elementos básicos para que o mercado de petróleo entrasse num violento crash.
Nesta terça-feira, o pânico predominou no mercado de petróleo, mesmo com o vencimento dos problemáticos contratos futuros do mês de maio. Os contratos mais próximos do vencimento negociados neste momento são os barris de WTI para o mês de junho.
Durante a tarde desta terça-feira, o barril de WTI para junho abriu o pregão em torno de 21,00 dólares, mas chegou a ser negociado aos 6,60 dólares na parte da tarde, conseguindo retornar posteriormente para 13 dólares, o que ainda é um patamar de preço extremamente baixo comparado ao histórico dos últimos anos/décadas.

Petróleo Brent
Já o barril de petróleo do tipo Brent, negociado em Londres, apesar de possuir outra dinâmica de extração e estocagem (com a utilização de navios tanque), o que libera mais espaço físico, está sendo contaminado também pelo crash, até porque permanece o problema de excesso de oferta global.
O contrato futuro do barril do Brent para o mês de junho abriu o pregão ao redor de 25,00 dólares, chegou a mergulhar para 17,50 na parte da tarde e ainda luta para tentar recuperar o patamar psicológico de 20,00 dólares/barril.
O preço do barril do Brent é utilizado como referência para vários produtores globais, inclusive a Petrobras.
Considerando o preço atual, abaixo de 20,00 dólares/barril, vários poços de extração seriam fechados, já que a operação não resultaria em lucro para as companhias.
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Problema para os EUA
Esse problema é mais grave ainda para os produtores norte-americanos, que operam com um custo maior. Várias companhias de petróleo e gás norte-americanas já estavam lutando para evitar a falência quando o preço do barril WTI perdeu o patamar de 40 dólares.
Aos 10 dólares no WTI, quase toda indústria poderá sumir do mapa deixando efeitos colaterais arrasadores na economia.
Não por acaso, o governo dos Estados Unidos corre para formular mais um plano de injeção fiscal, como foco nas indústrias petroleiras, para que possam continuar operando, honrando dívidas e mantendo os milhares de empregos. Estima-se que existem mais de 200 bilhões de dólares em empréstimos concedidos ao setor de energia lastreados em reservas de petróleo e gás.