Pegou muito mal o atrito entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com o presidente da República, Jair Bolsonaro. A prisão e soltura, num curtíssimo espaço de tempo, de um ex-presidente da República também causa estranheza, arranhando a imagem do país com os investidores, principalmente estrangeiros. Também não desceu bem a confissão de Paulo Guedes, sobre um problema de comunicação no ambiente político para articulação da reforma da previdência. Entretanto, as discussões pouco produtivas sobre o dia a dia da política no bananal vão ter que ficar para outro post.
Pode até ser prato cheio para imprensa local explorar audiência ao máximo possível, mas considerando nosso histórico, nada até agora surpreende. Grande parte dos investidores/operadores, principalmente players de mercado, tem ciência disso. O que tem feito o mercado balançar nos últimos dias não está, somente, na política do bananal, mas, principalmente, no deslocamento das taxas de juros dos títulos do tesouro norte-americano, considerada espinha dorsal do sistema financeiro mundial.
É sempre importante ressaltar que vários gestores de fundos de investimento do mundo inteiro acompanham de perto o spread entre a Treasury de 2 anos com a Treasury de 10 anos, simplesmente porque todas as recessões ocorridas desde 1960 foram precedidas por inversão clássica na curva, ou seja, taxa de juros de 2 anos em ascensão, superando a taxa de juros de 10 anos. No mercado, esse movimento é conhecido como flattening.
Um prêmio mais elevado na ponta curta (2 anos), comparado ao prêmio menor praticado na ponta longa (10 anos), normalmente é considerado uma sinalização relevante de alerta. Seja por um risco negativo iminente ao cenário macroeconômico (virada para recessão, por exemplo), seja por um risco de reação dos preços dos ativos supostamente desenquadrados dos fundamentos, na avaliação do mercado, o que provoca correção.
Atualmente, a Treasury de 2 anos está pagando 2,26% ao ano, enquanto a Treasury de 10 anos está pagando 2,43% ao ano. O spread entre ambas as taxas está em apenas 0,17%, atipicamente curto. Entretanto, uma espécie de prévia do que pode acontecer no futuro assustou investidores/operadores do mundo inteiro.
Nesta semana, a taxa de juros da Treasury de 3 meses superou a taxa de juros da Treasury de 10 anos. Isso significa que o mercado está exigindo mais prêmio para emprestar ao governo norte-americano por um prazo de 3 meses do que para um prazo de 10 anos. Para os Estados Unidos, captar dinheiro com prazo de 10 anos sai hoje mais barato do que captar dinheiro com pagamento para daqui há 3 meses.
A prévia de flattening entre a Treasury de 3 meses versus Treasury de 10 anos é considerado um sinal moderado, pois a taxa de juros do título de 3 meses segue aberta, colada na máxima, aos 2,46% (linha preta no gráfico abaixo) após uma forte arrancada iniciada em 2016, enquanto a taxa de juros do título de 10 anos segue fechada, despencando no mercado, aos 2,43% (linha pontilhada no gráfico abaixo), abrindo um GAP de movimento entre ambas das Treasuries.
Observar o Tesouro norte-americano pagar mais caro nas emissões de 3 meses, comparadas às emissões de 10 anos, certamente não soa bem para nenhum investidor/operador experiente no mercado, ou mesmo pode sugerir algum sinal de problema macro no horizonte, por conta disso o ambiente nas principais praças financeiras mundiais está mais pesado.
Por outro lado, não é uma sinalização de fim do mundo, ou talvez nem alcance o nível de gravidade esperado. Por conta disso é importante tomar ar/fazer uma pausa, antes de chegar a conclusões precipitadas. A Treasury de 3 meses segue aberta, porém ancorada na meta para a FFR (Federal Funds Rate – taxa básica de juros norte-americana). Não está por cima, nem por baixo da FFR, ou seja, o mercado paga na Treasury de 3 meses a meta atual da FFR, o que é considerado um movimento natural.
Já a taxa da Treasury de 10 anos, que chegou alcançar 3,24% no final do ano passado, sofreu forte ajuste por parte do mercado, passando operar fechada, atualmente em 2,43%. Esse movimento foi provocado pelo próprio FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos), que descartou qualquer possibilidade de novas altas na FFR, ao contrário de três elevações de 0,25 p.p. que se esperava até dezembro/2018.
Houve, portanto, uma guinada na política monetária do banco central norte-americano que forçou ajuste do mercado nas taxas praticadas principalmente nas pontas longas, onde o risco é mais elevado e as expectativas são mais sensíveis. Com o FED cravando alvo na FFR a 2,50%, não faz sentido assumir risco de apostar contra a autoridade monetária vendendo Treasury de 10 anos a 3,00%. Por conta disso, houve o ajuste na ponta longa, passando a operar comprada.
No patamar atual, pode-se considerar que a Treasury de 10 anos está, agora, comportada no alvo do FED. Uma análise diferenciada poderá ser feita caso a Treasury de 10 anos se distancie muito dos 2,50%, seja para baixo ou para cima, neste caso acrescentando o risco de flattening clássico. Entretanto, enquanto continuar oscilando nesta região de 2,50%, o susto pode ser pequeno/temporário.
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