O presidente da China, Xi Jinping, havia alertado no mês de janeiro deste ano que a economia do país estava enfrentando riscos imprevistos, num primeiro sinal de que as condições adversas enfrentadas no ano passado iriam se estender ou mesmo piorar neste ano.
O discurso de Xi Jinping passa uma falsa ideia de que a desaceleração do crescimento chinês estava fora do script do mercado. A perda de ritmo de crescimento da economia chinesa é um processo antigo/longo e que tem forçado o governo reduzir sua meta de crescimento ano após ano.
Na reunião anual do Parlamento, o primeiro ministro Li Keqiang anunciou aos 3.000 deputados do Partido Comunista presentes na sessão que a China vai encarar uma batalha para defender o PIB. Neste ano o discurso foi mais forte, já que a meta de crescimento a ser alcançada em 2019 foi reduzida para 6% a 6,5%, inferior aos 6,6% registrados em 2018 e a menor em quase 30 anos.
Para alcançar a meta de crescimento em 2019, já considerada muito baixa para os padrões históricos, a China vai realizar uma bateria de medidas de estímulo ao crescimento. A meta de déficit orçamentário deste ano será de cerca de 2,8% PIB, ou 2,76 trilhões de yuans (equivalente a 411 bilhões de dólares), superior ao déficit de 2,6% PIB registrado ano passado. A receita orçamentária deve crescer 5% neste ano, porém a meta é subir os gastos em 6,5%.
Somente em encargos corporativos, a China vai cortar quase 2 trilhões de yuans. O imposto sobre valor agregado para as empresas vai cair de 16% para 13% em 2019. Os empréstimos dos bancos estatais para as pequenas e médias empresas devem crescer 30% neste ano. A China também vai emitir 2,15 trilhões de yuans em bônus de governos locais para fomentar os investimentos em infraestrutura.
Estas medidas fiscais de estímulo ao crescimento possuem objetivo central de impulsionar a criação de 11 milhões de novos empregos em 2019 e limitar a taxa de desemprego nas áreas urbanas em 5,5%.
Além da flexibilização fiscal anunciada nesta semana, a reunião anual do Parlamento vai prosseguir nos próximos dias para discutir novas medidas de impulso ao crescimento ou que possam aliviar a tensão comercial com os Estados Unidos. Entre a principal pauta (não somente para os Estados Unidos, mas para o mundo inteiro) está a reformulação da lei sobre investimento estrangeiro, impedindo a transferência de tecnologia atualmente imposta às empresas estrangeiras para entrarem no mercado chinês.
Considerando o ambiente global mais adverso, a reforma tributária de Donald Trump, aprovada em 2017, marcada por um agressivo corte de impostos, pode ter sido um movimento precipitado na época (já que não havia sinais de desaceleração), impulsionado por uma agenda de campanha, mas que se mostrou economicamente correto pouco tempo depois com a perda de ímpeto da economia global.
Atualmente os ajustes feitos na economia norte-americana estão partindo apenas do FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos), que decidiu parar de subir a FFR (Federal Funds Rate – taxa básica de juros norte-americana) neste ano, ao contrário das três elevações de 0,25p.p. esperadas ano passado, além de iniciar as discussões sobre o ponto de interrupção do programa de desalavancagem do balanço (já se sabe que ficará muito acima dos níveis registrados em 2008).
A Europa, para variar, está demorando para tomar mais uma decisão importante. Desta vez, no necessário contra-ataque ao processo de desaceleração do crescimento. Conforme pode-se notar no gráfico abaixo, o Índice Gerente de Compras da zona do euro está derretendo.
Neste mês de fevereiro, o indicador caiu para 49,3 pontos, entrando em terreno de contração da atividade manufatureira, muito distante dos 60 pontos registrados ano passado. O ritmo de deterioração é muito significativo e se assemelha ao movimento provocado pelo impacto da crise da dívida na zona do euro, o que, na época, forçou o BCE (Banco Central Europeu) adotar uma série de medidas estimulativas.
O tombo da atividade industrial aumenta a pressão sobre a reunião do BCE a ser realizada nesta quinta-feira, onde economistas e analistas europeus já esperam que alguma medida ou mudanças de planos na estratégia de política monetária será anunciada pela autoridade monetária na intenção de proteger a economia contra o atual movimento de contração da atividade.
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